Cap. 5
O rapaz dos fones. Aquele que, há menos de meia hora, virou o meu mundo de cabeça para baixo. Não era possível. Como podia ser ele de novo?
Congelei, os olhos vidrados nele, uma pontada de reconhecimento misturada ao choque.
Minhas mãos subiram aos lábios, tremendo, enquanto desviei o olhar, sentindo meu rosto esquentar. Como a vida podia ser tão caprichosa a ponto de nos colocar frente a frente novamente, tão rápido? Era o mesmo rapaz que me salvara no beco apertado, e que sumiu em disparada sem dizer uma palavra, como se eu fosse invisível, deixando-me ali, sozinha, com o coração aos pulos em pânico.
Apertei a prancheta contra o peito, os nós dos dedos brancos. Agora, sem a adrenalina do beco, sem o caos da fuga, eu o via com uma clareza e admiração como meu salvador.
E de perto, ele era ainda mais... impactante. Meus olhos percorreram cada detalhe, a forma como ele mantinha a concentração absoluta, completamente alheio a tudo ao redor.
Não era só a mim que ele ignorava, como eu havia pensado, era o mundo inteiro. Quando o instrutor finalmente deu o sinal, ele recolocou os fones, mergulhando de volta em seu próprio universo.
Não questionou, não olhou para os lados. Apenas seguiu as instruções, cada movimento uma resposta fiel ao que ouvia, sem qualquer distração, como se seu único propósito naquele momento fosse treinar.
Ele não era só bonito. Havia uma serenidade perturbadora nele, algo quase intocável que me atraía e me deixava inquieta ao mesmo tempo, mas, além disso, muito curiosa.
Os ombros se moviam com uma precisão calculada, cada inclinação da cabeça atenta às orientações do instrutor. O foco era absoluto. A atenção, palpável. Havia uma quietude poderosa nele, algo que não parecia forçado. Ele não tentava ser nada; ele simplesmente era.
Me peguei observando-o, perdida em uma fascinação que me engoliu por completo. Tão imersa, que nem percebi Talyta se aproximar por trás, cutucando-me levemente.
— Tá tudo bem? — a voz de Talyta me tirou do transe.
— Hã? — pisquei, assustada, o coração disparado.
— Tá com as bochechas vermelhas, viu? — Talyta inclinou a cabeça, curiosa. — Tá com febre? Ah, falando nisso... o nome do novato é Gabriel, sabe? O arcanjo protetor, mensageiro... sei lá, ele parece tão alheio ao mundo que pode pertencer a outro, não acha? Suas bochechas tão queimando, tem algo errado?
Disfarcei, baixando o olhar rapidamente, o rosto queimando ainda mais.
— Não. Calor. Deve ser isso...
Mas era uma mentira descarada. Eu sentia algo esquentar dentro do peito, algo que eu não queria sentir, mas que irradiava como uma brasa.
Voltei os olhos para ele mais uma vez, só para confirmar. Ele nem me olhava. Nem um breve relance.
E isso, de alguma forma, me dava paz. Ser assim como ele, sem nada para se preocupar, seria magnífico.
Porque tudo em mim estava uma bagunça.
Meu celular vibrou sobre o balcão. Quando vi o nome acender na tela, meu estômago girou e fui acordada do meu sonho primaveril.
— Jonas... — sussurrei para mim mesma.
Pensei em não atender. Eu sabia o que vinha. Mas meus dedos agiram sozinhos, talvez por medo, talvez por fraqueza.
— Você acha que vai me descartar assim, Brenda? — a voz dele veio seca, ferina. — Quem você pensa que é? Eu vou acabar com sua vidinha. Vai ver se alguém te protege. Eu vou contar pra todo mundo o tipo de mulher que você é. Sedutora. Baixa. Minha esposa vai saber. Seus pais vão saber. E aí, você vai lidar com as consequências.
— Você sabe que tudo isso é mentira, você quem me pediu em namoro, quem me cortejou, como quer jogar isso pra cima de mim? — perguntei sem reação, mas ele riu.
— Você acha que eles vão querer saber? Se você não voltar por bem, eu vou fazer todos pensarem que você é uma vagabunda destruidora de lares, perseguidora. O que acha disso? Podemos apenas fazer de conta que nada disso aconteceu e podemos dar o próximo passo agora que você sabe que sou casado.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.