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Esposa impostora e o Magnata Sombrio. romance Capítulo 208

Cap. 23

Assim que chegou em casa, Gabriel entregou a sacola à tia e se enfiou no quarto, jogando-se na cama. Apoiado em travesseiros, com um livro aberto sobre o peito, ele tentava se concentrar na leitura. A mente, porém, vagava. As palavras se misturavam com lembranças, vozes recentes e dúvidas que pesavam no peito.

Foi então que o silêncio da casa foi quebrado.

Uma batida forte, insistente, na porta dos fundos. E, logo depois, uma voz suave, mas carregada de aflição, que o chamava: "Gabriel!".

Os dedos dele se afrouxaram, o livro deslizou. Os olhos se arregalaram. Brenda. A voz era dela. A certeza o atingiu como um choque. Mas... como?

Ele se levantou com uma lentidão que parecia querer adiar o inevitável. Largou o livro e, ao sair do quarto, deu de cara com Magda. Ela vinha da cozinha, secando as mãos no avental e com o rosto iluminado por um entusiasmo quase juvenil.

— Ela veio te ver? — a tia perguntou, a voz cheia de excitação, já caminhando para a porta.

Gabriel estendeu o braço, segurando-a. Sua expressão era um contraste estranho: dura, mas com uma calma gélida.

— Deixe ela ir embora. — a voz dele saiu baixa, mas firme. — Não quero ver ela.

O sorriso de Magda vacilou. Ela o encarou, surpresa, buscando nos olhos do sobrinho a razão para aquela reação. Mas só encontrou uma muralha fria, uma sombra mal-humorada e densa que a impedia de enxergar além.

— Gabriel… — ela murmurou, sem saber o que dizer.

— Por favor, tia. — ele reforçou, soltando o braço dela com delicadeza. — Só... deixa.

Magda assentiu, o desconforto visível em seu pequeno gesto. Ela não insistiu, apenas observou o sobrinho voltar para o quarto. Os passos dele eram pesados e ansiosos.

Ele fechou a porta e se aproximou da janela. Por entre a fresta da cortina, espiou discretamente.

Lá estava ela.

Brenda, do lado de fora. Usava o mesmo vestido de mais cedo, os cabelos presos com descuido, mas agora o rosto estava marcado por uma mistura de ansiedade e frustração. Ela chamou novamente, a voz quase um sussurro desiludido:

— Gabriel…?

Ele observava em silêncio. Uma pontada gelada no peito. "Ela acreditou", pensou. "Ou, pelo menos... teve dúvidas." A visão dela mordendo o lábio, hesitando por mais alguns segundos antes de bater de novo, mas com uma fraqueza que era quase um pedido de desculpas, partiu algo dentro dele.

Então, ela parou. A pequena esperança em seu rosto se esvaiu. Os ombros levemente curvados, ela deu as costas e sumiu pela lateral do portão.

Gabriel soltou um suspiro amargo, o ar queimando em seus pulmões. Deixou a cortina cair, a penumbra o engolindo.

— Melhor assim — murmurou para si mesmo, um eco vazio.

Voltou para a cama e pegou o livro. A brutalidade com que o abriu denunciava a frustração que ele sentia. Tentava se distrair, mas o texto se desfazia diante de seus olhos. A mesma página, relida pela quinta vez, não conseguia apagar a imagem dela.

Nem a voz dela. Nem a presença dela ali. Nem a dor silenciosa de ter escolhido... não abrir a porta.

Lá estava ela.

Brenda, do lado de fora, envolta na luz fraca do entardecer. O mesmo vestido que ele vira antes, os cabelos presos com pressa e um desespero sutil no rosto.

— Gabriel...? — a voz dela era um chamado abafado, a dúvida já pesando sobre a sílaba final.

Gabriel permaneceu imóvel, o peito apertado, como se uma mão invisível o estivesse segurando. "Ela acreditou", pensou, a constatação misturada com uma culpa que já lhe corroía. "Ou pelo menos, teve a semente da dúvida."

Ela hesitou por segundos que pareceram horas. Olhou em volta, como se procurasse por uma desculpa. Mordeu o lábio inferior. Bateu mais uma vez, um som fraco, quase implorando. Depois... o silêncio. A mão dela, erguida, caiu ao lado do corpo.

Com os ombros curvados pelo peso da decepção, ela se virou e foi embora devagar, desaparecendo pela lateral do portão.

Gabriel soltou o ar que nem percebera que estava prendendo. Um suspiro baixo, amargo. Deixou a cortina cair de volta ao lugar, o mundo exterior se fechando.

— Melhor assim — murmurou, mas a frase soou mais como uma mentira dita para si mesmo.

Andrews suspirou do outro lado.

— Talvez ele esteja sentindo falta da rotina, da academia. Esse período em casa pode ter acentuado tudo que ele já vinha guardando. Mas eu já esperava isso. Foi por isso que pedi ajuda a um velho amigo meu… assistente na verdade, você já conhece, Donovan. Ele vai começar a treinar o Gabriel. Vai ajudar ele a voltar com calma, sem exageros. E também vai fazer bem pra cabeça dele. Ele precisa de rotina… e de alguém por perto, um amigo mais presente, já que Donovan esta com tempo livre desde que eu me dedico mais a minha família.

Magda assentiu, aliviada.

— Ainda bem… fico com o coração apertado, Andrews. Nunca o vi assim. Tão calado. Tão... amargo. Como se tivesse desistido.

— Ele não desistiu — Andrews disse com firmeza. — Ele só está perdido. Só precisa de tempo… e talvez de espaço.

Ela sorriu, pequena, ainda preocupada.

— Espero que esse amigo seu seja bom. Porque o que ele precisa agora não é só de um treino físico… é de um fio de luz.

— Donovan é esse fio. Pode confiar.

Desligou o telefone com um pouco mais de paz no peito. Mas não completamente. Olhou uma última vez para o andar de cima. Sabia que ele estava lá, no quarto, fingindo ler, com os olhos presos em qualquer coisa que não fosse Brenda.

E mesmo assim, tudo nele ainda era sobre ela.

Os dias haviam passado como folhas arrastadas pelo vento, monótonos, silenciosos e solitários. Para Gabriel, o repouso havia sido mais uma fuga do que uma necessidade. Não era difícil permanecer trancado, ignorando o mundo. Ele se fechou em si mesmo como quem tenta se proteger de um inverno que não acaba.

Mas naquela manhã, algo mudou quando ele recebeu uma mensagem de autora perguntando como estava sendo na faculdade e no trabalho, foi como se ela tivesse acabado de situar ele onde ele deveria estar.

Levantou-se cedo, vestiu-se com calma e firmeza. Calça escura, camiseta neutra social, a mochila nos ombros como se fosse um escudo. O cabelo mais curto, penteado para o lado, mostrava um Gabriel mais contido, menos displicente, mais… frio.

Estava decidido. A vida seguiria. Com ou sem certos sentimentos, ele apenas suspirou abaixando a cabeça.

— Nunca mais vou pensar em derrubar minhas muralhas, eu não sou um peso! Nem um erro! — ele disse determinado para si mesmo.

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