Cap. 179
Ela dobrava algumas roupas com cuidado, como quem realiza um ritual íntimo. Em cada peça, depositava mais do que tecido: colocava esperança, medo e uma coragem que nem sabia que tinha.
Na porta do quarto, Mariana observava em silêncio.
— Vai mesmo fazer isso? Nós já percebemos e estamos todos felizes que você não perdeu, isso é um milagre, mas... — sussurrou, num tom que era mais constatação do que pergunta.
Aurora levantou os olhos, firmes apesar do rosto cansado.
— Não posso ficar. Não com ele dizendo que se sente aliviado... Não com ele afundando e levando tudo com ele. Eu não vou deixar que essa criança sofra antes mesmo de nascer.
Mariana assentiu. Caminhou até ela e pegou a mala de suas mãos.
— Então vamos fazer isso direito.
No final da tarde, Mariana ligou para Andrews e avisou que levaria Aurora para a casa de sua tia — ela queria ver seus irmãos.
— Estou levando a Aurora para um passeio. Ela está sufocando aqui. Precisa... ver gente, mudar o ar. Seus irmãos vão animá-la, por isso, não se preocupe — ela disse, enquanto Andrews, do outro lado da linha, a questionava.
— Tão de repente... mas se isso vai ajudá-la, então faça o que for melhor para que ela possa ficar bem — finalizou ele, voltando à sua reunião.
Andrews não questionou. Apenas assentiu com um gesto vago. Estava tão distante que sequer se deu conta de nada.
Horas depois, o carro de Mariana cruzava a estrada, levando Aurora para longe da mansão e de tudo o que ainda a prendia ali por instinto e culpa.
Elas seguiram para a casa da tia, como foi planejado.
— Você já pode ir. Eu cuido de tudo a partir daqui.
— E seus irmãos? — Mariana perguntou.
— Eles não estão aqui. Meu irmão está trabalhando recentemente e Pérola está na escola ainda — avisou com um sorriso fraco.
Assim que Mariana foi embora, Aurora percebeu que o carro com o segurança, que sempre as observava, continuava ali. Ela apenas sorriu ao entrar.
— Até parece que isso poderia realmente me impedir.
Ela manteve as malas arrumadas e descansou na casa da tia até a noite. Enquanto isso, na mansão, Andrews seguiu até o quarto de Aurora pensando que ela já tinha voltado, mas encontrou apenas Mariana dobrando as roupas e colocando-as no guarda-roupa.
— Por que Aurora ainda não voltou? — ele perguntou, e ela o encarou por cima do ombro, com indiferença.
— Bom... — suspirou, sem se virar para ele — ela vai dormir lá.
— Você está brincando? Desde quando Aurora pode dormir fora de casa?
— Andrews... apenas pare e deixe ela ficar onde ela quiser!
Ele saiu do quarto e seguiu até o escritório, ligando para os seguranças e pedindo que averiguassem a casa da tia de Aurora. A tentativa foi em vão, mas eles o avisaram que ninguém havia saído da casa, e ele confiou nisso, pedindo apenas que continuassem a vigiar caso ela saísse.
O relógio marcava pouco mais de uma da manhã quando Andrews saiu do escritório, com os olhos semicerrados e a mente inquieta. A mansão estava em silêncio, exceto pela ausência que, desde a partida de Aurora, parecia gritar nos corredores.
Na manhã seguinte, ele tentou ligar. Uma, duas, sete vezes. O celular de Aurora caía direto na caixa postal. Mandou mensagens. Nenhuma resposta. Naquele momento, ela já não estava mais na casa da tia. Os seguranças a seguiram até a universidade e avisaram Andrews sobre cada passo dela.
No segundo dia, já sem conseguir ignorar o peso no peito, entrou no carro e foi até a universidade. Caminhou entre corredores e blocos como um estranho. Quando enfim encontrou a secretaria, a resposta foi seca:
— A aluna Aurora não compareceu nos últimos dias. Além disso, já faz tempo que ela está ausente. Não houve comunicação prévia.
O estômago de Andrews revirou. Saiu dali com passos largos, o rosto tenso.
Assim que chegou à mansão, invadiu a sala onde Mariana lia um livro antigo.
— Onde ela está? — a voz era baixa, porém afiada.
— Não sabemos, mas ainda assim... não queremos que você saiba. Não depois do que aconteceu. Aurora precisa de um tempo, e, se for preciso, vamos nos afastar. Você pode me demitir se quiser.
— Então é isso? Desde quando o cão muda de dono? Você já esqueceu tudo que eu fiz por você? Eu fui a única pessoa que te deu uma segunda chance e você jurou fidelidade. Agora está me apunhalando?
— Sinto muito, senhor Andrews. Eu aceitei defender seus interesses. E Aurora é um deles. A melhor forma de defendê-la é aceitar que ela deve se manter longe de você para ficar segura.
— Que disparate! Vocês estão falando como se eu fosse capaz de matá-la. Como se aquele acidente fosse minha culpa. Eu não a empurrei! E nunca me senti tão apavorado como naquele dia, quando a vi daquele jeito. Acha que eu não senti? Eu não sou de ferro... E ainda mais agora... Eu não posso viver sem ela. Encontre-a!
— Eu sinto muito, senhor Andrews — Donovan abaixou a cabeça e se retirou, deixando Andrews sem reação. Ninguém estava ao seu lado na mansão.
Naquela noite, sozinho no quarto, Andrews sentou-se na beirada da cama. O travesseiro de Aurora ainda guardava seu cheiro. Passou as mãos pelos cabelos, inquieto. Pela primeira vez em muito tempo, a ausência doía mais que a presença.
As noites se tornaram longas demais para Andrews, enquanto esperava que seus homens a encontrassem. Mas não havia uma única pista.
Os livros na estante já não o distraíam, os compromissos da empresa o entediavam, e o silêncio da mansão o devorava pouco a pouco.
Na madrugada do quinto dia desde a partida de Aurora, ele entrou no quarto dela. Fechou a porta devagar, como se o ato violasse algo sagrado. Caminhou até a penteadeira, onde ainda repousava uma escova com fios castanhos de cabelo. Tocou as bordas do móvel, hesitante.
Abriu gavetas. Vasculhou armários. Havia poucas roupas. Como se ela tivesse partido com o essencial, mas deixado o coração para trás.
Ele encontrou a estranha caixinha de música, que rapidamente reconheceu não ser dali. Em seguida, continuou a vasculhar, juntando mais coisas nas mãos, a fim de encontrar alguma pista.
No fundo de uma gaveta, encontrou uma pastinha transparente. Papéis dobrados, remédios e... uma receita médica.
Leu, sem respirar. Vitaminas pré-natais. Nome dela. Data. Mãos trêmulas.
— Não... — sussurrou, cambaleando até sentar-se na beirada da cama.
O mundo parecia desabar ao seu redor, silencioso.

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.