Cap. 184
Ela estava ali, parada ao lado do bercinho, com um dos bebês nos braços. Embalava a criança lentamente, num movimento suave, como se estivesse em transe. O sorriso em seu rosto era doce, doce demais enquanto encarava a criança, pelas roupas azuis Andrews percebeu que ela tinha pego justamente o menino.
Aurora dormia, inconsciente, sob efeito dos remédios. Os monitores ao seu redor piscavam normalmente. Ela sequer se movia.
O pânico de Andrews veio silencioso, surdo, gelando-o por dentro. A voz lhe escapou num sussurro urgente enquanto se aproximava com cautela tentando não demonstrar ameaça.
— Janete? O que você está fazendo aqui?
Ela se virou lentamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. O sorriso permaneceu intacto.
— Agora a gente pode ser feliz, Andrews — ela disse com uma calma perturbadora. — Acabou. Todo aquele sofrimento… acabou. A gente tem o nosso menino de volta.
Andrews deu um passo à frente, tentando manter a calma, o olhar fixo no bebê — seu filho — aninhado nos braços dela.
— Você… está louca? — perguntou, a voz falhando levemente. — Coloque ele no berço, agora. Esse bebê é meu filho. Nosso filho, meu e da Aurora.
Janete não se moveu cuidadosamente como se aquilo que ela segurasse fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Pelo contrário. A expressão dela mudou, de alguém que está sentindo dor ao mesmo tempo que delirando.
— Ele é nosso, Andrews. Eu chorei tanto achando que tinha perdido você… perdido ele. Mas agora está tudo bem. Ele voltou pra mim. Você também vai voltar. Eu sei que vai... não é? Vamos viver juntos de novo... — ela choramingou baixinho acariciando a cabeça do bebe.
Andrews sentiu a garganta secar. O peso daquela cena esmagava seu peito, mas ele tentava manter o controle ao perceber que Janete não parecia só transtornada, ela também parecia estar fora de controle, como uma louca sem nexo algum.
Ele Abaixou levemente o tom, suavizou a voz, deu mais um passo.
— Tudo bem, Janete… você está certa. Está tudo bem agora. Mas o bebê precisa descansar, lembra? Ele acabou de nascer. Vamos colocá-lo de volta no berço… com cuidado, sim?
Janete olhou para ele, confusa por um segundo. Depois pareceu acreditar.
— Ele está bem, né? — perguntou baixinho, como uma criança perdida. — Ele vai ficar comigo?
Andrews forçou um sorriso, engolindo o nervosismo.
— Vai ficar… está tudo certo. Me deixa ajudar, só um segundo... está bem? — ele perguntou estendendo a mão na esperança de ela lhe entregar a criança.
— Não... ele é nosso! — ela birrou abraçando a criança como se quisesse a esconder.
— Não se preocupe, é nosso filho, eu não posso carregar ele também? — ele perguntou tentando parecer o mais convincente.
Com movimentos cuidadosos, se aproximou. Janete hesitou, mas permitiu que ele tocasse no bebê. Andrews pegou o filho nos braços, mantendo o sorriso, lutando contra a raiva e o medo que cresciam dentro dele.
Assim que colocou o bebê no bercinho ao lado da irmã, Andrews olhou com alívio, ele estava bem. Respirava tranquilamente.
Inteiro e vivo, suas mãos tremeram como se tivesse soltado um peso que segurava a horas.
Do lado de fora do quarto, sem alarde, ele segurou na mão de Janete e elevou para fora e naquele momento a imobilizou enquanto ela gritava por ajuda, Andrews chamou uma das enfermeiras e, em voz baixa, ordenou:
— Ligue para a segurança. E para a polícia. Agora.
Minutos depois, dois seguranças acompanhados por um policial a capturaram. Janete, encarou Andrews com os olhos tristes como se tivesse presa em algum outro universo onde Andrews a estava apunhalando, Não gritou. Não resistiu. Apenas sussurrava.
— Eu só queria minha família de volta...
Foi levada em custódia, com os olhos fixos em Andrews reagindo como se compreendesse o que estava acontecendo.
Ele permaneceu ali, firme, observando até que a porta se fechasse.
Então soltou o ar com força.
Olhou para os filhos no berço. Depois para Aurora, ainda adormecida.
Se aproximou e passou os dedos pelos cabelos dela.
— Eu prometi que vocês não estariam sozinhos. E vou cumprir. A qualquer custo.
Beijou a testa de aurora, com um último olhar de alívio para os bebês, se sentou ao lado deles.
Vigilante tão ansioso que queria apenas permanecer ali e não sair por nenhum motivo ate que eles tivessem alta.
O sol já se punha quando Andrews acordou, vislumbrando aurora já acordada cuidando dos gêmeos. Ele ficou hesitante, observando-a enquanto ela os embalava suavemente, tentando acalmá-los para a soneca após mama. O silêncio era confortável, mas carregado de significados não ditos.
Aurora levantou os olhos, sentindo sua presença antes mesmo de ele falar. Ela se levantou da cadeira e caminhou até ele, com um sorriso suave nos lábios.
— O que foi? — perguntou carinhosamente.
Andrews deu um passo à frente, hesitando. Ele sempre teve dificuldade com as palavras que revelavam vulnerabilidade.
No entanto, o que sentia agora não podia mais ser escondido, não agora diante de algo que nunca imaginou ser possível, e que, mais importante, não poderia mais ignorar.
