Cap. 121: tramando uma noite perfeita.
O sol ainda nem havia subido completamente quando Rodrigo estacionou em frente à universidade. Alice já estava ali, pontual como sempre, encostada em uma das colunas da entrada. Os braços cruzados, os olhos fixos no relógio e o semblante impaciente.
— Sempre com cara de quem vai bater em alguém — comentou Rodrigo ao se aproximar, oferecendo um café que trouxe para ela.
Alice arqueou uma sobrancelha.
— E você sempre com esse sorriso irritante, como se o mundo fosse uma comédia romântica. O que está pensando em fazer? Eu te disse que não tenho tempo.
— Você fala como se fosse alguém importante. Sinto que você deve ter tomado meu lugar — ele brincou. — Mas descanse, hoje você está com a manhã de folga. Vamos tornar esse dia importante para sua amiga e meu amigo. Está bem?
— Eles deveriam fazer isso por eles mesmos, mas já que são tão cabeça dura, eu darei meu melhor hoje, Aurora! — Alice disse com determinação.
Rodrigo riu, mas seus olhos se demoraram nos dela por um segundo a mais.
— Você parece animada agora.
— Se eu fosse ela, eu seria a mocinha que nega tudo, mas no final cai de amores pelo cara errado, que seria Andrews.
— Bom... você pode fazer essa encenação comigo. Eu sou bom em atuar, se quiser se divertir. Sem compromisso — ele disse como quem não quer nada.
— O que foi isso? Tentativa disfarçada de cantada? — rebateu, pegando o café mesmo assim.
Ele deu de ombros.
— Só tô dizendo que tem algo em você que me intriga. Queria te levar a um lugar… só nós dois. Mas sei que você vai dizer que temos que focar no caso do Andrews.
— Exatamente — respondeu ela, sem hesitar. — Estamos perdendo tempo. Temos que preparar o apartamento. Aurora e Andrews precisam de um lugar seguro, um ninho de amor, para que eles possam se entender e ficarem ainda mais próximos.
Sem mais palavras, ela entrou no carro, e Rodrigo a seguiu com um sorriso torto no rosto.
O apartamento secreto ficava em um prédio de luxo, no último andar. Era um dos refúgios mais discretos e bem guardados de Andrews, um local que quase ninguém sabia que existia. Rodrigo digitou a senha no painel escondido ao lado da porta, e eles entraram.
Alice parou no meio da sala, os olhos vagando pela decoração impecável. Uma parede inteira de vidro revelava uma vista deslumbrante da cidade. Havia uma hidromassagem no canto da varanda e cortinas automáticas por todo o espaço.
— Isso aqui parece cenário de filme — comentou ela, caminhando em direção à varanda. — Quem diria... o senhor controle absoluto precisava se esconder.
Rodrigo a observava, os braços cruzados.
— Talvez porque às vezes até ele precisava de um lugar onde pudesse ser ele mesmo. Andrews tem seus espaços secretos. Eu, particularmente, amava trazer algumas de minhas...
Ele parou de falar, constrangido.
— Algumas de suas parceiras? Algumas? O que era que você tinha ou tem? Um harém? — Alice perguntou, sem reação.
— Isso foi há alguns anos. Eu já não estava no país fazia meses. Não fiz mais isso. Sem falar que Andrews descobriu e ficou com nojo, então redecorou tudo. Eu fui um sacana mesmo, tudo bem! — ele confessou, desconfortável com o olhar de julgamento de Alice.
Alice não respondeu, apenas se concentrou na organização, agora vendo as caixas com os materiais de decoração que Rodrigo havia encomendado.
Eles começaram a arrumar tudo e, com base em uma foto da internet de um espaço romântico, tiveram uma base do que fariam.
Alice congelou por um segundo e, então, agiu por instinto.
Com um movimento rápido, torceu o pulso dele com toda a força que tinha e, com uma joelhada em sua barriga, o jogou para o lado. Rodrigo grunhiu de dor e caiu com a mão pressionando o pulso, o rosto ainda contra o chão e os joelhos dobrados.
— Droga, você é louca?! — ele reclamou, rindo apesar da dor, mas seu riso era de descrença.
— Desculpa! Eu… me assustei — disse Alice, ainda ofegante, sem saber onde enfiar o rosto. — Você... me pegou de surpresa e ainda tentou me beijar. Você é um desgraçado atirado.
— E você quase me quebrou — Rodrigo tentou se sentar. — Acho que vou precisar de um médico. Ou de um analgésico bem forte, que merda...
Alice passou a mão pelo rosto e suspirou, visivelmente frustrada consigo mesma ao ver o pulso dele visivelmente fora do lugar.
— Tá. Eu levo você. Mas para de me provocar assim, Rodrigo. Eu reajo no automático, eu não consigo lidar... — ela comprimiu os lábios como quem queria chorar.
Ele a olhou de lado, ainda sorrindo mesmo com dor.
— Talvez esse seu "automático" seja só medo. Eu fui impulsivo, está bem? Eu sinto muito em te tratar como as outras garotas — ele confessou, se levantando ainda tentando conter a dor.
Alice desviou o olhar.
— Medo não. Apenas foco. Vamos terminar de preparar isso aqui, e depois te levo ao hospital. Você tem que cuidar disso. Mas já estamos quase no fim, já que à noite eles têm que estar aqui.
Rodrigo não respondeu. Mas havia algo em seu sorriso… como se, mesmo com o pulso torcido, ele tivesse conseguido exatamente o que queria: entrar um pouco mais no coração daquela mulher blindada.

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