Cap. 177
A manhã estava abafada, o céu encoberto de nuvens pesadas como os olhos de Aurora.
Ainda assim, naquela manhã, o dia parecia ter nascido ensolarado para Mariana, que estava empolgada quando entrou no quarto de Aurora.
— Você vai se levantar agora e vamos sair. Não se preocupe, apenas venha comigo e vamos nos animar um pouco. A estação está um pouco fria, mas não deixa de ser primavera e logo vai esquentar. — ela avisou, empolgada.
— Não quero ir a lugar nenhum... — Aurora resmungou, mas claramente perderia aquela briga. Mariana a ajudou a se arrumar e saíram as duas juntas. Como esperado, seu carro era escoltado como de costume, como se elas estivessem prestes a fugir a qualquer oportunidade.
O carro preto parou em frente à praça central da cidade, onde o som de buzinas e passos misturava-se ao perfume úmido das flores expostas nas barracas de rua. Mariana abriu a porta do lado do carona e desceu com agilidade calculada. Aurora hesitou.
— Vamos, antes que comece a chover — disse Mariana, já ajeitando a alça da bolsa no ombro.
Aurora desceu devagar. O sol filtrado pelas nuvens parecia brilhar demais para seus olhos. Ela estreitou as pálpebras, o rosto pálido, e caminhou ao lado de Mariana em direção à calçada.
Passaram por uma banca de flores. Lavandas, lírios, margaridas. Tudo muito colorido, tudo muito vivo. Aurora parou abruptamente. O cheiro a invadiu como um soco — doce demais, enjoativo demais. Ela levou a mão à boca, o corpo curvando-se instintivamente.
— Aurora? — Mariana virou-se rapidamente, segurando-a pelo braço com firmeza.
Aurora fechou os olhos, respirando fundo. O enjoo passou tão rápido quanto veio, mas deixou um gosto metálico na garganta. Assustada com a própria fragilidade, ela recuou dois passos.
— Vamos entrar — disse Mariana, com voz baixa, mas firme, guiando-a para dentro de uma cafeteria discreta, afastada do tumulto da rua.
No banheiro do local, Aurora se apoiou na pia. O espelho à sua frente mostrava mais do que seu reflexo — mostrava a guerra que ela travava em silêncio.
As olheiras denunciavam as noites mal dormidas. A boca ressecada, os ombros curvados. Ela parecia estar sendo consumida por dentro.
Com mãos trêmulas, abriu a bolsa.
De lá, retirou um pequeno frasco âmbar. A tampa de plástico estava levemente gasta, e o rótulo dizia pouco, mas o suficiente: suplemento vitamínico, uso gestacional.
Ela o segurou por longos segundos, como se o peso do vidro fosse o mesmo que o do segredo em seu ventre.
O frasco parecia pulsar em sua mão, como um lembrete constante do que ela escondia, do que estava tentando proteger.
Aurora fechou os olhos. Um soluço ficou preso na garganta.
De repente, alguém bateu na porta do banheiro.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.