Cap. 102 guarde segredo
Depois de assistir tudo, me sentei por alguns minutos na sala escura, tentando entender em que ponto exato perdi o controle de mim mesmo. Não só fisicamente. Mas moralmente. Psicologicamente. Emocionalmente.
Passei a mão pelos cabelos, tentando conter a raiva de mim mesmo.
Levantei.
Sabia o que precisava fazer.
Saí da sala e fui direto atrás deles — Rodrigo, Donovan e Jacy. Os três estavam na cozinha, rindo de alguma bobagem qualquer. Aquela leveza comum deles… Entrei, e o silêncio caiu como uma lâmina.
Eles me olharam, sérios. Talvez até esperando que eu explodisse.
Mas eu não explodi.
— Preciso que vocês guardem segredo sobre tudo isso… por enquanto.
Donovan foi o primeiro a falar, baixando o olhar como se aquele pedido não fosse nada.
— Claro. Se é isso que você quer…
Rodrigo assentiu. Jacy apenas fez que sim com a cabeça.
Parei à frente deles, cruzando os braços. Meu tom foi mais duro agora.
— E antes que pensem que isso é só sobre mim… escutem bem. — Respirei fundo, encarando os três. — Ainda bem que eu descobri isso a tempo. Porque o que eu estou fazendo com a Aurora… mesmo sem consciência… é errado.
Os olhos de Rodrigo se estreitaram um pouco, preocupado.
— Andrews…
— Eu estou invadindo o espaço dela. A privacidade dela. — Continuei. — Toquei nela… de formas que ela não pediu. E ela deixou, talvez pensando que era minha doença. Talvez por pena ou porque sente algo. Mas em algum momento… ela pode se magoar. E se eu não acordasse? E se eu… passasse dos limites de verdade?
Minhas mãos se fecharam em punhos.
— Ela estava sempre no controle. Se ela não quisesse seu beijo, nunca teria acontecido. Ela gosta de você, e é por isso que ela está de volta aqui. Mesmo que você tivesse sido um ogro, tudo que aconteceu, ela mesma consentiu.
— Mas não eu… Aurora nem mesmo tinha beijado ninguém na vida dela…
— Mas ela beijou a pessoa certa. O marido dela. Então não é errado. Além do fato de que ela mesma gostava de te ver.
— Eu posso comprovar que ela pode ter se magoado.
— Pode ser, já que você nunca se lembra.
— Se eu tivesse ido além e tirado algo tão importante dela… eu não me perdoaria.
O silêncio deles era o suficiente pra esmagar qualquer outra palavra.
— Hoje à noite — disse com firmeza — eu vou trancar a porta do quarto. Só por precaução. Se eu não for até ela, ela não vem até mim.
— Tudo bem — Donovan respondeu, a voz baixa. — É uma boa ideia.
— Vamos manter tudo entre nós — Jacy garantiu. — Até você decidir o que fazer.
Rodrigo me observou por um segundo. O jeito dele sempre foi o mais direto, mas dessa vez… ele pareceu entender o quanto isso estava me abalando.
— Você se importa com ela, né?
Demorei um instante antes de responder. Olhei para o lado. Para baixo. Para qualquer lugar, menos os olhos deles.
— Me importo tanto… que tenho medo de machucá-la por causa de algo que eu mesmo causei quando tomei aqueles remédios sem consentimento médico, sendo que eu já tinha sido proibido.
Falei mais baixo:
— Medo de ser exatamente o homem que eu prometi pra mim mesmo que nunca seria com nenhuma mulher… e ser exatamente com ela. Depois de tudo que ela passou.
Me virei para sair.
"Só quero uma chance de entender tudo isso. De colocar as coisas no lugar… sem machucar ninguém. Principalmente ela."
E então fui embora.
Caminhei em silêncio pelo corredor.
Eu precisava ter certeza.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.