Por volta das três da tarde, finalmente consegui parar de pensar na mensagem do Wanderer tempo suficiente para elaborar uma resposta decente. Tinha passado o dia inteiro com aquelas palavras ecoando na minha cabeça - "uma boa conversa... essa é mais rara" - e cada vez que relia, ficava mais impressionada com a elegância da frase.
Digitei e apaguei várias respostas antes de me decidir por algo que soasse natural mas inteligente:
"Adorei a referência ao Raymond Burr! E concordo completamente sobre conversas serem mais raras que encontros casuais. Que tal fazermos assim: cada um tem direito a dez perguntas, e se no final descobrirmos que somos compatíveis, marcamos um encontro? Você topa esse jogo?"
Enviei antes que perdesse a coragem e passei o resto da tarde tentando me concentrar no trabalho, mas verificando o telefone a cada quinze minutos.
A resposta chegou por volta das cinco:
"Ideia brilhante! Dez perguntas é o suficiente para descobrir o essencial sem estragar toda a surpresa. Posso começar?"
"Claro! Fique à vontade."
Fiquei esperando uma pergunta típica sobre idade, profissão, ou se eu morava sozinha - o tipo de coisa que todo homem em aplicativo quer saber logo de cara. Em vez disso, recebi:
"Se você tivesse que escolher uma música para representar um café perfeito numa manhã chuvosa de Londres, qual seria? E por quê?"
Parei de respirar por um segundo. Que pergunta era essa?
Não era sobre dados pessoais ou informações práticas. Era... artística. Poética. O tipo de pergunta que alguém faria se realmente quisesse entender como minha mente funcionava, não apenas coletar fatos sobre mim.
Pensei por alguns minutos antes de responder:
"'Clair de Lune' do Debussy. Tem aquela melancolia suave que combina com chuva, mas também uma elegância que eleva o momento. E o café teria que ser brasileiro, claro - um blend de montanha, doce o suficiente para não precisar de açúcar, mas com aquela acidez sutil que te acorda completamente. Por que essa pergunta?"
"Porque qualquer um pode saber sua idade ou profissão te procurando nas redes sociais. Mas a forma como você conecta música, clima e sabores diz muito mais sobre quem você realmente é. E pela sua resposta, imagino que você entende que os melhores momentos são feitos de detalhes."
Meu coração deu uma cambalhota. Como alguém havia criado uma pergunta tão perfeita? E como a resposta dele conseguia ser ainda melhor?
Estava digitando minha primeira pergunta quando Margaret apareceu na porta da nossa sala.
— Anne, desculpe interromper, mas você pode dar uma olhada nestes relatórios antes de amanhã? — ela disse, segurando uma pasta grossa. — Os investidores franceses querem uma análise detalhada do mercado brasileiro antes da próxima reunião.
— Claro, Margaret. Pode deixar aqui.
Coloquei o telefone de lado, tentando me concentrar nos documentos. Mas era difícil focar em análises de mercado quando minha mente ainda estava processando aquela conversa. Havia algo na forma como Wanderer escrevia que me deixava curiosa, como se cada palavra fosse escolhida cuidadosamente.
— Você está radiante hoje — Bianca comentou, olhando para mim por cima da tela do computador. — Aconteceu alguma coisa?
— Talvez — sorri, folheando os relatórios. — Lembra do Wanderer?
— O cara misterioso do aplicativo? O que ele fez agora?
— Começamos um jogo. Dez perguntas cada um para ver se somos compatíveis.
— Interessante. E que tipo de pergunta ele fez?
— Sobre música e café. Especificamente, que música representaria um café perfeito numa manhã chuvosa.
Bianca franziu a testa.
— Essa é... específica. E estranha.
— Eu achei inteligente. É diferente das perguntas óbvias que todo mundo faz.
— Ou é o tipo de pergunta que alguém faz quando está tentando soar mais interessante do que realmente é.
Depois que Bianca saiu, o escritório ficou silencioso. Era estranho como o lugar parecia diferente depois do horário comercial - mais vazio, mas também mais íntimo de alguma forma. Consegui terminar o resto do trabalho em paz, sem interrupções ou distrações.
Quando finalmente arrumei a mesa para ir embora, eram quase nove da noite. Peguei o telefone para checar se havia resposta, mas a conversa continuava no mesmo ponto. Talvez Wanderer também tivesse tido um dia corrido no trabalho.
No caminho para casa, no metrô, me peguei pensando na pergunta que havia feito. Reviver um momento apenas observando... era uma pergunta íntima, que poderia revelar muito sobre uma pessoa. Que momento ele escolheria? Algo feliz, como uma conquista importante? Algo triste, como uma despedida? Algo do passado distante ou recente?
E qual seria minha resposta se ele fizesse a mesma pergunta? Provavelmente escolheria algum momento com minha família, quando éramos todos mais jovens e as coisas pareciam mais simples. Ou talvez... talvez escolhesse reviver aquele voo para Londres, para entender melhor o que havia acontecido entre mim e Nate.
Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Era exatamente esse tipo de reflexão que me metia em problemas - analisar demais, criar conexões onde não existiam, procurar significados ocultos em situações simples.
Quando cheguei em casa, fiz um sanduíche rápido e me instalei no sofá com uma taça de vinho. O telefone continuava silencioso, mas não me incomodava tanto quanto achei que incomodaria. Na verdade, havia algo agradável na antecipação, na curiosidade sobre o que ele responderia.
Por volta das dez horas, enquanto assistia a um documentário qualquer, o telefone finalmente vibrou.
Era uma notificação do aplicativo.
Peguei o celular com o coração acelerado e abri a mensagem:
"Que pergunta difícil... Acho que escolheria reviver o momento em que descobri minha paixão pela música. Estava numa livraria antiga, quando ouvi alguém tocando piano no andar de cima. A música era tão linda que subi para ver quem estava tocando, e acabei passando três horas conversando com um velhinho sobre Chopin. Foi quando percebi que música não era só som - era emoção transformada em arte. E você? Qual momento escolheria?"
Sorri para a tela. A resposta era poética sem ser pretensiosa, pessoal sem ser íntima demais. Havia algo na imagem dele numa livraria antiga, procurando partituras, conversando com um estranho sobre música clássica, que parecia... autêntico.
Mas ao mesmo tempo, a resposta levantava mais perguntas. Ele tocava piano? Compunha música? Trabalhava na área musical? Quanto mais eu descobria sobre Wanderer, mais curiosa ficava.
Talvez Bianca estivesse certa sobre eu ser romântica demais. Mas talvez, dessa vez eu tivesse encontrado alguém que valia a pena o romantismo.
Só havia uma forma de descobrir: continuar o jogo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário (Kayla Sango )
Cadê o restante do livro? Parou no capítulo 449....
Estava lendo sem pedir para comprar com moedas, e desde o capítulo 430 já não consigo mais. Fiquei bem chateada!...
A melhor foi a história da Zoey e Christian mesmo. Foi a mais emocionante....
Site tá uma porcaria cheio de propagandas que não tinha antes, atrapalhando a leitura....
21984019417...
Alguém mais está dando erro nos capitulos 426, 427 e 428?...
Cadê o capítulo 85 🥲...
Queria o final. Como faço?...
O meu travou no 406, mais as moedas estão sumindo...
O meu travou no 325...