Part.2 Entre o Ódio e o Dever
— Ele precisa de alguém que o entenda, que o proteja quando está vulnerável — disse Rodrigo, aproximando-se de mim com uma expressão mais séria, quase sombria. — Eu sei que você e ele têm uma história que começou complicada, mas ele precisa de ajuda.
Ele sempre foi uma alma perdida. Eu o observei, sem saber o que dizer. Rodrigo suspirou e se dirigiu até a janela de vidro, olhando para o jardim escuro.
— Andrews tem depressão profunda — ele falou de forma simples, mas as palavras carregavam um peso imenso. — E não é algo recente. Quando ele perdeu alguém importante, quando Janete fez algo terrível... algo que ele nunca conseguiu superar. A culpa que ele carrega... tudo isso o destrói aos poucos. Janete acabou com a vida dele simplesmente por acreditar que ele não poderia lhe dar a vida que ela queria. Você saberá os detalhes quando chegar a hora. Não precisa sentir pena de Andrews.
Meu coração apertou ao ouvir aquelas palavras. Eu nunca imaginara que o homem tão frio e distante que eu conhecia tivesse tanta dor dentro dele. Mesmo sem saber de tudo, percebi que, por mais que Andrews tentasse ser frio, ele se influenciava muito pelos sentimentos, e seu sonambulismo era uma prova disso.
— Esta mansão está cheia de passados, de coisas das quais ele deveria se livrar, mas não consegue. Cada um desses fantasmas só o deixa mais doente — Rodrigo virou-se para me olhar, seus olhos mais sérios agora. — Estou pedindo para você continuar salvando ele.
Engoli em seco, sentindo meu coração bater mais forte.
— Mas... como? Eu não sei o que fazer — minha voz falhou, tremendo, mas, ao mesmo tempo, uma determinação nascia dentro de mim.
Rodrigo suspirou profundamente.
— Os remédios... — ele continuou, pesando cada palavra. — Eles fazem Andrews entrar em transe, mas, mais importante, despertam seus maiores desejos. E um desses desejos faz com que ele tente contra a própria vida, porque a dor que sente é tão intensa que ele acredita que só a morte pode libertá-lo. É algo que ele não pode controlar. Quando toma esses remédios, perde completamente o controle de si mesmo. E foi isso que quase o matou várias vezes.
Eu engoli em seco novamente, sentindo um nó na garganta. Eu não fazia ideia do quanto Andrews havia sofrido.
— Você não está sozinha nisso. Eu, Jacy e até mesmo Donovan, o assistente dele, tentamos salvá-lo muitas vezes. O remédio o levou a extremos, mas, se ele não toma, se torna ainda mais agressivo e perigoso. Se ele souber que está sonâmbulo de novo, ele vai parar de tomar e começará a apresentar problemas ainda mais difíceis de lidar. Sem a nossa ajuda... — Rodrigo falou com uma tristeza que eu nunca imaginara nele.
Eu o olhei, ainda sem palavras, e fiquei ali, sem saber o que fazer com todas aquelas revelações. Mas uma coisa ficou clara: Andrews não era o homem cruel e impenetrável que eu pensava. Ele estava tão quebrado quanto eu... se não mais.
Rodrigo deu um passo à frente e tocou levemente meu ombro.
— Então, o que você escolhe, Aurora? — Ele me olhou com uma intensidade que fez meu peito apertar. — Vai ajudá-lo? Vai ser a pessoa que ele precisa?
Eu o olhei e, por um momento, senti um peso crescente sobre meus ombros. Eu sabia que, no fundo, teria que escolher. Mas somos casados. Eu sei o que Rodrigo está pedindo... Afinal, não tem como eu tratar Andrews mal quando ele está sonâmbulo, mas, quando ele está acordado, eu o odeio com todas as minhas forças. Para que ele pare de tomar o remédio, eu teria que suportar suas frustrações e tentar conquistá-lo. Eu me recuso!
— Bom... — murmurei, desviando o olhar e esfregando o pé no chão.
— A verdade é que é o contrário. Andrews não sabe que é sonâmbulo e, se você faz qualquer coisa com ele, você é a única responsável pelo que acontece.
— Está dizendo que eu posso ser acusada de assédio?
— Estou dizendo isso. Mas por que não pensa por outro lado? Ele, sonâmbulo, desperta seus verdadeiros desejos sobre você. Que opinião você tem disso?
— Você está dizendo que ele gosta de mim, mesmo sem admitir? — Minha voz falhou ao perguntar. Eu nunca tinha pensado nessa questão.
Então eu... eu estou me aproveitando de Andrews?
Eu tenho mais chances de ir para a cadeia do que pensei.

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