— Eu nunca pensei que pudesse ter uma família. Isso sempre me pareceu... distante, quase inalcançável, Mas agora... — ele parou, sentindo o peso de suas próprias palavras, — agora eu vejo que posso ser diferente. Não apenas um homem, mas um marido. Um pai. E vou fazer de tudo para proteger a nossa família. Para ser o que você e eles merecem.
Aurora o observou, o olhar mais suave agora, mas ainda carregado de cautela. Ela havia passado por tanta dor, tantas incertezas. Mas agora via nele um homem transformado, alguém disposto a tentar, a fazer as coisas de maneira certa.
Ela respirou fundo, caminhando até ele e colocando a mão em seu peito, perto do coração.
— Andrews, eu também quero acreditar nisso. Eu quero acreditar que podemos ser uma família, mas para que isso aconteça, precisamos ser honestos um com o outro. Precisamos confiar um no outro, sem mentiras. Sem segredos. E, acima de tudo, eu preciso sentir que você me respeita
— Ela fez uma pausa, olhando profundamente nos olhos dele — e que respeita os nossos filhos. Agora eles já estão aqui, e você precisa cuidar deles também.
Ele não hesitou. Não podia mais se esconder atrás das barreiras que construíra ao longo dos anos. Tomou a mão dela e a segurou com firmeza, como uma promessa.
— Eu te respeito, Aurora. E vou te respeitar todos os dias da minha vida. Eu vou ser honesto e ser o homem que você e os nossos filhos merecem, porque vocês são tudo o que eu tenho agora. E não vou deixar vocês se afastarem de mim de novo por qualquer erro meu.
Ele inspirou fundo, afastando qualquer julgamento. Não era mais o homem impulsivo que reagia primeiro. Apenas assentiu.
— Então entrem. Os dois — disse com voz firme, mas sem hostilidade. — Aqui vocês têm teto e segurança. Se você fizer algo errado com ela, Rodrigo, você sabe o que acontece. Vocês vão ficar aqui até se casarem, e isso vai ser logo. Como se atreve a engravidar alguém fora do casamento?
— Isso é algo comum hoje em dia. Não sou tradicional como você. Além disso, estou cuidando bem dela e pretendo cuidar do nosso filho.
— Tudo bem... Já que decidiram morar aqui por um tempo, sua mãe já preparou um quarto.
Rodrigo sorriu de canto, cansado, mas genuíno.
— Eu sei. E por isso mesmo estou aqui. Mas também para que vocês me ajudem a aturar o humor de uma gestante louca. Ela vai quebrar meus ossos se eu não fizer suas vontades...
Aurora sentiu um aperto no peito ao ver aquele reencontro inesperado. Era como se a vida estivesse reordenando as peças de um tabuleiro caótico. Aos poucos, como ela dissera, tudo parecia voltar para o lugar.
Ou quase tudo.
Andrews ainda precisava passar pelo acompanhamento psicológico, mas tudo indicava que toda aquela maré ruim já havia passado, e agora ele estava melhor.
Andrews fez Rodrigo e Alice se casarem em menos de um mês e, no mesmo período, eles já estavam indo embora da mansão. No final, Alice e Rodrigo foram mais cansativos que os gêmeos para todos — ainda mais porque, na verdade, ele era bem pior que Alice com suas preocupações exageradas por causa da gestação.
Já se passou quase um ano se passaram desde aquele dia, e a mansão de Andrews havia se transformado completamente.
O que antes era apenas um local de luxo e solidão, agora era um verdadeiro lar, aquecido pelos risos das crianças e pela presença constante de Aurora.
O som das risadinhas dos gêmeos ecoava pelos corredores, e a casa, que antes se sentia vazia, agora estava cheia de vida e amor.
Ele agora se levantava todas as manhãs com um propósito renovado, ser o melhor pai e marido que pudesse ser. Mesmo nos dias mais difíceis, quando a exaustão da paternidade o fazia duvidar de si mesmo, ele nunca hesitava em dar mais de si.
Aurora, por sua vez, estava florescendo. Sua confiança retornara com o tempo, e a mulher forte e independente que sempre fora se reconectou com a sua essência.
Ela não era mais a mulher que se escondia em suas próprias inseguranças, mas sim alguém que aceitava e se orgulhava da nova vida que havia construído.
Os gêmeos, agora com quase um ano, estavam crescendo saudáveis, e a casa se enchia de risos, brinquedos espalhados pelo chão e momentos tranquilos em família. Andrews, que antes temia o compromisso de uma família, agora estava inteiramente absorvido pelo papel de pai.
Ele se encontrava constantemente ao lado de Aurora, seja ajudando com as mamadeiras, seja cuidando dos filhos enquanto ela descansava.
E, mesmo com a constante correria da nova vida, havia uma paz tranquila entre eles.
Aurora sabia que ainda havia muito a aprender, muitas cicatrizes para curar, mas com Andrews ao seu lado, ela sentia que poderiam enfrentar qualquer obstáculo.
A mansão, antes fria e vazia, agora era o lar que sempre desejou, e a família que eles haviam formado era a maior bênção de todas.
No final do dia, com a noite caindo e a casa silenciando, eles se sentavam juntos no sofá, com os bebês nos braços, como uma família.
E finalmente, Aurora sabia que aquele era o começo de algo novo, algo genuíno.
Uma vida onde o amor e a honestidade seriam as fundações de tudo.

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.