Cap: 143: uma historia escondida.
— Porque não é uma história que se conte com facilidade — ela começou, seu tom mais brando. — A mãe da Aurora... nunca foi feita para ser mãe. Era egoísta, desleixada, e usava a casa como um motel barato para os homens que apareciam, Aurora por sorte tinha sido descartada em um internato onde ficou livre de todas as coisas que sua mãe fazia, exceto o seu irmão mais velho, que ficou com sua mãe.
Andrews sentiu um aperto no peito. Havia algo na voz daquela mulher que doía mais do que as palavras em si, uma mistura de dor antiga e indignação que resistia ao tempo.
— Aurora, desde muito nova, teve que ser mais do que uma irmã, pelo menos assim que voltou do internato. Ela foi tudo o que aquela menina tinha. Virou mãe quando ainda tinha só 16 anos. E quando o padrasto começou a... — a tia parou, como se a próxima palavra queimasse a garganta — a rondar a menina com outros olhos, Aurora entrou em guerra.
Ela olhou Andrews nos olhos. Havia fogo ali.
— Ela fugiu. Largou tudo. Fez o impossível pra proteger a criança. Passou por tribunais, enfrentou assistentes sociais, dormiu em sofás emprestados. Lutava pela guarda com uma garra que você não vê mais por aí. E tudo isso... enquanto ainda tentava crescer.
Andrews apertou os punhos. O orgulho, antes tão grande, encolhia dentro dele como uma folha seca. Ele se sentia pequeno, estúpido, mesquinho por todas as dúvidas, as acusações, os julgamentos apressados.
— Aurora é boa, senhor Andrews — disse a tia, com uma convicção que não admitia réplica. — Boa de um jeito raro. Merecia ser vista. Merecia ser tratada com respeito pela mãe por ter carregado nas costas a responsabilidade que a mãe jogou nas costas dela quando voltou da reclusão.
Houve um momento de silêncio, onde só o som do vento passando pelas janelas preenchia o espaço entre eles.
Andrews ergueu os olhos lentamente. E, com um misto de angústia e confusão, sussurrou.
— Então... se a senhora sabe disso tudo... por que a trata daquele jeito? Por que tanto desprezo?
A tia o encarou por um longo tempo. Os olhos, antes duros, pareciam agora mais cansados do que frios. Quando respondeu, sua voz saiu baixa, quase como uma confissão.
— eu precisava... para defender o que ela ama e proteger ela é tudo que posso fazer por ela.
A tia de Aurora esboçou um sorriso triste, quase imperceptível, antes de puxar uma das cadeiras antigas e se deixar cair nela, como se o peso dos anos e da história a pressionasse para baixo.
— Não é desprezo, rapaz… — começou, num tom mais brando, quase resignado. — É desespero.
Ela inspirou fundo, como quem remexe em memórias difíceis, e passou a mão pelos cabelos grisalhos com um gesto cansado.
— O irmão da Aurora... ele é autista. Tem impulsos difíceis de controlar. Fugiu incontáveis vezes, levando a irmãzinha consigo, sempre em busca da Aurora, como se só ela fosse um porto seguro. Mas a Aurora… — ela hesitou, olhando para o entardecer do lado de fora — … não tinha um lar. Nem dinheiro. Nem sequer um quarto fixo onde pudesse criar duas crianças com ela, quando tudo aconteceu, ela veio em minha porta com eles dois me pedindo ajuda porque não conseguir cuidar deles e trabalhar e disse que em troca mandaria dinheiro das despesas deles, mas foi bem difícil cuidar dos dois, ainda mais com o mais velho decidido a sair daqui.
Seu olhar se perdeu por um instante, como se revivesse as noites insones de preocupação e decisão.
Mesmo que, no fundo, soubesse que talvez não merecesse.
No andar de baixo, Aurora estava sentada no sofá, imóvel, os olhos fixos em algum ponto indefinido da parede. Ao seu lado, seu irmão sorria, as pernas balançando suavemente, envolto por uma animação serena que contrastava com o nó preso no peito dela. O clima entre eles era mais leve do que ela esperava — quase doce — como um sopro de tranquilidade antes da próxima tempestade.
— Eu gostei do Andrews, sabia? — disse ele de repente, com aquele entusiasmo inocente que só ele sabia ter. — Ele é forte. Muito forte. Acho que ele pode te proteger de todo o mal, Aurora. Agora eu não preciso mais me preocupar em cuidar de você. Porque você já está sendo cuidada. Muito bem cuidada.
Aurora apertou os lábios com força, tentando conter as lágrimas que subiam, queimando a garganta como se quisessem dizer tudo o que ela ainda não podia.
— Eu não quero falar sobre ele — murmurou, desviando o olhar e se encolhendo um pouco, como se quisesse desaparecer dentro de si.
Mas o irmão, teimoso e cheio de amor, não se deu por vencido.
— Ele ama você. De verdade. Dá pra ver nos olhos dele, mesmo que seja um babaca idiota, eu prometo que vou apoiar vocês! — aurora riu dos comentários do irmão, mas não de empolgação, em sua mente já era tarde demais.
Aurora fechou os olhos por um instante, como se pudesse se proteger das palavras com um simples piscar. Mas elas já tinham entrado fundo, mexido em algo que ela lutava para manter enterrado.
Foi nesse momento que Andrews surgiu na porta, em silêncio. O som do carpete abafava seus passos, mas ele escutou — e sentiu — cada palavra. Um leve sorriso, carregado de esperança.

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