Cap. 37
Ele seguiu pelo corredor e, ao sair do prédio, a raiva subiu como um soco no estômago.
— Mas que porra aconteceu? — ele resmungou, olhando ao redor.
O carro estava irreconhecível. A lataria amassada, janelas trincadas, tinta spray cobrindo metade da porta com palavras de ódio e símbolos toscos. O cheiro de tinta fresca ainda impregnava no ar.
Ele respirou fundo, mas não para se acalmar — e sim para gritar:
— Vocês estão fodidos, seus desgraçados! — e deu um chute forte na roda, o impacto ecoando no beco.
Abriu o porta-malas com força, puxou uma camisa limpa e jogou-a sobre o ombro. O carro ainda funcionava, apesar do estado deplorável, então o levou até uma garagem próxima, deixando-o lá antes que a raiva o fizesse tomar outra decisão impulsiva. Seguiu de táxi para o restante da viagem.
Quando atravessou as portas da mansão, não entrou como quem volta para casa — entrou como um furacão. Passos largos, expressão fechada, o braço enfaixado contrastando com o andar seguro de quem não queria mostrar fraqueza.
— Espera aí — a voz de Andrews soou logo à frente, com um tom que misturava surpresa e alerta. — O que é que tá acontecendo pra você voltar assim? Foi tudo bem lá?
Donovan riu, mas o som era mais de ironia do que de humor. Mostrou o braço enfaixado. Andrews ergueu as sobrancelhas, avaliando o ferimento e o sangue já revelando sobre a atadura.
— Você precisa ir ao médico. Agora. O que houve? Gabriel está bem?
— Ele está ótimo, o único que se ferrou fui eu.
— Parece que está irritado.
Donovan ergueu o queixo, como se a resposta não fosse grande coisa, mas a frase veio carregada de sarcasmo.
— No final das contas… aquele garoto é má influência. Não é que eu tomei uma facada por causa de mulher também? Só que pior: perdi um carro de quase duzentos mil dólares.
Andrews deu uma risada curta, quase incrédula.
— Você se meteu em problema, não foi? Perdeu um carro desse valor... mas qual o problema? Até onde sei, você já perdeu uns cinco carros mais caros que esse.
— Mas desse eu gostava.
— Você disse isso para todos os outros, mas está mais irritado do que quando perdeu os outros. O que é? Se meteu em problemas?
— Me meti. E agora alguém vai se arrepender disso. — O olhar de Donovan tinha aquela frieza calculada, mas por baixo havia algo mais bruto, quase pessoal.
Andrews cruzou os braços, avaliando-o por um instante.
— Quer me contar a história?
— É uma longa história. — Donovan deu um passo adiante, já a caminho do corredor. — E eu vou descobrir quem achou que era uma boa ideia mexer comigo. Aposto que foram aqueles desgraçados.
Andrews, sentado à frente, ergueu uma sobrancelha e riu baixo.
— Quando é que você não está metido em problemas? Você vive correndo risco, Donovan. Só que eu nunca vi você tão irritado, já que sua vida é correr riscos.
Donovan parou o movimento do copo, deixando-o sobre a mesa. Fitou Andrews em silêncio por um instante, avaliando-o. Depois, falou baixo:
— Vamos pro escritório.
— Pra quê? — Andrews perguntou, já sabendo que vinha algo mais sério.
— Quero conversar… mas é particular. — Donovan se levantou, o tom grave e sem espaço para brincadeiras.
Andrews suspirou, empurrou a cadeira para trás e o seguiu pelo corredor estreito até a porta pesada do escritório. Assim que entrou, Donovan fechou a porta com cuidado, trancando-a. Ele não parecia mais o homem debochado de segundos atrás — estava sério, a expressão carregada.
— O que você sabe sobre dívidas velhas… e gente que não sabe ficar no lugar dela? — começou, com a voz mais baixa, como se estivesse prestes a abrir um jogo que evitou por tempo demais.
Eles subiram e seguiram até a sala privada que Andrews usava para trabalhar em casa.
— Se você quer me contar, deve ser algum problema que me envolve, certo?
— Não é o tipo de problema que você tá pensando.
— Então me surpreenda. — Andrews fez um gesto com a mão, pedindo que ele continuasse.
Donovan suspirou, escolhendo uma cadeira, e Andrews se sentou em outra, de frente para ele.
— Por ironia do destino, eu me encontrei com uma mulher... essa pela qual levei a facada. Mas acontece que essa mulher, em questão, não é uma desconhecida — é esposa daquele homem... você se lembra do Henrique?

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