Cap.17
A sala de arquivos era ampla, silenciosa e organizada como um labirinto de conhecimento. Estantes altas de aço, preenchidas com caixas numeradas, livros antigos e documentos importantes, cobriam as paredes.
Em uma das extremidades, Gabriel organizava seu espaço com satisfação: uma bancada de equipamentos de digitalização, uma mesa pessoal com duas telas grandes, uma área de descanso com um futon dobrado, cafeteira, uma planta em vaso e até uma luminária retrô. O ambiente era seu refúgio. Andrews tinha cuidado disso nos pequenos detalhes.
Ele estava digitando em um dos computadores quando a porta se abriu.
O assistente apareceu com a expressão neutra.
— Senhor Gabriel, você terá uma assistente a partir de hoje.
Gabriel parou de digitar.
— Assistente? Mas o senhor Andrews me disse que eu trabalharia sozinho.
Antes que o assistente pudesse responder, Brenda entrou.
Trazia uma caixa nos braços, os cabelos ainda úmidos e presos em um coque torto, os óculos escondendo parte de seu rosto.
Quando viu Gabriel, parou no mesmo instante. Os olhos arregalaram-se. Ele também congelou por alguns segundos, um olhar preso ao outro.
— Brenda Rícino, esse é Gabriel. Você será assistente dele. Pode não se lembrar, mas foi ele que te defendeu quando estava sendo atacada por aquela mulher.
— Oi… — ela murmurou, baixinho, a voz quase inaudível, sem saber onde se enfiar.
— Oi. — ele respondeu, calmo, observando-a.
— A senhorita Brenda Rícino foi transferida para este setor. Será sua assistente, e não haverá mais ninguém aqui além de vocês dois. — informou o assistente com rapidez.
Brenda abaixou a cabeça, se sentindo deslocada, como se fosse um peso indesejado, quando percebeu que Gabriel desviou o olhar, demonstrando incômodo. Mas ela não entendeu; apenas pensou que ele estava incomodado por ela estar ali.
— Ele… não quer ninguém aqui… — disse para si mesma, sem encarar Gabriel.
Gabriel olhou para o assistente, depois para Brenda, e então para a própria mesa. Ficou em silêncio por um momento.
— Tudo bem. — disse por fim.
O assistente assentiu e saiu, deixando a porta encostar-se lentamente.
O silêncio entre eles foi quase ensurdecedor. Brenda pousou a caixa sobre uma das mesas vazias e ajeitou os óculos. Gabriel observava cada gesto, sem saber o que dizer.
E então, como se fosse inevitável, ela disse, tentando quebrar o silêncio:
— Parece que o universo tem um senso de humor… bem peculiar.
— Acho que sim... — ele confirmou, mantendo seus olhos distantes dela.
Brenda não conteve o pequeno sorriso tímido que escapou em resposta.
— Eu… prometo não atrapalhar. Sei que ficou incomodado com minha presença.
— Você não está atrapalhando, não se preocupe com isso. Só... só não estou acostumado com trabalhos em grupo ou dividir espaço.
— Ah... ok.
Os dois ficaram em silêncio de novo.
Mas, dessa vez… era um silêncio mais leve.
"Não precisava agradecer."
Mas ela precisava, sim. Ninguém nunca tinha feito aquilo por ela.
Ele não a conhecia.
E, mesmo assim, estendeu a mão.
Aquela lembrança — o momento em que ele segurou o pulso da outra mulher e a afastou de cima dela — voltou como um lampejo. E, ao mesmo tempo… o cuidado. Quando ele a puxou do chão, foi como se dissesse, sem falar: “Você não está sozinha.”
Ela sentia que devia dizer mais, mas não sabia como. O nó na garganta não deixava.
Então voltou a arrumar suas coisas.
Cada vez mais ciente de que, mesmo naquele lugar estranho, frio, com estantes e silêncio…
Ela estava mais segura do que imaginava.
E mais perto dele do que jamais pensou estar — ou querer estar.
O silêncio da sala era confortável. Quase terapêutico. E agora eles estavam focados em seus computadores. Brenda estava organizando os trabalhos que já tinha feito e enviado para sua equipe, agora que não fazia mais parte dela, e seria isso para aquele dia, para então começar a trabalhar oficialmente ao lado de Gabriel.
Gabriel havia saído sem dizer nada. Brenda ficou sozinha, organizando cuidadosamente seus materiais, tentando ao máximo não parecer deslocada.
Foi então que, minutos depois, ela ouviu o leve ruído da porta se abrindo.
Levantou os olhos.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.