Cap. 134: Janete e sua ação sombria.
Ele encarou Aurora como se aquilo o partisse mais uma vez enquanto era forçado a falar sobre aqui enquanto ela ouvia atentamente.
— Mas naquele mesmo dia… Janete me disse que ia embora, por mensagem.
Fez-se um silêncio profundo. Aurora não sabia o que dizer. A dor que viu no rosto dele era crua, real, uma ferida aberta que ele nunca deixara cicatrizar.
Andrews passou a mão no rosto, tentando controlar a fúria e o luto que transbordavam. Quando voltou a falar, havia em sua voz uma frieza amarga:
— Fiquei desesperado, porque ela estava levando tudo com ela, nem todo o dinheiro que eu tinha poderia compensar isso naquele momento.
A respiração de Andrews ficava cada vez mais pesada. Ele parecia lutar com o próprio corpo, com a lembrança sufocante que voltava como um pesadelo eterno. As mãos tremiam quando ele voltou a falar, a voz um fio rouco e quebrado.
— A mensagem… — ele murmurou, os olhos fixos em algo que só ele podia ver. — “Estou indo embora. Eu sinto muito. Estou deixando você e seu filho para trás.”
Ele riu, um som torto, arranhado, carregado de um desespero contido há anos.
— Eu não entendi o que aquilo significava. Eu achei que ela só… tinha desistido. Mas Rodrigo... Rodrigo me arrastou até o quarto que ela tinha usado pela última vez. Eu nem tinha começado a me recuperar de um golpe, mal conseguia andar. Pensei que nada podia me machucar mais.
Andrews parou. Um segundo de silêncio se transformou em eternidade. Os olhos dele brilharam com uma fúria desesperada, e então se apagaram com uma dor que Aurora nunca tinha visto em ninguém.
— O quarto… — ele continuou, e sua voz quase falhou — estava cheio de sangue.
Aurora engoliu um soluço. As palavras estavam sendo esculpidas em sua alma.
— No vaso… havia… — ele parou outra vez, a garganta apertando como um punho esmagando a vida. — Ela tirou a criança com remédios uma criança que já tinha seis meses e algumas semanas, um bebê... o nosso bebe. Ela matou nosso filho.
Ele não conseguiu mais. Levou as mãos ao peito como se algo estivesse se despedaçando dentro dele. A respiração virou um arquejo desesperado. Seu corpo cedeu e ele se debruçou sobre a mesa, escondendo o rosto nas mãos, como se não quisesse que Aurora visse o que restava dele. A dor escapava em ondas. Seu corpo tremia, e o som abafado de um choro contido ecoava pela sala silenciosa.
Aurora se manteve travada, em choque, com as mãos presas no colo, os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Ela não conseguia se mover, não conseguia respirar direito.
As imagens formadas por aquelas palavras cortavam mais que tudo ao imaginar aquela crueldade. Nunca, em nenhum momento, ela tinha imaginado que Janete poderia ter sido tão cruel, tão monstruosa. Aurora já tinha conhecido a dor… mas a dor de Andrews, naquela cena, era indescritível.
Ela não conseguia tocar nele se sentia culpada e envergonhada só porque fazer parte daquela família, ser parte do parentesco com alguém tão mal caráter.
E ele chorava. Chorava de forma silenciosa e devastadora, como se tudo o que tivesse lutado para manter de pé durante anos finalmente tivesse ruído.
O homem frio, duro, que todos temiam… naquele instante, era apenas um pai que havia perdido o que mais queria no mundo. Um homem que carregava a lembrança do sangue, do abandono, da traição e da culpa.
E diante dela, só restava uma pergunta:
— Eu deixo que fiquem com ela — continuou ele. — Quero que tenham para onde voltar. Quero que achem que ainda têm um pouco de dignidade. Assim… eu posso infernizar cada um deles por mais tempo. Quero que sintam o gosto da ruína… bem devagar.
Aurora o fitou com os olhos marejados. E ali, ela não viu só o homem que havia sido destruído… mas o homem que se reconstruiu com ferro e rancor. Que manteve viva a dor para nunca esquecer. E, naquele instante, o pensamento lhe atravessou o peito com brutalidade:
"Será que ele aceitou esse casamento só por vingança?"
Ela respirou fundo, lutando para manter a voz firme.
— Eu… eu sinto muito, Andrews — sussurrou, os olhos brilhando. — Sinto muito mesmo. Por tudo. Por saber que alguém da minha família fez algo tão cruel com você.
Ele desviou o olhar por um instante. A voz dele saiu rouca, cansada.
— Está tudo bem. Você não tem culpa disso.
Ela sorriu de leve, mas seu sorriso não chegou aos olhos.
— Está tudo bem... eu entendo tudo agora... — repetiu, mas era Mentira. Nada estava.
Ela queria acreditar nele. No homem que mostrou o coração partido momentos antes. Mas como confiar completamente num homem que ainda segurava o passado pelo pescoço com tanta força? Seus pensamentos a levaram ao inicio do casamento, sera que ele se casou com ela apenas como mais uma peça daquela família que ele queria castigar?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.