Cap. 122. drama de um apaixonado.
O corredor do hospital estava silencioso, exceto pelo zumbido distante dos aparelhos e o som abafado de passos apressados. Rodrigo estava sentado na maca, o braço imobilizado por uma tala provisória, enquanto Alice permanecia de pé à sua frente, os braços cruzados e o olhar firme, quase inabalável.
— Eu já pedi desculpas, não sei quantas vezes — ela disse, com a voz contida, mas decidida. — Foi reflexo. Instinto. Não fiz por mal.
Rodrigo a encarava, ainda confuso com o rumo daquela manhã.
— Eu entendi isso. O que eu não entendi foi... todo o resto.
Alice desviou os olhos, respirou fundo.
— Rodrigo, você é... divertido. Charmoso até. Mas eu não tô interessada em ninguém. Eu simplesmente... não funciono desse jeito.
— Como assim “desse jeito”?
Ela deu um passo para trás, mantendo distância.
— Relacionamentos, aproximações, qualquer coisa que envolva mais do que cooperação profissional. Eu não sei lidar com isso. Nem quero.
O silêncio que se seguiu foi mais incômodo do que qualquer dor no pulso dele. Rodrigo piscou algumas vezes, tentando processar.
— Você tá me dizendo que me quebrou o pulso e o coração antes mesmo de me dar uma chance?
Ela não riu da piada. Talvez nem fosse uma piada.
— É melhor assim — Alice concluiu, simples, direta, como quem fala sobre trocar os pneus de um carro. — Eu sou um problema ambulante. E você parece já ter problemas o suficiente com Andrews, que parece ser bem mais problemático. Além disso, o que um homem da sua classe poderia querer com alguém como eu? Praticamente, se eu morrer, posso até ser considerada indigente.
— Bom... uma pessoa como eu pode te dar um nome. Assim, quando você morrer, ninguém te tratará como indigente — ele disse, e Alice o encarou sem reação, contorcendo o rosto.
— Era merda pra ser romântico?
Antes que Rodrigo pudesse responder, uma enfermeira jovem se aproximou, segurando uma prancheta em uma mão e um papel dobrado na outra.
— Senhor Rodrigo? Aqui estão suas instruções. E… meu número, se quiser companhia pra uma próxima torção de pulso — disse ela, com um sorriso atrevido.
Alice percebeu o flerte. Onde ele ia, parecia haver um flerte.
Ela apenas olhou a cena, impassível. Em seguida, virou-se e começou a caminhar pelo corredor com passos firmes, sem hesitar, sem olhar para trás, sem demonstrar nenhum incômodo.
Rodrigo ficou ali, imóvel por um instante, olhando para o número na mão, depois para a porta por onde Alice havia sumido.
— Como assim? — murmurou para si mesmo, ainda em choque.
Passou a mão pelos cabelos, frustrado.
— A menina que eu me interessei me deu um pé na bunda, me quebrou o pulso e foi embora como se nada tivesse acontecido... antes mesmo de eu tentar alguma coisa?
Jogou o papel da enfermeira sobre a maca com um suspiro exasperado.
— Que droga de azar é esse? Você tem cheiro de desafio, minha querida Alice, e eu não vou desistir até entrar no País das Maravilhas.
Após ele ter alta, mesmo contrariada, Alice insistiu em levar Rodrigo até em casa. Depois de muita teimosia dele e alguns suspiros impacientes dela, ele ficou surpreso ao perceber que ela sabia dirigir — e muito bem. Os dois pararam diante de um prédio residencial moderno e discreto, no centro da cidade.
Rodrigo desceu do carro com certa dificuldade. Ou melhor, com um toque dramático a mais do que o necessário.
— Você mora aqui? — ela perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Claro. Não parece? — Ele apontou para a fachada com o queixo e soltou um sorrisinho cínico. Afinal, até onde ela sabia, ele estava na mansão de Andrews. Por que agora estava indo a um apartamento?
Alice não respondeu, mas seus olhos eram como raios-X. Ela não acreditava em nada daquilo. E, de fato, ele não morava ali. Aquele era só um prédio onde conhecia o porteiro de vista. Na verdade, ainda vivia na ala leste da mansão de Andrews, mas jamais admitiria isso para Alice. Ainda não.
— Na verdade, não é um problema. Aurora pensa em ter filhos?
— Não sei. Nunca falamos de família. Mas ela sabe disso sobre o Andrews?
— Não sabe... Vamos almoçar e seguir para a empresa. Temos que terminar nosso plano.
— Quantos dias vai ficar no quarto que você alugou?
— Até melhorar. Você tem que se responsabilizar pelo nosso bebê.
— Seu idiota! Eu deveria ter quebrado as suas bolas.
— Não... isso não. Vou me comportar — ele disse, se afastando dela.
Eles almoçaram juntos e, com a folga que só ele conseguia ter, ainda fez com que Alice o alimentasse e cuidasse dele. Já na empresa, Rodrigo arquitetava seu plano com precisão cirúrgica.
No grupo interno, mandou uma mensagem para Aurora:
“Reunião de última hora com o investidor japonês. Hotel Riviera, sala 1305. Leve os contratos e o portfólio atualizado. É confidencial, por favor, vá sozinha.”
Aurora estranhou. Rodrigo nunca falava com tanto formalismo. Mas a mensagem vinha do canal oficial da empresa, e ela sabia da importância de causar boa impressão.
Enquanto isso, Rodrigo trocava mensagens rápidas com Andrews:
Rodrigo: “Tudo pronto no apartamento. Luz suave, velas, flores, playlist romântica. Confia em mim. Só aparece.”
Andrews: “Isso é ridículo.”
Rodrigo: “Você disse que não sabia como se aproximar dela. Eu estou te entregando o palco montado. Só sobe e age. Sem falar que ela está saindo sozinha para um lugar tão longe... Você vai deixar?”

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