Cap. 35
A mente gritava para parar, mas o corpo, já em movimento, disparou escada acima. O eco abafado dos sapatos contra o concreto era a única melodia em meio ao caos que se formava. A cada lance vencido, a trilha sonora do desespero ficava mais clara: o arrastar pesado de móveis, o estalo agudo de vidro se estilhaçando, um soluço cortado por uma respiração ofegante.
Chegando ao terceiro andar, o corredor se abriu para uma cena de terror. A porta do apartamento de Talita estava escancarada, um abajur tombado no chão. Dentro, cinco vultos, dois deles, uma massa de músculos e fúria, lutavam para conter Talita, que se debatia, chutava e mordia com a ferocidade de uma fera encurralada. Os outros três, indiferente à luta, virava gavetas e jogava objetos pelo chão. O ar pesado, carregado de suor, fumaça e o cheiro enjoativo de álcool, tornava a cena ainda mais sufocante.
— Me larga! — ela gritava, a voz embargada de pânico.
O olhar de Donovan ficou sombrio. Ele entrou sem pedir licença, os passos lentos e pesados, a expressão impassível como se estivesse analisando cada um ali antes de agir.
— Acho que vocês estão no apartamento errado — disse ele, num tom calmo demais para a situação, mas que fez os cinco homens pararem por um instante.
— Cai fora, cara, não é problema seu — um deles rosnou, ainda segurando Talita pelo braço.
— É… agora é — Donovan respondeu, o sorriso frio no canto da boca.
E antes que qualquer um tivesse tempo de reagir, ele avançou.
O primeiro a tentar avançar contra ele recebeu um soco certeiro no estômago, que o fez dobrar de dor e cair de joelhos.
Donovan usou o próprio corpo do homem como escudo contra o segundo, empurrando-o contra a parede com força suficiente para derrubar um quadro e deixar uma marca na parede.
— Quem é esse desgraçado?! — um deles gritou, indo para cima.
Talita, ainda sendo segurada por um deles ainda, aproveitou o momento. Pegou a primeira coisa ao alcance uma garrafa vazia caída no tapete e a quebrou contra a cabeça do homem que a prendia. O estalo seco fez o agressor largá-la cambaleando.
O som metálico de uma faca sendo sacada cortou o ar. Donovan girou para encarar o novo ataque, mas, no movimento rápido, a lâmina cortou seu braço esquerdo. O golpe foi profundo, quente, e o sangue começou a escorrer imediatamente.
— Senhor Markes! — Talita gritou, o pânico transbordando na voz quando ela viu a peça encravada no braço dele e o gemido abafado que ele soltou de dor.
Em seguida ele apenas respirou fundo, a mandíbula travada. Não olhou para o ferimento, não recuou.
Apenas segurou o punho do homem que tinha o atingido e, com um movimento brusco, torceu o braço até ouvir o estalo de osso deslocando. O grito do agressor ecoou junto ao som de algo caindo no chão, a faca que Donovan arrancou de fez do braço, segundo o urro de dor.
O restante do grupo hesitou, trocando olhares rápidos.
Donovan deu um passo à frente, o olhar duro, sem pressa, como se cada segundo fosse calculado. Aquilo bastou para que os cinco, ofegantes e humilhados, corressem porta afora.
— Isso ainda não acabou! — um deles gritou no corredor. — A gente volta!
O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo som rápido da respiração de Talita. Ela se virou e congelou ao ver o sangue jorrando do braço dele.
— Meu Deus… você precisa de um médico agora! — ela disse, se aproximando, as mãos trêmulas.
— Não — Donovan respondeu num tom baixo, quase indiferente. — Está tudo bem.
Ela piscou, confusa enquanto ele apertava o ferimento com força tentando estancar o sangramento.
— Como pode estar tudo bem?! Está sangrando demais!
Ele olhou ao redor, desviando do assunto.
— Vamos cuidar disso — disse, apontando para o corte no braço dele.
Ele não protestou quando ela o puxou pelo antebraço e o conduziu até o banheiro estreito. Era um cômodo pequeno, com azulejos antigos e uma pia de porcelana já manchada pelo tempo. Ela acendeu a luz, que piscou duas vezes antes de estabilizar.
— Senta aí.
Donovan encostou-se à pia, observando-a abrir o kit. Ela agiu com naturalidade, como quem já havia tratado ferimentos antes.
Retirou uma gaze, álcool e uma tesourinha para cortar a bandagem. A cada movimento dela, ele a estudava, não com ternura, mas com aquele olhar calculista, de quem analisa cada detalhe para entender um enigma.
Ela não percebeu de imediato. Estava concentrada em limpar o sangue, pressionar a gaze e enrolar a faixa com firmeza, mas sem machucar.
— Vai arder — avisou, antes de passar o algodão embebido em álcool.
Ele não reclamou, nem se mexeu. Só manteve o olhar fixo nela.
— Você sabe o que está fazendo? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
— Já tive que cuidar de cortes piores — respondeu, sem olhar para ele, mas a voz tinha um peso que não combinava com alguém falando de coisas banais.
Donovan inclinou ligeiramente a cabeça.
— Piores, é? Que tipos? Alguma causada por esses caras?

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.