Cap. 3
Ele se manteve em silêncio, apertando o fone com força, tentando ignorar os olhares deles e os comentários.
— Sério... quem deixou esse louco sair? — uma delas perguntou, observando-o com desprezo.
— Será que a tia dele sabe que ele está jogado assim na rua?
— Vai saber... só de lembrar das vezes que ele saiu sem eira nem beira com uma criança no braço... é até um milagre que ele esteja sozinho, pelo menos não tá levando uma criança pra mais uma de suas loucuras.
— Verdade, ele deve estar deixando a tia louca com essas manias, deve ser um sacrifício.
— Ele é bonito, né? Uma pena.
A voz surgiu atrás dele. Duas, talvez três moças estavam sentadas num banco, rindo entre si, sem notar que ele podia ouvi-las.
— Bonito, sim. Mas um coitado. Vivia grudado na irmã mais nova. Meio inútil pra qualquer coisa, você não deveria ver beleza nisso, sei lá... — completou com repulsa.
— É... quem é que vai querer um cara assim? Não dá pra imaginar ele num encontro, nem saberia onde pôr as mãos. Foi tão divertido quando ele literalmente tentou se declarar pra Edna. Ele nem mesmo conseguia falar na frente dela.
Risos abafados encheram os tímpanos dele, e aquela lembrança — que ele já tinha esquecido — voltou, deixando-o ainda mais irritado, já que aquilo fazia três anos. Desde então, preferiu permanecer distante de qualquer mulher.
Gabriel fechou os olhos. Aquilo... ele já tinha ouvido antes. Em variações diferentes. Em tons cruéis e sorrisos disfarçados. Mas nunca deixava de doer.
Ele sentiu o coração apertar. Arrependido, colocou os fones de volta e saiu dali, mesmo que sua expressão continuasse a mesma e ele não demonstrasse o quanto aquilo lhe afetou.
Voltou a correr, o corpo mais rígido, mais pesado. Como se cada palavra ainda estivesse grudada à pele.
Virou uma esquina, cortando o caminho até a academia. Mas, ao se aproximar, algo chamou sua atenção no beco lateral. A cena de um casal... chamou sua atenção pela forma como o homem segurava o braço da moça e a encarava como se estivesse furioso. Gabriel tirou os fones e ficou tenso, ao ver o homem falando num tom que fazia os pelos do braço arrepiarem, enquanto falava com a moça que tinha, mais ou menos, uns vinte e dois anos.
Gabriel parou, olhou discretamente.
Ela estava chorando, empurrando o homem, os olhos dela cheios de mágoa, a voz trêmula.
— Você disse que me amava! — ela gritava, socando o peito dele. — Então por que você fez isso? Por que... por que se envolveu comigo se era casado? Achou mesmo que eu era esse tipo de mulher, que se envolve com homens do seu tipo? Seu podre! — asseverou, se afastando dele.
O homem, visivelmente mais velho, tentava contê-la, segurá-la, mesmo que ela tentasse se afastar dele.
— Brenda, calma. Eu ainda te amo. Isso não precisa acabar assim... você sabe...
— Você mentiu pra mim! — ela o empurrou com força. — Mas não é cedo pra isso acabar, afinal só estamos juntos há três meses. Melhor acabar!
— Mas eu não disse que veríamos acabar... e não vamos! — ele asseverou, num tom que a fez recuar. Em seguida, ela riu, cética.
— O quê? Vai me obrigar agora? Você tem esposa e filhos! Quanta hipocrisia sua, não acha? Querer obrigar alguém a estar do seu lado que não seja a sua esposa? Você nunca mais vai me ver, não encoste em mim nunca mais!
Ele perdeu a paciência. A expressão doce cedeu lugar à frieza.
Mas Gabriel não respondeu.
Ele não a encarou nem mesmo depois de ouvir sua voz; apenas fez um aceno com a cabeça.
— Meu nome é... — ela tentou falar, mas ele já estava virando o rosto, voltando a correr.
Era como se todo aquele momento não fosse nada para ele. E, para ele, talvez fosse só mais uma dor abafada.
Brenda ficou parada ali, olhando suas costas se afastarem com velocidade.
A respiração dela ainda estava falha. Mas seu olhar... era de curiosidade ao observar aquele estranho salvador, enquanto Gabriel desaparecia entre os prédios.
Ela não sabia quem ele era.
Mas jamais esqueceria aquele gesto silencioso, daquele rapaz bonito, de fones no ouvido.
Ela ficou tão dispersa ali que o bip do celular lhe deu um susto. Atendeu com a voz trêmula; naquele momento já estava no final da tarde e ela tinha perdido completamente a noção do tempo.
/Onde você está? É seu turno! — uma voz feminina perguntou, impaciente.
/Desculpa, estou chegando! — ela avisou, correndo como se sua vida dependesse disso, enquanto ajeitava os óculos para não caírem.
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