Cap. 101 Culpado.
— Foi você quem mandou ela me levar pra lá? — perguntei, de repente, encarando Rodrigo com um peso diferente na voz. — Só porque a sala tem gravação sem precisar de senha?
Ele arregalou os olhos, surpreso pela pergunta.
— Eu… mandei por proteção. Queria garantir que ela estivesse segura. Mas eu não vi nada, só fiquei perto da porta, ouvindo, caso houvesse algum barulho estranho. Além disso, você pode se certificar: eu não ousei ligar as câmeras. Até porque eu peguei vocês em uma situação bem íntima no corredor. Você é louco... nunca pensei que um sonâmbulo poderia beijar e agarrar alguém. Mas eu juro pela minha vida que não sei o que vocês fizeram lá, só sei que ficavam muito tempo.
Assenti, baixando os olhos, constrangido.
Voltei a fita. Dei play na primeira noite.
E quando a imagem surgiu... meu corpo inteiro enrijeceu.
Ela estava sentada comigo no sofá. Eu... eu a puxava para o meu colo com naturalidade. Intimidade. As mãos passavam pelas pernas dela com uma delicadeza que era quase reverência. Brincavam com os dedos dela. Com a cintura. Com a curva do quadril. Eu sussurrava algo, mas o microfone não captava.
Então veio o beijo.
Profundo. Íntimo. Desesperado e calmo ao mesmo tempo. Como se eu estivesse... me afogando e ela fosse a única respiração possível.
Meus dedos se fecharam com força no braço da cadeira. Rodrigo, Jacy e Donovan ficaram em silêncio absoluto atrás de mim. A pipoca esquecida no colo.
Me virei de leve, sentindo a pele queimar de constrangimento.
— Saiam! — gritei, com a mão na tela, ao ver o quanto ela estava exposta com aquela camisola curta, montada no meu colo. Aquilo nem cobria mais nada. Eles saíram às pressas, e finalmente eu estava sozinho assistindo aquela cena.
Eu me vi beijando Aurora como se ela fosse minha, minhas mãos no tecido fino e minúsculo da camisola, era como se eu tivesse plena consciência de cada toque, cada gemido contido.
Mas eu não lembrava de nada.
Quando percebi, minha mão foi até a tela. Toquei o vidro como se pudesse alcançar aquele momento. Como se, de algum modo, pudesse extrair dele uma resposta.
— Eu... — tentei dizer algo, mas não havia palavras.
Como era possível desejar tanto algo que não se lembrava de ter vivido? Como era possível ter vivido tanto com alguém e não saber?
Me afastei da tela, o coração disparado, os pensamentos em espiral.
Eu não sabia se estava mais apavorado pelo que fiz enquanto dormia... ou pelo que estava começando a sentir acordado.
Fiquei ali, parado, com o olhar preso à tela como se fosse uma janela para outra realidade. Uma em que eu existia, mas não estava acordado. Onde meu corpo se movia, agia, desejava… sem que minha mente pudesse impedir.
Rodrigo, Jacy e Donovan já tinham ido embora. E graças a Deus por isso. Eu não aguentaria ver aquelas próximas cenas com testemunhas. Porque o que vi em seguida… me arrancou o chão.
A imagem mostrava eu indo até o quarto dela, que saiu às pressas ainda usando apenas um roupão. Ela mal teve tempo de se trocar. Céus... aqueles dois dias em que ela só estava me colocando na cama e eu a acusando de assédio.
Fomos para aquele mesmo quarto. Entre tantas coisas, agora eu estava de pé, com aquele olhar perdido e o corpo relaxado. Aurora estava ali, de costas, com um roupão leve cobrindo o corpo. Ela parecia desconfortável. Falava algo que não dava pra ouvir, indo até a porta, voltando e olhando ao redor, desesperada. E eu querendo agarrá-la. Como eu posso ter tanto desejo por alguém? Me senti um desesperado.
E então... eu a puxei.
Minha respiração parou.
Na gravação, vi minhas mãos puxando o laço do roupão, abrindo-o com naturalidade, mas de forma acidental. Ela ficou... nua. Ali. Diante de mim.
Quase caí da cadeira.
— Merda... — murmurei, levando a mão à boca, pasmo.
Mas não parava por aí. Vi meu eu dormindo segurá-la com força. Intenso. Como se estivesse prestes a devorá-la.
E, naquele segundo, meu estômago virou com o beijo.
— Puta merda! — resmunguei, envergonhado, quando minhas mãos contornaram seus seios. Eu fiz isso? Como eu posso não lembrar? Eu sou um ferrado!
Ela disse algo. Simples. Direto. Um comando.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.