Cap. 164 a felicidade cega.
O salão pulsava com vida. Risos, música, passos compassados. Os convidados dançavam sob a luz quente dos lustres, mas Aurora era o verdadeiro brilho daquela noite.
Ela rodava pelo centro do salão com seus irmãos, primeiro com Pérola, que ria alto ao girar de mãos dadas com ela ao lado de seu irmão mais velho, em passos desajeitados e adoráveis.
Andrews a observava de longe, com uma taça de vinho na mão. A música parecia distante para ele como se o mundo tivesse desacelerado apenas para que pudesse absorver aquela visão.
Foi então que a música mudou, ganhando tons mais clássicos e elegantes. Um homem jovem, de postura altiva e beleza inegável, surgiu entre os convidados. Usava um terno azul petróleo perfeitamente ajustado, cabelo impecável, porte nobre. Aproximou-se de Aurora com um leve aceno de cabeça, e estendeu a mão para ela um convite silencioso.
Aurora, surpresa, hesitou por um instante. Mas os irmãos a incentivaram entre risos e empurrõezinhos, e ela acabou aceitando. A mão do homem era firme, educada. Ele a guiou para o centro do salão.
Enquanto os dois dançavam, Rodrigo surgiu ao lado de Alice, agora transformada. O vestido vinho desenhava suas curvas com elegância, o cabelo preso com pequenas pérolas, e a maquiagem realçava seus olhos expressivos. Rodrigo estendeu o braço com charme e um sorriso provocador.
— Senhorita Alice, me concederia esta dança?
— Com o braço machucado? — ela riu, mas aceitou. — Espero que eu não precise te carregar de volta pra casa.
— Só se for nos braços, e aí não vou reclamar — ele sussurrou de brincadeira, arrancando uma risada nervosa dela.
Enquanto Alice e Rodrigo deslizavam pelo salão, Andrews continuava imóvel, fixo em Aurora. Ela girava elegantemente nos braços do desconhecido, e por um instante, a risada dela ressoou de novo, desta vez ao ouvir algo que o homem murmurou em seu ouvido. Ela sorriu, surpresa e lisonjeada, virando o rosto brevemente para ele.
Aquilo foi o suficiente.
Andrews apertou a taça, o maxilar tenso. Seus olhos escureceram, não por ciúmes impulsivos, mas por algo mais profundo. Ele a tocou com leveza, ele a elogiou. E ela sorriu. Ele conhecia aquele tipo de homem... E aquele tipo de sorriso.
Ele se moveu.
Andrews se aproximou com passos firmes, o olhar cravado no homem que dançava com Aurora. Ao chegar perto, pigarreou com leveza, o suficiente para interromper a conversa entre os dois. O homem sorriu, ligeiramente desconcertado, mas não recuou.
— Que honra, senhor Andrews — disse ele com um tom amistoso, mas cheio de subtexto. — Não imaginei que fosse tão... acessível.
Andrews ajustou a gola do paletó com um leve puxar elegante, sem tirar os olhos de Aurora. Depois, estendeu a mão para ela.
— Posso?
Aurora aceitou de bom grado, e Andrews a puxou com suavidade para perto de si, conduzindo-a com destreza conforme a música envolvia o salão.
— Está com ciúmes? — ela provocou com um sorriso leve, arqueando uma sobrancelha enquanto girava sob o braço dele.
— Não. Estou com raiva — respondeu com naturalidade. — Nenhum homem deveria te tocar além de mim. Muito menos sussurrar no seu ouvido.
Aurora riu e balançou a cabeça, divertida.
— Andrews, eu conheço ele. É meu segundo instrutor de judô. Treinei com ele por dois anos antes de vir pra cá... Ele era casado com uma das professoras.
Andrews franziu levemente a testa, o maxilar endurecendo.
— Entendi... — murmurou, e completou num tom seco: — Talvez eu deva pensar em contratar outro professor.
Ela o encarou por um instante e sorriu, encostando a cabeça no ombro dele.
— Você é inacreditável.
Mas nem Andrews, nem Aurora notaram o homem parado à distância, encostado perto de uma das colunas ornamentadas do salão. Vestia-se como um segurança qualquer terno preto bem alinhado, óculos escuros, expressão neutra. Porém, havia algo fora do lugar.
Os punhos dele estavam cerrados.
O maxilar também. E nos lábios... um leve sorriso sombrio.
O olhar dele seguia Aurora com obsessiva precisão. Seus olhos a percorriam enquanto ela ria, dançava, era girada nos braços de Andrews — o homem que a segurava com tanta naturalidade, como se ela já fosse dele.
A expressão no rosto do estranho se contorceu. Raiva, desejo, ódio... tudo ao mesmo tempo.
Foi então que Janete entrou, vestida como garçonete. Discreta, com o cabelo preso, uma bandeja em mãos. Ela se aproximou do homem silenciosamente, cumprimentando-o com um aceno quase imperceptível.
— Está tudo como planejado — ela sussurrou ao se inclinar. — O brinde será em menos de uma hora. Estamos prontos.
O homem não respondeu. Apenas manteve os olhos fixos em Aurora, como se não ouvisse mais nada além da risada dela ecoando no salão.
A música mudou para uma melodia mais suave, e os passos de Andrews desaceleraram junto aos de Aurora. Agora, dançavam mais próximos. Ela ainda sorria, mas havia um brilho nos olhos que ele conhecia bem — aquele que surgia quando ela tentava esconder algo mais profundo.
— Você está linda essa noite — ele disse, baixinho, com sinceridade. — Mais do que eu esperava, mais do que eu mereço.
Ela o olhou de soslaio, desconfiada, mas tocada.
— Está tentando me distrair?
— Talvez — ele admitiu. — Mas só porque sei que você odeia ser o centro das atenções. E está se saindo melhor do que imaginava.
Aurora suspirou e encostou o rosto no peito dele.
— Isso tudo... é tão perfeito. Me assusta.
— Assusta por quê?
— Porque parece um sonho. E eu aprendi a não confiar em sonhos.
Andrews a envolveu com mais firmeza, como se seu toque fosse suficiente para afastar qualquer pesadelo.
— Esse sonho é real. E eu fiz questão de construir cada detalhe para você.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.