Cap. 37: quem te beijou?
Assim que Andrews abriu os olhos naquela manhã, levantou-se com a calma luz do dia invadindo seu quarto. Sua cabeça estava pesada após ter bebido, mesmo sem poder.
Ele estava pronto para se arrumar e sair junto com Rodrigo. Selecionou as peças de roupa e, ao passar a mão pelo rosto, percebeu uma vermelhidão na pele. Pensou que havia se machucado novamente. Apesar de estranhar, seguiu até o banheiro.
O choque foi imediato.
Seus olhos se estreitaram, e sua expressão endureceu ao notar o tom avermelhado sobre seus lábios. O álcool ainda entorpecia um pouco seus sentidos, mas sua mente trabalhava rápido o suficiente para sentir um princípio de pânico. Ele mal conseguia tocar aquilo ao redor da boca. Seu único pensamento foi que estava tendo uma reação alérgica agressiva. O medo cresceu em seus olhos.
— Jacy! — chamou, a voz saindo mais ríspida do que pretendia.
A governanta entrou apressada, surpresa com o tom alarmado do patrão. Atrás dela, Rodrigo acompanhava com um olhar curioso, franzindo as sobrancelhas ao ver a expressão de Andrews.
— O que foi? O que aconteceu? — Jacy perguntou, aproximando-se e percebendo a vermelhidão.
— Meus lábios! Algo está errado! — Andrews apontou para a boca, evitando tocar com os dedos. — Será que é alguma reação ao álcool? Ou algo pior? Que merda!
— Senhor! — Jacy disse, assustada e preocupada, procurando um lenço umedecido. — Céus... Rodrigo, chame o doutor! Eu deveria ter repreendido vocês dois por beberem até tarde! — ela disse, aborrecida.
— Ok... eu vou ligar para Hanck. — Rodrigo disse, pegando o celular, enquanto Andrews se sentava na cama, o drama estampado nos olhos, pensando que poderia até mesmo perder a boca.
Rodrigo estreitou os olhos e se aproximou, inclinando-se levemente para analisar a boca de Andrews enquanto esperava a ligação atender. Jacy se aproximou e, com cuidado, encostou o lenço na pele. O tecido veio manchado. Ela arregalou os olhos, encarando Rodrigo, que teve a mesma reação ao tomar um choque de realidade.
— Isso parece... — Ele parou, tentando conter a risada. — Você está com batom, Andrews?
Jacy esfregou a boca de Andrews apenas para garantir. Assim que removeu a mancha, ela e Rodrigo viram o tom avermelhado transferido para o tecido. O silêncio tomou conta do quarto por um instante.
Foi Rodrigo quem rompeu a quietude, soltando uma gargalhada alta.
— Será que você andou beijando Aurora secretamente? — Ele provocou, segurando o estômago ao ver a expressão furiosa de Andrews.
Jacy, tentando manter a compostura, mordeu o lábio para não rir, mas não conseguiu evitar um sorriso.
— Bom, pelo menos não é nada grave... — comentou, dobrando o lenço e guardando-o no bolso do avental.
Andrews, ao perceber que tudo não passava de um mal-entendido ridículo, ficou imóvel por um momento. Depois, esfregou o rosto com as mãos, sentindo o calor da raiva subir até suas orelhas.
— Aurora... — ele murmurou, apertando os punhos. — Aquela mulher...
Rodrigo cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha.
— Se foi ela, quando diabos isso aconteceu? Você nem percebeu? Isso é muito interessante, Andrews. Muito interessante mesmo...
Andrews lançou um olhar gélido para o amigo, que apenas riu ainda mais. Ele pegou um pano limpo e esfregou a boca com força, como se pudesse apagar a evidência de uma vez por todas.
— Já chega! — rosnou, apontando para a porta. — Saia, Rodrigo! E você, Jacy, esqueça isso. Não aconteceu nada!
Rodrigo ergueu as mãos em rendição, ainda rindo enquanto saía do quarto. Jacy apenas abaixou a cabeça e saiu atrás, mas não sem antes lançar um olhar cúmplice para Rodrigo.
Andrews ficou sozinho, respirando fundo para tentar controlar o incômodo crescente. Mas, apesar de toda a raiva, uma pergunta martelava sua mente.
Quando, diabos, Aurora conseguiu fazer isso? Ela invadiu meu quarto enquanto eu estava dormindo?
Pensar nisso o fez ficar ainda mais furioso.
— Aurora…
— Quero que, sempre que ela sair, tenha alguém a observando e me informando tudo o que ela está fazendo. Em algum momento, eu vou descobrir algo… e também onde está Janete.
— Em breve, ela pode aparecer… afinal, você anunciou que não está mais na cadeira de rodas. — Donovan disse com um sorriso discreto, pegando o celular. — Falando nisso, seu nome e o de Aurora não passaram despercebidos. Dizem que a noiva de Andrews Westwood é tão bonita que ele até se curou das pernas. Ela está sendo bastante elogiada por sua beleza… e você, por ser um homem extremamente exigente.
— É isso? Aquela coisinha conseguiu um pouco de fama, afinal… — ele suspirou, pensativo.
Enquanto isso, Aurora caminhava apressada ao encontro de uma moça que já a esperava do outro lado da pista. As duas usavam casacos com capuz, escondendo o rosto como se estivessem fazendo algo ilegal.
— Aurora… sua louca! Como você se casa e não me avisa? — sua amiga perguntou, demonstrando preocupação.
— Depois falamos disso. Tenho menos de uma semana para conseguir dinheiro suficiente e, até agora, parece que estou vivendo uma desventura.
— E sua mãe? Como ela está?
— Mais ou menos… eu fui enganada. — Aurora abaixou a cabeça.
— Eu te disse para não confiar neles. Seu pai te trata como uma bastarda, te humilhou na casa deles e você ainda acreditou que eles dariam o dinheiro para a cirurgia da sua mãe? Poxa… se eu tivesse algum dinheiro… — Alice lamentou, mas Aurora apenas sorriu, apreensiva.
— Sério? Duas universitárias que não têm nem um emprego fixo nem uma família estável? Pelo menos você não tem com o que se preocupar.
— Como não? Eu tenho você. Você sabe que é minha única família. — Alice segurou o braço de Aurora enquanto seguiam apressadas pelas ruas.
Alice era a melhor amiga de Aurora. Um pouco mais alta que ela, tinha cabelos longos e ruivos, com uma franja simétrica acima das sobrancelhas. Ambas tinham o mesmo porte físico, magras e ágeis.
— Você conseguiu uma joia tão cara assim? — Alice perguntou, curiosa.
— Supostamente, até mais cara do que imagino. Posso até me dar mal… mas é uma emergência. — Aurora suspirou, ansiosa.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.