Cap. 34
— Você também não acha que esses dois são um pé no saco de tanto tédio? — Donovan comentou, sem tirar os olhos da estrada.
Talyta se virou, prestando atenção nos dois.
— E aí, você acha que vai melhorar mesmo o sistema financeiro? — perguntou Brenda, o olhar brilhando de entusiasmo.
— Com certeza! A ideia é facilitar o trabalho de todo mundo, deixar tudo mais rápido e claro.
Donovan bufou baixo, cruzando os braços.
— Estão empolgados com o trabalho.
— Esses dois só pensam em trabalho. Nem sabem se divertir.
Talita virou o rosto para ele, um meio sorriso no canto da boca.
— São como duas crianças descobrindo o mundo. Ele está no primeiro emprego e Brenda está numa área que estuda. Não estão namorando, mas parece que cada coisa é novidade pra eles. É assim que funciona para jovens apaixonados.
Donovan deu de ombros, com um olhar desconfiado.
— Você parece entender bem dessas coisas… Eu, sinceramente, não ligo muito.
Ela sorriu, mas o gesto não alcançou seus olhos. Donovan, observador, percebeu que a alegria dela não era plena. A cabeça baixa, a maneira como os dedos se agitavam sem rumo... Talyta irradiava uma insegurança profunda, como se carregasse um peso que não queria revelar.
No banco de trás, a voz de Gabriel quebrou o silêncio:
— Donovan, pode me deixar na casa da Brenda? Quero conversar mais um pouco com ela.
Donovan assentiu, reduzindo a velocidade. Parou o carro em frente a uma casa de muros altos, que parecia esconder segredos, enquanto Talyta já se preparava para sair. Mas, de repente, ele segurou o braço dela. Não era um gesto agressivo, mas a firmeza de seu toque não permitia recusa.
— Eu te levo para casa.
Ela hesitou, baixou os olhos e murmurou:
— Não precisa, eu vou sozinha.
Ele esboçou um sorriso, metade brincadeira, metade seriedade.
— Relaxa, não mordo.
Do banco de trás, Brenda interveio, com uma urgência sutil na voz:
— Vai, Talyta, deixa ele te levar. Assim a gente sabe que você chegou bem, por favor.
Donovan captou naquele tom um aviso, uma preocupação genuína da amiga. Isso fez sua própria desconfiança se aprofundar.
— Eu não quero incomodar… posso ir sozinha — ela tentou novamente, a voz quase um sussurro.
— Hoje vamos cobrar tudo dessa vadia — um deles disse, rindo com malícia.
— É… e depois vamos brincar com ela a noite inteira — completou outro, arrancando risos do grupo.
Donovan não sabia de quem falavam, mas a maneira como as palavras foram ditas deixou claro que não se tratava apenas de uma cobrança de dívida.
Ele suspirou, olhando para o painel do carro e murmurando para si mesmo:
— Sempre me dizem pra não entrar na confusão dos outros… Mas se até o Gabriel já levou facada por causa de uma mulher, quem sou eu pra fingir que não vi nada?
Empurrou a porta do carro devagar, fechando-a sem pressa. Enquanto caminhava, ouvia as vozes sumindo pela porta do prédio que eles haviam acabado de invadir. Para sua suspeita, era o mesmo prédio onde Talyta morava.
— Vamos ver se essa tal vadia grita bonito — a risada ecoou escada acima.
Donovan entrou no prédio sem pressa. O cheiro de umidade e cigarro impregnava o ar. O corredor estreito estava mal iluminado, e as paredes riscadas denunciavam anos de abandono. Não havia elevador, apenas uma escada estreita e íngreme.
Subiu o primeiro lance de degraus e então ouviu:
— Socorro! — a voz feminina, cortada pelo som de algo quebrando.
O grito foi seguido por um baque forte e mais risadas masculinas.
Naquele instante, Donovan parou por um segundo. Seu corpo gelou ao reconhecer a voz. Era quem ele menos desejava que fosse.

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.