Cap. 149 Arrependimentos de Janete.
O mesmo café isolado, a mesma mesa de canto banhada por uma luz suave. E lá estava ela, uma visão de sofisticação fria e calculada. Impecável, como sempre. Um vestido de corte simples, mas de tecido caro, acentuando a cintura fina e insinuando curvas sem jamais vulgarizá-las. O decote discreto apenas atiçava a imaginação, uma armadura de elegância impenetrável.
Seus olhos encontraram os meus enquanto me aproximava, cada passo meu sendo minuciosamente avaliado por aquele olhar gélido, disfarçado sob uma máscara de superioridade. Era como se eu fosse um espécime sob sua lente de aumento, cada detalhe sendo registrado e julgado.
Entreguei o pacote sem qualquer preâmbulo, o papel de presente amassado em minhas mãos. Ela zombou, um som seco e breve, quando mencionei o cartão de crédito que Andrews me havia dado na noite anterior. Era como se a mera menção do nome dele fosse uma ofensa ao seu refinamento.
E então, aquele sorriso. Lento, calculado, enquanto seus olhos azuis gelados se fixavam nos meus. Era um sorriso que dizia mais do que palavras, um misto de escárnio e… talvez… uma ponta de curiosidade disfarçada. Era como se ela me visse como uma peça inferior em um jogo que só ela compreendia as regras.
— Você está aceitando que ele continue te comprando? — perguntou, com aquele tom envenenado.
— Não. Ele só está confiando em mim. Coisa que ele já não faz com você há muito tempo. — retruquei, inclinando o corpo para frente, com um meio sorriso. — Vai parar quando, Janete? Quando vai desistir dele? Ele não te ama mais.
Ela riu. Riu como se soubesse de algo que eu ignorava.
— Você está tão enganada, querida. Eu fui o primeiro e único amor do Andrews. Ele nunca será capaz de amar outra mulher como me amou.
Inclinei a cabeça, observando-a com um olhar quase piedoso.
— Mesmo após você ter matado o filho dele daquela forma tão desumana... e ainda ter fugido com outro?
A expressão dela congelou.
— Ele te contou? — perguntou, desviando o olhar, demonstrando desconforto.
— Contou. Não temos mais segredos entre nós. E estamos bem juntos. — falei com firmeza, enquanto os olhos dela brilhavam de raiva contida. — Engraçado é que você é sempre uma mentirosa. Inventou que ele me vendeu só para piorar a nossa relação. Qual é o seu problema? Já estou enfiada em um acordo que nenhum dos dois quer cancelar por causa dos prejuízos, e você ainda quer tornar tudo pior?
Ela sorriu de forma amarga.
— Parece que ele te contou mais coisas do que deveria, afinal... o que mais?
— Que você queria me vender. Que, no final, você é quem estava inventando coisas. Eu pensei que poderíamos ser boas irmãs. Quando entrei naquela mansão, quando te vi pela primeira vez, acreditei que toda a rivalidade entre nós poderia mudar. Mas você só mentiu e tentou me usar como objeto de troca para equilibrar a sua vida ferrada.
— Bom... ao menos deveria servir para algo, já que nosso pai te estima tanto. — disse ela, cruzando os braços e abaixando a cabeça.
— Me estima? Ele mal olha na minha cara, como se eu fosse um erro.
— Vai à merda! Um erro? O único erro aqui fui eu... eu estou cansada disso. Você é sempre a adorada, e mesmo na vida miserável está destinada a receber tudo, não é? Um homem que eu amo, que me enganou para se casar com você, e um pai falso que só mantém distância para te proteger. Aquele maldito só finge que me ama, mas sempre traiu minha mãe com a sua. Você nem deveria existir, se ele tivesse desistido da sua mãe quando se casou com a minha!
— Como assim? — perguntei, confusa.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.