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Esposa impostora e o Magnata Sombrio. romance Capítulo 187

Cap. 2

Andrews seguiu viagem com Gabriel até uma loja de grife na cidade.

A loja era silenciosa, elegante e cheia de espelhos. Gabriel não gostava muito de espelhos, mas aquela manhã estava sendo diferente. Andrews andava ao lado dele, como se o mundo não tivesse pressa.

— Roupas esportivas — disse Andrews, pegando uma camiseta cinza de algodão grosso. — Confortável, simples. Nada de coisa que aperta ou incomoda. São peças boas para treinar.

Gabriel pegou a peça com hesitação. Observava a própria imagem no reflexo com olhos desconfiados. Andrews sentou-se em uma poltrona próxima e cruzou os braços.

— Você tem bom porte, cara. Só precisa parar de se esconder. Se olhar no espelho não mata ninguém, juro.

Gabriel soltou um sorriso tímido. Experimentou a camiseta. Depois, a calça de treino. E, ao sair do provador, pela primeira vez em muito tempo, ele se sentiu... limpo. Leve. Como se fosse uma nova versão de si mesmo, mesmo que discreta.

Andrews o observou com um aceno de aprovação.

Após a primeira troca, Gabriel ficou ainda mais empolgado em ver como ficava com outras roupas. Andrews se manteve sentado, sem interferir, enquanto ele escolhia as peças e ia entregando às moças que o acompanhavam na loja.

No caminho de volta, com as sacolas no banco de trás e o céu ainda limpo de nuvens, Andrews virou a direção por uma rua lateral. Pararam em frente a uma pequena academia de bairro, de fachada simples e janelas amplas.

— O que é isso? — Gabriel perguntou, franzindo a testa.

— Não sabe?

— Bom... sei, mas o que vou fazer aqui?

— Cuidar de você. Vai ser bom. E é só a dois quarteirões da casa da sua tia — Andrews respondeu. — Você pode vir a pé. Aqui é tranquilo, sem multidão. E pode ouvir música nos fones enquanto treina. Aqui ninguém incomoda ninguém.

Gabriel observou o local pela janela. Viu uma mulher idosa entrando, um rapaz com fones como os dele saindo, e ninguém parecia reparar em ninguém.

— Academia?

— Isso mesmo. Você já pensou em treinar? Corpo são, mente mais leve. Ajuda a dormir, melhora o humor. E mais: se você quiser se cuidar de verdade, tem que começar por você mesmo.

Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos.

— Eu não sou bom com pessoas — disse, sem encarar Andrews, analisando a entrada do lugar e as pessoas que entravam.

— Então não fala com elas — Andrews deu de ombros. — Mas faz por você. Vai no seu ritmo.

Entraram juntos. Andrews cuidou da matrícula, falou com um dos instrutores sobre o caso de Gabriel e reforçou que ele seria discreto, que só precisava se sentir bem, sem cobranças. Quando terminaram, Gabriel ganhou um cartão da academia com seu nome e um sorriso genuíno nasceu em seu rosto.

— É só meu — ele murmurou.

— É sim. — Andrews disse, pousando a mão no ombro dele. — Agora, me diz uma coisa: no que você é bom, além de ouvir música e usar sempre o mesmo moletom? Tem alguma experiência profissional?

Gabriel pensou. Olhou para frente, depois para o chão.

— Eu estudei muito. Online. Desde pequeno. Minha mãe... ela nunca me colocou numa escola. Dizia que teria vergonha.

Andrews ficou em silêncio por um momento, o maxilar travado.

— Isso é... muito injusto. — comentou, apertando levemente o ombro do amigo. — Mas você está aqui. E aprendeu tudo sozinho?

— E com a Aurora — Gabriel respondeu, com um pequeno sorriso. — Quando ela voltou pra casa, me ensinava tudo. Matemática, leitura... Ela me tratava como se eu pudesse aprender qualquer coisa.

— E pode mesmo. Sua irmã é incrível.

— É sim — Gabriel assentiu. — Eu tenho orgulho dela.

Andrews sorriu.

A tia, que estava na cozinha, viu a cena. Curiosa, foi atrás e espiou pela porta entreaberta. Lá dentro, Gabriel já começava a abrir as sacolas, organizando cada peça de roupa com extremo cuidado sobre a cama. Separou um conjunto escuro de camiseta e bermuda esportiva, combinando com um tênis novo. Passou minutos analisando todas as roupas com curiosidade.

— Gabriel... — a tia chamou. — O que você tá fazendo, filho?

Ele olhou para ela com brilho nos olhos.

— Eu vou na academia agora. — disse, animado.

— Agora? Mas Aurora e Andrews já foram embora... você vai sair sozinho?

— Eu sei. — respondeu, já pegando os fones e a garrafa de água. — Mas eu quero ir. Quero ir sozinho. É perto. É meu primeiro dia. Eu... quero ir agora.

A tia sorriu, emocionada.

— Tá bem, então. Vai com cuidado. Que bom que está animado de novo.

Gabriel se vestiu rapidamente, mas de forma meticulosa. Encarou-se no espelho com uma expressão séria, arrumou os cabelos de forma cuidadosa, como se fosse importante que tudo estivesse alinhado — como alguém que estava, pela primeira vez, saindo para viver o mundo sem medo.

E, naquele momento, ninguém podia entender exatamente o que significava, mas ali estava o início da liberdade.

Assim que saiu, foi como se tivesse traçado uma nova meta. Ele corria com foco, como se os passos servissem para afastar as vozes internas. A música preenchia seus ouvidos, abafando o mundo. Era assim que ele se protegia.

Mas, quando avistou a pequena praça à frente, resolveu desacelerar. Os batimentos estavam rápidos demais, e o suor escorria pelo pescoço. Parou sob uma árvore. Respirou fundo.

Tirou os fones por um momento e se sentou em um banco apenas para respirar. Todos o conheciam naquela vizinhança — o rapaz isolado, que mal podia sair de casa e parecia sempre ser um problema. Ele odiava os olhares tortos, como se fosse um intruso em qualquer lugar. Todos já conheciam sua condição, ainda mais pelas diversas vezes em que fugia de casa apenas para procurar Aurora, levando sua irmã mais nova junto.

Todos até pensavam que ele não sabia o que estava fazendo, porque, para sua tia, sua condição poderia colocá-lo em perigo. Mas, desde muito novo, ele aprendera muitas coisas com a própria irmã, que não deixou que ele ficasse inerte à realidade do mundo.

Ele apreciava o barulho da natureza, mas parecia ter sido um erro ter tirado os fones quando um grupo de garotas se aproximou, sentando-se em um banco distante, observando-o com curiosidade. Ele já conhecia aquelas moças — e, naquele momento, ter exposto seus ouvidos foi um erro.

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