cap. 20
Andrews ficou de plantão para Gabriel não sair do quarto sem permissão, ele sabia que sua impulsividade o levaria para fora, se ele não estiver ali para observar.
O quarto hospitalar estava silencioso, iluminado apenas pela luz suave que entrava pelas persianas. Gabriel mantinha os olhos fechados.
O soro gotejava lentamente, o monitor cardíaco marcava o ritmo constante de seu coração. Ele não conseguia se levantar. Sentia-se frustrado, inquieto, e ansioso, por querer ver o estado de Brenda com seus próprios olhos.
Desde que havia acordado, recusava qualquer coisa que oferecessem. Sua tia Magda tentou. Andrews insistiu. Enfermeiras falaram com paciência, depois com firmeza. Mas Gabriel permanecia em negação. Não sairia dali. Não comeria. Não enquanto não visse Brenda.
E então ela apareceu.
A porta se abriu devagar, com um rangido discreto, e Brenda entrou. Caminhava com passos lentos, cuidadosos, ainda sentindo o peso do ferimento no ombro. Seus olhos varreram o quarto e pousaram sobre ele. A expressão de Gabriel se transformou imediatamente, surpresa, alívio, e um pequeno sorriso contido.
— Brenda...? — ele murmurou, arregalando os olhos. — O que está fazendo aqui? Você... você devia estar de repouso.
Ela sorriu, se aproximando e se sentando na ponta da cama com delicadeza.
— Os médicos disseram que está tudo bem. — respondeu com simplicidade. — Eu queria te ver e te agradecer de novo.
Gabriel a olhou por um instante, como se não acreditasse que ela realmente estava ali.
O silêncio entre os dois era leve, quase tímido, mas cheio de significados. Do lado de fora, Magda e Andrews entreolharam-se, surpresos e tocados pela naturalidade com que os dois se conectavam. E discretamente saíram, deixando-os a sós.
Brenda olhou para a bandeja de comida ainda intocada e então para Gabriel.
— Você não comeu?
Antes que ele pudesse responder, o estômago de Gabriel roncou alto.
Brenda riu. Aquela risada breve e doce, que iluminava tudo ao redor e o deixava ainda mais envergonhado.
— Acho que isso responde. — ela disse, se levantando para pegar a sopa.
— Eu... — Gabriel começou a dizer, um tanto constrangido.
Mas ela já estava sentada de novo, agora mais próxima, segurando a colher com cuidado. Seu olhar era sereno, terno.
— Não estou com fome, e não sou criança, posso comer sozinho. — ele protestou constrangido com o gesto dela.
— Vamos. — disse ela, com um sorrisinho. — Você precisa comer. Ouvi dizer que está bem machucado. Pode comer sozinho?
Gabriel hesitou, seus olhos encontrando os dela.
— Por favor... por mim? Vou me sentir mal em saber que você não quer se alimentar, sabendo que você esta assim por minha causa e que ainda tinha machucado as mãos — ela pediu com uma voz manhosa analisando as mãos enfaixadas dele, carinhosa e tão gentil que derreteu qualquer resistência.
Gabriel riu baixinho, vencido. E, finalmente, abriu a boca.
Ela começou a alimentá-lo com calma, colher por colher, como se aquele momento fosse apenas deles.
E era. Brenda não tirava os olhos dele. Gabriel sentia o rosto esquentar cada vez que ela sorria, cada vez que dizia algo doce ou o olhava como se enxergasse além da dor.
— Eu... pensei que era melhor me afastar de você. — ela disse baixinho, entre uma colherada e outra.
Gabriel a olhou, surpreso.
— Por que...?
— Porque você parecia tão distante. Achei que você não gostaria de mim por perto. — ela confessou, abaixando os olhos.
Gabriel respirou fundo.
— Isso é bobagem... Eu nunca estive distante. — disse com voz firme, mas doce. — Eu estava cuidando de você. Como alguém que cuida de você o tempo todo poderia querer você longe?
As palavras atingiram Brenda com uma força suave, como uma brisa que toca fundo. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela não disse nada. Apenas se aproximou e, sem pedir permissão, o abraçou com carinho.
— realmente obrigada!
Gabriel ficou imóvel por alguns segundos, pego de surpresa. Mas, quando sentiu os braços dela o envolverem com mais força, algo dentro dele se quebrou e se reconstruiu. Ele a abraçou de volta, devagar, com certo medo de machucá-la, e escondeu o rosto no pescoço dela. O calor daquele abraço era novo, reconfortante... e inexplicavelmente bom.
Eles ficaram assim por longos minutos. Silenciosos. Ligados.
Brenda apenas fechou os olhos e deixou o carinho transbordar em silêncio. Gabriel, ainda sentindo o peso da dor, do medo e da fragilidade, percebeu que aquele gesto simples era mais poderoso do que qualquer palavra.
— Isso quer dizer que você sente algo mais por ele? — Magda sorriu, inclinando o rosto.
Brenda ficou ainda mais tímida, mexendo na borda da xícara com o dedo.
— Eu... simpatizo com ele. — respondeu, quase como um sussurro.
Magda trocou um olhar cúmplice com Andrews.
— Se você quiser mesmo ajudar, seja amiga dele. Esteja por perto. Faça com que ele não se sinta sozinho, acredito que mesmo que ele não demonstre ele goste de sua companhia.
Brenda assentiu, um leve sorriso no rosto.
— Eu vou tentar. Prometo.
Mas, naquele instante, a porta de vidro da cafeteria se abriu com força. Brenda olhou por reflexo e, de repente, seu corpo congelou. Seus olhos se arregalaram em surpresa.
— Mãe? Pai? — ela se levantou de solavanco quando viu as duas figuras se aproximar dela.
Os dois se aproximaram com passos firmes, carregados de autoridade e julgamento. A mãe de Brenda vestia um tailleur conservador, o cabelo preso em um coque apertado. O pai, com expressão severa, usava camisa social e calça de vinco. A imagem exata de um casal rígido e tradicional.
— Por que não nos avisou que estava no hospital?! — a mãe disparou, num tom de voz ríspido, sem sequer cumprimentar os outros presentes.
Brenda levantou-se automaticamente, ainda sem saber o que dizer.
— Eu... eu caí na academia. Foi só um corte, estou bem. — assim que ela explicou, Andrews e magda se encararam confusos, afinal... por que ela não disse a verdade?
— Um corte?! — a mãe exclamou. — Isso é o que dá insistir em trabalhar como uma qualquer. Você devia deixar esse emprego. Já passou da hora de arrumar um homem decente e construir uma família. Trabalhar nunca foi coisa de mulher direita.
O pai apenas assentiu ao lado dela, como se cada palavra da esposa fosse uma verdade absoluta.
— Não cause mais problemas, Brenda. Você já é uma mulher. E ainda continua fazendo as coisas do seu jeito? — ele disse, sem elevar a voz, mas com frieza suficiente para doer.
Brenda sentiu o peito apertar. Ela desviou os olhos para Andrews e Magda, que assistiam à cena em silêncio desconfortável. Então, a coragem que ainda restava nela fez sua voz sair, trêmula, mas firme:
— Vocês só querem que eu me case logo para me livrar de mim... não é?

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