Cap. 50: Se eu tomar o remédio?
— Sim, supostamente, se ele está demonstrando afeto por você nessa situação, é porque esse deve ser o desejo interior dele, já que Andrews está sempre vestindo uma personalidade que não é dele. — Ele fez uma pausa, antes de acrescentar suavemente: — Eu sei que você está perdida agora, mas talvez... talvez isso tudo faça mais sentido quando ele começar a se tratar e se sentir seguro para confiar em você.
Fiquei em silêncio, minha mente cheia de perguntas sem respostas. Eu estava distante, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim começava a ceder. Como poderia odiar Andrews agora? Como poderia afastar-me dele, sabendo o quanto ele estava sofrendo? Mas, ao mesmo tempo, eu pensava que deveria apenas fugir daqui e seguir minha vida, mesmo amarrada por um contrato sem sentido.
— Espera! Ainda tem algo que eu quero saber! — pedi, enquanto seguimos até a saída.
— O que?
— O que Janete fez de tão grave para que Andrews fosse ao fundo do poço?
Ele se aproximou de mim, mantendo as mãos no bolso, e então me encarou nos olhos.
— Me diga, por que aceitou subir no altar e se casar com um homem que não te pertencia? — ele perguntou. Eu apertei os olhos por um momento, sorrindo desconcertada, mantendo-me em silêncio.
— Se você não está disposta a ser sincera, eu também não posso falar sobre a vida de Andrews com mais detalhes, mesmo que eu já saiba algumas razões. — Ele completou, virando-se e indo embora.
A noite parecia não passar. Eu não consegui dormir. Minha mente girava, revirando todas as informações que Rodrigo me havia dado.
Meu cabelo estava desgrenhado, e meus olhos fundos. Eu estava imersa em um turbilhão emocional que não conseguia entender. As horas de insônia foram uma batalha silenciosa, onde a dúvida e o medo se misturavam com o desejo de ajudar, e talvez até entender o próprio Andrews, ao mesmo tempo em que queria apenas fugir.
— E se eu... — murmurei para mim mesma, em seguida abrindo a gaveta onde ainda tinha alguns comprimidos que peguei no quarto dele. Então me lembrei do primeiro dia que Rodrigo chegou. Eu tinha tomado esse remédio e agido de forma estranha após dormir e acordar, só não acordei sonâmbula.
Peguei dois comprimidos e os tomei. Da outra vez, eu tinha tomado apenas um. Será que isso vai me ajudar a apagar? Mas o que será que acontece se eu tomar e me recusar a dormir?
Sem me importar com as consequências, tomei os dois de uma vez, e esperei fazer efeito. Parecia que um tijolo tinha tomado o lugar do meu cérebro. Ainda assim... me recusei a dormir. O plano era saber o que poderia acontecer se eu não dormisse.
— Céus... eu estava louca? — resmunguei comigo mesma, depois de uma hora girando na cama e caindo de cara no chão.
Meu corpo inteiro gritava por descanso, mas e se eu dormisse e fosse atrás de Andrews? E se isso despertasse nossos maiores desejos... e se meu desejo fosse ele?
Cada segundo que passava era uma batalha contra o peso esmagador das minhas pálpebras, contra a névoa crescente que me envolvia, tentando me puxar para dentro de um abismo, se eu tivesse me lembrado disso...
Eu sentia. A dormência começava a tomar conta de mim, como um véu escuro se espalhando aos poucos, cobrindo minha consciência. Mas eu não podia permitir.
Minhas mãos tremiam enquanto me agarrava ao encosto da cadeira, minha respiração acelerada. Meus olhos estavam arregalados, mas embaçados, os cílios grudando uns nos outros, como se quisessem se fechar para sempre.
"Se você dormir, o que vai acontecer?"
A voz de Rodrigo ecoava na minha mente. O que ele havia dito? "O remédio desperta os maiores desejos dele..."
Levantei da cama num impulso, o coração batendo forte, os pensamentos me sufocando. Meus cabelos estavam completamente desgrenhados, parte deles grudando na minha pele suada.
Minhas mãos tremiam, minha pele formigava. Eu me senti febril, como se estivesse delirando.
Andava de um lado para o outro no quarto, descalça, os passos apressados, desnorteados. Meus braços envolviam meu próprio corpo, como se tentasse me manter ancorada à realidade.
Andrews tentava se matar? Será que eu... eu também tentaria? Quem me salvaria?
Andrews tomava isso toda noite?
Ele ficava assim? Ele sentia esse peso esmagador, essa sensação de não ter controle sobre si mesmo?
E se o maior desejo de Andrews fosse realmente acabar com tudo?
Meus olhos, antes pesados de sono, agora estavam arregalados de medo. Meu peito subia e descia descompassado.
E agora? Quem ia me salvar?
— Ah!!! Eu só faço merda! — gritei, chutando o vento enquanto estava deitada no chão.
Às primeiras luzes da manhã, me levantei, as pernas ainda trêmulas de tanta angústia. Não podia mais ficar ali. Finalmente, o dia começou a clarear. Eu consegui!
Sem pensar, saí correndo do quarto, desci as escadas. Os primeiros raios de sol já iluminavam o jardim, que estava sendo irrigado por jatos de água que molhavam as flores. Fiquei ali, no centro, onde as gotas me atingiam com força, apenas para chorar sem que percebessem que eu realmente estava chorando.
Sinceramente... eu nunca chorei tanto quanto tenho chorado nessa mansão, mas deve ser porque aqui não tem ninguém para me encarar ou me julgar, só alguém que parecia ter prazer no meu sofrimento. Mas tudo parece tão vago agora...
— Por que tudo isso, Deus? Por que eu sinto isso por ele? O efeito tem que passar! — Eu gritei, a dor e a frustração explodindo em minha voz, enquanto as lágrimas se misturavam à chuva que me molhava. — Porque estou ficando maluca!
Não sei por quantos minutos gritei, até cair de joelhos na grama, sentindo meu corpo sem forças para lutar.
— Aurora! — uma voz firme me chamou, mas ignorei enquanto recebia os jatos de água.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.