Cap: 103: porta trancada me dá raiva.
À noite, esperei por ela no estacionamento. Avisei que estaria ali. Ela franziu o cenho ao me ver parado, recostado no carro.
— Você estava mesmo me esperando? Pensei que só me traria... — comentou surpresa.
— Claro. Só não te levei nos outros dias por estar um pouco ocupado, mas podemos — respondi, sorrindo como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Hey! — De repente, ouvi um grito distante, e quando olhei — assim como Aurora, que já encarava assustada — um homem de boné e capuz avançou na nossa direção.
— Não! — A puxei, virando para o lado oposto para que ela não fosse atingida pela lâmina. Esperei o golpe... mas o que veio foi diferente. Não sei como, mas Aurora jogou seu corpo para o lado, puxando o meu. Foi tão rápido que o homem passou direto, tombando para a frente, e parou com a navalha vindo em nossa direção.
— Aurora! — gritei, tentando puxá-la quando ela tomou a frente, mas ela me empurrou com tanta força que bati contra a porta do carro e caí. E o homem... apenas um pontapé, e ele foi parar quase do outro lado da pista. A faca caiu a alguns metros. Ele se levantou com a mão na costela, sentindo dor, e saiu correndo. Não posso correr, mas com a força que percebi que ela tinha... eu deveria assinar a carta de divórcio e libertá-la.
— Andrews! Você está bem? — perguntou preocupada, enquanto os seguranças da empresa vieram rapidamente, seguindo o homem que fugia.
— Claro... mas aquele homem queria te matar. O que pensou que estava fazendo?
— Me matar? — ela riu com deboche. — Eu não sou ninguém, senhor Andrews. A verdade é que você tem muitos inimigos. E ainda, há alguns dias, você demitiu o diretor e o líder de equipe... são cargos grandes, querendo ou não. Você é sempre o alvo. Até mesmo se eu for o alvo, é porque você é quem deve ser atingido. Eles nem sabem quem eu sou! — asseverou com dureza, como se agora se importasse.
— Você parece de mau humor. Aconteceu algo?
— Comigo? — perguntou com um ar debochado e mal-humorado. Sinceramente, me pergunto se é por causa da porta trancada. Não sei por que pensei nisso. — Eu estou ótima, senhor Andrews!
— Por que continua me chamando de senhor Andrews? — perguntei, incomodado.
— É assim que devo te chamar, já que sou sua subordinada.
Aurora está lindamente irritante... eu deveria me aproveitar disso.
— Ok... você está certa. Como foi a noite? Você sonambulou por aí?
— Eu não sei. Você me viu? Ah... é, não veria, já que estava com a porta trancada. Que bom que trancou! — percebi ela endurecer a mandíbula, e sorri com a confirmação. Quer dizer que ela gostava de se encontrar com um sonâmbulo?
— Tinha que ficar trancada. Estou percebendo o quanto você é sem vergonha. Entre no carro. Os seguranças ainda estão procurando o homem que tentou nos atacar — avisei, com meu olhar ainda fixo nela.
Ela hesitou, mas entrou no carro. Durante os primeiros minutos, o rádio preenchia o silêncio. A cidade passava pelos vidros como um borrão. Ela se mantinha distraída, olhando para fora, inclinada, como se quisesse distância. Ao mesmo tempo, percebi que ela parecia viver uma nostalgia.
Então eu me aproximei devagar e discreto.
Apoiei uma das mãos no volante… e a outra, deslizei suavemente até repousar sobre a coxa dela, de forma proposital.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.