Cap.32
A manhã ainda estava fria quando Brenda saiu de casa, bocejando, o casaco apertado contra o corpo. Os olhos ainda pesavam, mas o passo era leve, apesar de parecer que tinha dormido mal.
Foi então que congelou no portão.
Gabriel estava ali. Parado. Esperando.
Por um segundo, ela achou que ainda estava sonhando, mas o olhar dele, calmo e firme, era real demais para ser fruto de um devaneio.
Ela sentiu um calor subir ao rosto e, meio sem jeito, esboçou um sorriso tímido, levantando a mão num aceno rápido.
Ele respondeu com um leve movimento de cabeça, nada além disso… mas, para ela, foi suficiente para o coração acelerar como se tivesse ouvido uma declaração.
Sem trocar uma única palavra, seguiram juntos pela rua. Como nos velhos tempos. Mas havia algo diferente naquele silêncio, ele não era vazio, era denso, carregado de significados não ditos. Brenda sentia como se cada passo ao lado dele fosse um reencontro.
No ônibus, Gabriel esperou que ela escolhesse onde sentar. Só depois ocupou o lugar ao lado, como se aquele espaço fosse dele por direito.
O dia correu nessa estranha sintonia, caminhar lado a lado na faculdade, assistir às aulas juntos, seguir para o trabalho.
Brenda não precisava mais olhá-lo de longe, como antes. Agora, ele estava perto. Perto o suficiente para que ela sentisse o calor da presença dele.
À noite, na saída para a academia, seguiram juntos mais uma vez. Donovan já estava encostado no carro, esperando.
Assim que Brenda o viu, despediu-se de Rafael com um aceno e entrou.
— Você podia ter deixado o orgulho de lado e vindo no meu carro — Donovan disse, olhando para Gabriel. — Ela poderia vir também.
Gabriel respondeu sem hesitar:
— Se Brenda for andar de carro, vai ser no meu carro, que eu vou comprar quando tiver dinheiro suficiente.
Donovan soltou uma risada curta e deu um aceno, como quem entendia exatamente o que aquilo queria dizer. Entraram na academia.
— Bom... isso será muito breve, por isso eu vou começar a te ensinar a dirigir, eu sou piloto de fuga, sabe né?
— Não sei, mas com certeza quero começar a aprender a dirigir. — ele finalizou e seguiram para os aparelhos.
O lugar estava mais silencioso que o normal. Donovan olhou ao redor, estranhando.
— Onde é que estão os homens daqui? — murmurou, como se falasse sozinho. — Tiram mais folga que as mulheres… já percebeu? — comentou, olhando ao redor.
Foi quando avistou Talyta. Ela tentava, com algum esforço, guardar um dos pesos grandes. A barra quase a puxou para frente quando sentiu uma presença logo atrás.
Mãos firmes seguraram o peso, impedindo que ela se desequilibrasse.
O corpo dela travou no lugar, sentindo suas costas coladas a alguém.
— Céus... — Brenda suspirou, percebendo que Talyta ainda estava desnorteada.
O olhar dela, no entanto, ficou preso em Donovan, que agora se concentrava em treinar Rafael, a expressão séria, como se nada tivesse acontecido.
— Não se apaixone — Brenda disse, semicerrando os olhos. — Pelo que eu já ouvi, esse cara faz o trabalho sujo para o chefe. Os dois têm um jeito… particular de resolver as coisas.
Mas Talyta parecia nem ouvir.
— Não estou interessada em homem nenhum — respondeu automaticamente, virando para o balcão.
Enquanto as duas se afastavam, Donovan desviou o olhar para Talyta, como se tentasse puxar de alguma lembrança quem ela era. Uma curiosidade breve, que logo se apagou quando ele voltou a focar no que estava fazendo.
Mas o instante ficou, sua mente se apertava e a proximidade repentina que ele causou, o perfume dela ficou em suas narinas, o cheiro de seu cabelo. Ele sorriu cético consigo mesmo, em negação.
Donovan ainda se mantinha próximo de Gabriel, mas seus olhos, discretos e pacientes, buscavam outra direção. Ele tinha notado como Talyta evitava olhar para o lado dele, como se a mera presença dele fosse pesada demais para ser encarada de frente.
Foi então que ele viu a mudança sutil: os ombros dela se enrijeceram quando o celular vibrou no balcão. Ela atendeu, com um “alô” hesitante, e em seguida se dirigiu rapidamente para os fundos.
Donovan tocou no braço de Gabriel, fazendo um gesto curto.
— Volto já.
Seguiu pelo mesmo caminho, passos leves, e parou atrás da porta semiaberta. A voz de Talyta chegava abafada, mas carregada de urgência.

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