Esposa impostora e o Magnata Sombrio. romance Capítulo 107

Cap. 106 Discórdia mais amor.

Acordei com a luz do sol atravessando as janelas do quarto, banhando meu rosto com um calor suave. Por um instante, achei que ainda estava preso em algum sonho, daqueles confusos, vagos, que parecem durar para sempre. Mas a dor na nuca foi rápida em me lembrar da realidade. Definitivamente, eu não estava sonhando. Nunca imaginei que existisse outra forma de me fazer dormir além dos meus remédios. Mas aquela… foi dolorosa demais. E, por mais absurdo que pareça… Valeu a pena. A lembrança da noite anterior ainda pairava sobre mim como um véu quente e denso, impregnado na pele, nas emoções, nos pensamentos. As palavras dela, os olhos assustados, o toque trêmulo, o jeito como me empurrou antes de tudo desmoronar... nunca pensei que ela poderia ser monstruosamente forte, mesmo eu sendo quase duas vezes maior que ela. Eu merecia. Cada centímetro daquele empurrão e golpe por não ter dito logo, quando já tinha a certeza. Talvez até mais. Mas, mesmo assim, não consegui, nem por um segundo, tirá-la da cabeça. Aurora.

— Até que, para alguém que desmaiou me dando um baita susto, você está bastante primaveril, não é? — escutei a voz dela me acordando de meus pensamentos, me fazendo desmanchar o sorriso.

Me ergui um pouco na cama, sentindo o peso da pancada ainda latejando na base da cabeça. Ela estava de pé próxima à cômoda, colocando um pouco de água no copo, ao lado de um bule de café. Caminhava devagar, passos silenciosos, quase inseguros, trazendo a bandeja com as duas mãos. E havia algo nela, naquele olhar que evitava o meu, que me fez prender a respiração. Era a primeira vez que ela entrava ali de forma tão… voluntária. E estava linda, ainda na mesma camisola de ontem. Ela se arrumava todas as noites, e meu coração queimava só de pensar que era exatamente para mim. Mais ainda com aquela vergonha disfarçada e a coragem escondida nos detalhes.

— Trouxe café... — ela murmurou, colocando a bandeja sobre a mesinha ao lado da cama.

— Obrigado... — respondi com a voz baixa, rouca de sono e sinceridade.

Ela hesitou, e então se sentou na beirada da cama, bem ao meu lado. Ficou ali, em silêncio, os dedos inquietos entrelaçando-se sobre o colo. Parecia procurar coragem em algum lugar dentro de si.

— Rodrigo me contou tudo. — ela disse, por fim. — Ele já sabia… que você é sonâmbulo.

Assenti devagar, como se admitir aquilo de novo pesasse ainda mais agora.

— Eu sinto muito, Aurora — falei, buscando seu olhar. — Por todas as vezes que invadi seu espaço. Que te toquei sem saber… ou mesmo quando comecei a perceber e fiz aquilo ontem.

Fechei os olhos por um segundo, engolindo a culpa.

— Eu nunca quis te ferir. Nunca.

Ela sorriu. Um sorriso tímido, pequeno… mas devastador. Porque foi real.

— Eu sei. — respondeu, sem levantar a cabeça.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando me recompor.

— Isso não vai mais acontecer. De verdade. Mas… também seria mentira dizer que tudo foi só sonambulismo. Porque… depois de um tempo… eu comecei a sentir algo. Por você...

Ela ergueu os olhos, me encarando, e naquele olhar havia fogo, vulnerabilidade, e uma coragem que eu nunca tinha visto igual. Meu coração acelerou.

— E agora...? — ela perguntou, de repente. — O que você vai fazer?

Franzi a testa, confuso.

— Como assim?

Aurora mordeu o lábio inferior com firmeza. E quando respondeu, sua voz era certeira, firme.

— Você queria se responsabilizar por um beijo… Mas agora tem muito mais com o que se responsabilizar.

Aquelas palavras me atravessaram como uma lâmina quente. Não era acusação, mas uma cobrança. Foi mais rápido do que eu pensava. Ela não desviou o olhar. Não recuou. Não sorriu.

Só… esperou.

— Bom... nada mais que minha obrigação. Eu me responsabilizo pelos meus atos e assumo a culpa e, em conjunto, assumo você. — confessei, estendendo a mão para ela, e ela timidamente colocou a mão dela sobre minha palma.

Devagar.

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