Capítulo 130 – A verdade que ninguém contou
A noite tinha sido longa. Silenciosa. Tensa.
Andrews pediu para que eu dormisse com ele. A voz calma, o olhar preocupado. Mas eu não consegui. Não depois da ligação. Não depois de ouvir aquela ameaça envenenada escorregando dos lábios de Janete como mel azedo.
— Eu só quero te proteger — ele disse, encostando o queixo na minha testa.
Mas proteção nem sempre significa liberdade. Fingi estar cansada. Fingi que dormiria melhor sozinha.
E antes do amanhecer, enquanto a casa ainda repousava sob a penumbra azulada da madrugada, eu escapei.
Peguei um carro por aplicativo. Coloquei o capuz sobre a cabeça, com óculos escuros. Fones no ouvido. Ninguém me veria. Ninguém me reconheceria. Principalmente, ele.
A cafeteria era longe. Pequena, escondida entre ruas que eu costumava evitar. Mas era o lugar que Janete escolheu. A mesma Janete que agora tentava reaparecer, como se nossas vidas não tivessem sido destruídas há muito tempo.
Ela já estava lá quando cheguei. Como sempre, impecável. Postura ereta, o olhar afiado demais para ser confortável. Parecia mais velha. Mais amarga. Mas ainda perigosamente persuasiva.
— Pensei que me enganaria de novo — ela comentou, cruzando as pernas com elegância ensaiada. — Mas que bom que veio. Precisamos conversar.
Sentei. Em silêncio. Os dedos tremendo sobre a xícara de café que eu não pretendia beber.
— Nada mal. Não é mais a mesma Aurora maltrapilha e malcriada que eu conheci no passado. Parece que fiz algo bom por você, não é? Como tem sido com Andrews? Pelas manchetes, vocês se tornaram um casalzão.
— Você disse que era importante — murmurei, desviando o olhar. Não quero falar de Andrews, nem do meu relacionamento.
Ela sorriu. Um sorriso fino, quase maternal.
— Você está com ele de verdade agora, não está? — perguntou. — Com o Andrews.
— Isso não importa.
— Importa sim. Porque agora eles querem se aproximar de você. Meu pai e até minha mãe. Porque você valorizou algo que eu descartei há muitos anos. Sabem que ele faz qualquer coisa por você. E isso te dá um certo... valor.
Fiquei em silêncio. Mas dentro de mim, uma tempestade. Raiva. Vergonha. Culpa.
— Então é por isso que me procurou? Pra me usar de novo?
Janete apenas balançou a cabeça.
— Não. Eu te procurei pra te contar a verdade. Ou pelo menos... parte dela. O restante eu deixo para sua própria interpretação.
Meus olhos encontraram os dela. E por um momento, senti como se voltássemos ao período em que eu fui até sua casa, como minha última opção em pedir ajuda. Eu precisei tanto do meu pai, mas eu malmente via ele, e tudo que encontrei foi minha meia-irmã e minha madrasta, que me fizeram trabalhar por poucos trocados naquela mansão, como se eu fosse uma escrava.
— O casamento — ela começou. — Você sempre achou que fui eu que fugi, e que você teve que me substituir porque eu não amava o Andrews. Que eu só estava usando ele, certo? Admito que estava errada desde sempre quanto a tudo que fiz com ele. Eu o traí, e depois fugi com outro alguém que destruiu minha família. Então começaram a surgir as notícias de que meu primeiro amor estava no topo entre os magnatas, que comandava tudo como um dos homens mais poderosos. Andrews conseguiu, orgulhosamente, conquistar o mundo. E eu... eu tinha a pressão de ter ferrado com minhas escolhas e queria tentar recuperar. Então me diga: como alguém que quer recuperar tudo acaba abrindo mão e obrigando a própria irmã mais nova a tomar seu lugar?
— Mas? Se você queria... por que me obrigou e me ameaçou? — perguntei, sentindo meu corpo virar uma gelatina.
— Andrews... ele sabia que era você quem ia estar no altar. Ele pediu por isso. Foi tudo teatro. Eu te obrigando para cumprir a vontade dele e ele tendo o que queria nas mãos por um valor de banana, afinal ele me ofereceu dinheiro por esse casamento, então podemos dizer que ele te comprou, aurora. Eu não te dei nenhum dinheiro e fugi porque sabia que isso um dia ia explodir. Mas o certo é que você só subiu naquele altar não porque eu te obriguei, mas porque, desde o início, Andrews queria você e te comprou.
O mundo pareceu parar.
— O que está querendo? Que eu comece a pegar dinheiro do Andrews pra te dar?
— Você é casada com ele. Isso não é problema. Afinal, família sempre se ajuda.
— Você está mesmo fazendo esse discurso pra mim? — perguntei, cética.
— Na verdade... eu sabia que você ia rejeitar, mesmo sabendo que Andrews estava apenas brincando com você. Mas se não fizer, ele também tem segredos seus que devem ser revelados. O que acha?
— Não se atreva a mexer nesse assunto. Não é da sua conta.
— Vamos ver se não é. Além disso, não é muito. Apenas faça isso e eu te deixo em paz. Você faz o que bem entender da sua vida. Você tem uma semana — avisou, em seguida me ignorando como se não quisesse ouvir nada do que eu tinha para falar.
Levantei da cadeira, tonta, com o coração esmurrando o peito como um prisioneiro em crise. Saí da cafeteria cambaleando, como se o mundo ao meu redor tivesse sido construído sobre mentiras e agora estivesse desmoronando.
Andrews... sempre soube? Ele mesmo armou esse casamento?
E então, meu celular vibrou. Uma mensagem.
"Onde você está, Aurora?"
Meu sangue gelou.
Como vou encará-lo sabendo disso? O que vou perguntar?

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.