54: invisível em seu carro.
Após examinar Aurora, o profissional fez exatamente o que Rodrigo pediu e depois se retirou, sem conseguir encarar Andrews com a mesma confiança. Assim que a porta se fechou, Andrews cruzou os braços e lançou um olhar frio para Rodrigo.
— Eu vou trocar de médico. — avisou, lançando um rápido olhar para Aurora, que agora dormia tranquila.
Rodrigo arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Por quê?
Andrews estreitou os olhos.
— Porque você o usou para mentir.
— Como assim? — Rodrigo franziu a testa.
— Eu já sabia que ela está assim por causa dos meus remédios. — disse Andrews, seco. — Ainda assim, eu precisava de um diagnóstico sério. E se ela tivesse uma convulsão? Você sequer pensou nas consequências da sua brincadeira? Você ia se responsabilizar por isso?
O tom afiado de Andrews fez Rodrigo engolir em seco. Ele realmente estava irritado.
— Me desculpe. — Rodrigo suspirou. — Eu só queria protegê-la, te fazendo se sentir culpado. Mas, de certa forma, não foi mentira. Você negligencia ela quando deveria estar cuidando como se fosse a coisa mais preciosa da sua vida.
Andrews ficou em silêncio por um instante antes de soltar um longo suspiro.
— Então talvez você devesse parar de se meter onde não é chamado. Eu sei bem o que estou fazendo.
— Não era o que parecia. Não está arrependido por ter entendido tudo errado? Por não ter investigado os fatos antes de maltratá-la? Você está descontrolado, Andrews.
— Você está errado. Além disso, não há nada para se arrepender.
Rodrigo riu pelo nariz, descrente.
— Certo. Mas e você? Vai ao menos se desculpar com Aurora dessa vez?
Antes que Andrews pudesse responder, uma voz embargada cortou o silêncio.
— Não quero suas desculpas. Quero ele fora do meu quarto.
Os dois se viraram ao mesmo tempo, vendo Aurora abrir os olhos lentamente. Ainda deitada, ela os encarava com firmeza, apesar dos olhos cansados. Com esforço, começou a se levantar, deixando clara sua decisão.
— Eu não quero estar perto de alguém que está tentando destruir a minha vida! — Ela se levantou de súbito, lançando um olhar furioso para os dois homens, como se fossem seus piores inimigos.
— Para onde está indo? — Andrews perguntou, mas antes que ele pudesse impedir, ela já havia saído, batendo a porta com força.
Do lado de fora, bufou, irritada.
— Tem dois homens no meu quarto. Para onde mais eu deveria ir?
Antes que pudesse dar mais um passo, Andrews saiu rapidamente atrás dela.
— Volte para a cama. Se não quiser que eu te carregue à força, é melhor ir por conta própria! — ordenou, a voz firme.
Ela se virou abruptamente, estreitando os olhos, mas acabou voltando para o quarto a contragosto.
— Deus me livre de você encostar em mim de novo! — esbravejou, batendo a porta ao se trancar.
Rodrigo, que assistia a tudo com diversão, riu baixo.
— Ela tem um gênio bem forte mesmo.
Como esperado, ela não saiu do seu quarto e nem foi atrás de Andrews. Rodrigo esperou do lado de fora próximo a porta de Andrews até ver ele sonâmbulo, então o seguiu sabendo para onde ele já estava indo, e como esperado, ele tentou bater à porta de Aurora, mas rodrigo o impediu.
— O que está fazendo? Não pode desprezar e maltratar ela de dia, em seguida ir assediá-la. Deveria ter vergonha, não acha? — ele perguntou, como se fosse ter alguma resposta. Em seguida, ele levou Andrews até o quarto novamente e trancou a porta. Andrews tentou abrir várias vezes, mas Rodrigo se manteve ali até que todo o barulho parasse.
Quando Andrews acordou, o sol já estava raiando. Ele saiu do seu quarto, encontrando Rodrigo dormindo no chão.
— Que diabos está fazendo aí? — Andrews perguntou, batendo o pé no braço de Rodrigo, que levantou de forma abrupta.
— Já é manhã?
— O que está fazendo aqui? — Andrews perguntou, ignorando sua pergunta.
— É da sua conta? Sua esposa que deveria cuidar disso. Nunca pensei que seria tão exaustivo! — ele resmungou, cambaleando de volta para o quarto. — Merda! Porque ela faz parecer tão fácil!
— Era para levar a senhora Aurora até a cidade. Mas ela ainda não apareceu. — ele comentou, olhando ao redor como se a procurasse.
— Onde ela está indo?
— Ela disse que era na pensão de uma tia. — Donovan comentou, a confusão nítida em seu tom.
Andrews franziu a testa, ponderando. Algo não fazia sentido.
— Pegue outro carro. Eu vou usar este. — ordenou, seco, sem se dar ao trabalho de fazer mais perguntas. No entanto, o olhar que lançou a Donovan dizia mais do que palavras, como se estivesse lhe passando uma instrução silenciosa.
Aurora arregalou os olhos. Droga!
Prendeu a respiração, pressionando-se ainda mais contra o espaço apertado atrás do banco de Andrews. Precisava se manter invisível. Sentiu o coração acelerar quando ele entrou no carro e Donovan ligou o motor, sem suspeitar de sua presença.
Os dois continuaram conversando como se nada estivesse fora do lugar.
— Depois de alguns dias naquele galpão, Kenner vai realmente ceder? — Donovan perguntou, ajustando o espelho retrovisor.
— Eu não vou deixar barato depois do que ele fez. — A voz de Andrews saiu firme, carregada de frieza. — Ele tentou me envenenar e sequestrou minha esposa. Kenner conhece as regras. Se as quebrou, deve pagar.
Aurora estremeceu. Ele estava falando do dia em que fui sequestrada?
Seus pensamentos corriam tão rápido quanto o carro na estrada. Não sabia o que esperar, mas cada palavra de Andrews a deixava mais inquieta.
A viagem seguiu em um silêncio tenso para ela, que se encolhia atrás do banco, praticamente deitada no chão para evitar ser vista. O caminho se estendeu além da cidade, mergulhando em uma estrada longa e deserta. Conforme o asfalto cedia lugar a um terreno irregular de terra batida, a ansiedade de Aurora crescia.
Quando finalmente pararam diante de um galpão isolado, Andrews e Donovan desceram sem hesitar.
Aurora permaneceu imóvel, contando os segundos em sua mente. O barulho dos passos deles se afastando foi sua deixa. Com cuidado, abriu a porta e deslizou para fora, mantendo-se abaixada.
Seus olhos vasculharam os arredores. Poucas luzes iluminavam a entrada do galpão, e pilhas de madeira estavam espalhadas ali perto.
Ali.
Movendo-se com a máxima discrição, correu até uma das pilhas e se escondeu atrás dela, respirando fundo para se acalmar. Agora só restava descobrir o que, exatamente, Andrews estava planejando.

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