Cap.36
Ela não respondeu. Apertou a bandagem para testar a firmeza e desviou o assunto.
— Pronto. Vai segurar até amanhã de manhã, mas… seria bom procurar um médico de verdade.
Ele ignorou a recomendação.
— Quem eram aqueles homens? — perguntou, direto, a voz baixa mas carregada de intenção.
Talita parou, o rolo de atadura ainda na mão, e suspirou.
— Não importa.
— Importa, sim — ele retrucou, inclinando-se para a frente, o tom firme. — Ainda mais se vão “voltar”, como disseram.
— Você disse ainda a pouco que não é de interrogar, porque está fazendo perguntas agora?
Ela se afastou um passo, pegando alguns remédios no armário com um gesto rápido.
E, mesmo sem falar mais nada, Talita sentiu que ele tinha entendido mais do que ela gostaria.
Donovan se manteve em silêncio por alguns segundos, como se estivesse processando tudo o que tinha acabado de ver e ouvir. Talita, por outro lado, parecia já ter decidido qual seria o próximo passo ao encara-lo.
— Tira a camisa — disse, com a naturalidade de quem fala para um irmão ou filho.
Ele arqueou uma sobrancelha, descrente.
— Moça… acho que não é muito conveniente, certo?
Ela inclinou a cabeça para o lado, avaliando a expressão dele.
— Está pensando alguma coisa errada, senhor?
Donovan pigarreou e desviou o olhar, o maxilar levemente tenso.
— Não é nada disso.
Um sorriso pequeno escapou dela.
— Como pode… um homem tão maduro, constrangido assim?
— Não estou constrangido — ele resmungou, coçando o nariz, o que apenas reforçou a impressão contrária.
Sem esperar mais, ela se aproximou e segurou a barra da camisa dele.
— Pode levantar o braço?
Ele a encarou de cima a baixo, com aquele olhar cético e carregado de reserva. Ainda assim, não se mexeu para impedir.
Talita, percebendo a hesitação, suavizou o tom.
— Desculpa… é que, quando você passa a vida inteira sendo mãe de duas crianças, acaba achando natural cuidar dos outros.
Donovan ergueu o braço lentamente, permitindo que ela retirasse a camisa. A luz fraca do banheiro revelou não só o corte no braço, mas outras marcas antigas, algumas finas, outras mais profundas, que ela não comentou, mas percebeu.
Ela trabalhou em silêncio, limpando o sangue seco, trocando a gaze, e por fim, pegando um pano limpo umedecido limpando alguns ferimentos que ia procurando ao redor dele de cada parte, barriga, costas, tórax, pescoço, ate chegar ao rosto. Donovan sorriu cético.
Quando se aproximou para limpar o canto dos lábios dele, ele levantou a mão e segurou a dela, firme.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.