Cap. 88: Aurora é sincera com Andrews.
Aurora piscou, surpresa. O olhar dela se prendeu ao dele, confuso, tentando entender o que havia mudado. Por um segundo, nenhuma palavra foi dita. Era como se o tempo tivesse parado ali, entre os dois, no meio da escadaria silenciosa.
— Tudo bem, então — ela murmurou, quebrando o silêncio. — Não vou insistir. Afinal, foi mais de um milhão, e eu nem mesmo já cheguei perto de ver ao menos metade disso tudo na minha conta. — Ela sorriu, desconcertada. — Pelo menos agora... você está se tornando um homem mais justo.
Andrews soltou seu braço devagar, mas ainda a observava com intensidade. Aurora então seguiu seu caminho sem dizer mais nada, os passos lentos, pensativos.
Foi nesse momento que Rodrigo subiu a escada ao encontro de Andrews, que estava no topo, e parou de frente com o amigo. Seus olhos estavam cansados, mas havia algo determinado neles.
— Agora estou jogando limpo — disse Rodrigo, sem rodeios. — Eu só trouxe ela de volta pra mansão... onde é o lugar dela. E talvez... — ele engoliu seco — talvez seja o lugar mais seguro também, até descobrirmos o que está acontecendo, ainda mais depois do que Alice disse.
A voz dele carregava uma sinceridade incomum, um medo sutil. Apesar de tudo, ele estava preocupado com Aurora. E talvez com Andrews também.
Andrews o encarou por um momento. Seus olhos analisaram o amigo como se procurasse sinais de mentira, manipulação — mas não encontrou nenhum.
Então, com um gesto raro, colocou uma das mãos no ombro de Rodrigo e assentiu.
— Você fez bem — disse ele, com firmeza. — Fez muito bem em trazê-la de volta.
Rodrigo assentiu, aliviado, mas ainda com um peso no olhar.
A noite caiu com uma tranquilidade estranha sobre a mansão. Aurora já havia se instalado no quarto de hóspedes — o mesmo em que ficara antes — e, por mais que dissesse a si mesma que aquilo era apenas temporário, havia um nó no estômago que não passava.
Alice tinha razão... estar de volta ali era como mergulhar numa névoa que ela fingia não reconhecer.
Depois de tomar um banho rápido, Aurora ficou sentada na borda da cama, olhando a mala semiaberta. O silêncio da casa era quase absoluto, apenas interrompido de tempos em tempos por algum rangido distante ou o estalo da madeira antiga.
Era por volta das nove da noite quando Aurora parou diante da porta entreaberta do quarto de Andrews. A luz suave escapava por uma fresta, e ela hesitou por um momento antes de bater levemente. Não houve resposta.
Com um leve suspiro, empurrou a porta com delicadeza e o encontrou sentado na poltrona perto da janela, com um copo de uísque na mão e a caixinha de remédios aberta sobre a mesinha lateral.
Andrews estava de pijama, os cabelos um pouco bagunçados, e o olhar perdido em algum ponto do jardim. Mas quando a viu, ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Aurora?
— Posso entrar? — ela perguntou, já entrando, mantendo as mãos às costas, demonstrando desconforto.
Ele assentiu, deixando o copo de lado.
— Você está dopado. Apático. Se entupindo de remédios como se fosse a única saída, e ainda por cima bebendo. Você por acaso se odeia tanto assim? Isso não é estar bem.
Ele desviou o olhar, cerrando os punhos. Por um momento, Aurora viu algo diferente nos olhos dele — um cansaço profundo, um orgulho quebrado.
— Por que você se importa tanto? Se, pra começar, uma das culpadas disso tudo é você mesma? Sinceramente, eles podem até dizer que seria pior… mas está sendo pior pra mim agora, porque eu não posso descontar nada em você. Porque, em vez dela estar cumprindo o acordo, ela mandou alguém que eu nunca deveria ter machucado. Como eu deveria me sentir? — ele perguntou, com a voz rouca.
Ao mesmo tempo, Aurora ficou sem reação, e seus lábios tremeram. Tentou falar, mas hesitou, sentindo o peito apertar.
— Eu sinto muito... Quanto mais o tempo passa, também percebo que a gente nunca deveria ter acontecido. Não tem nenhum sentido nisso, mas eu estava desesperada... — ela comprimiu os lábios, abaixando a cabeça. — Eu sei que disse que fiz tudo aquilo por causa do dinheiro, mas... era por causa da minha mãe. Não só porque ela precisava do tratamento, mas porque a própria Janete, pra me persuadir a casar com você, fez os valores aumentarem de forma que eu não poderia pagar, mesmo trabalhando que nem louca. Eu... eu sinto muito. E não quero que você se destrua por causa disso... por minha causa.
— Mas agora está tudo feito. Já está pago. E ela está indo bem, apesar de ser uma mulher perversa — ele comentou.
Ela ergueu o rosto, o encarando. Em seguida, sorriu de forma amarga.
— Eu sabia... Quando soube que você estava indo lá com frequência, percebi que talvez não tivesse mais segredos que eu conseguisse esconder. Porque ela sempre grita minha culpa em todos os lugares.
— Não converso com ela, então não sei de tanto. Você sabe que não gosto de perder tempo com ninguém, e sua mãe não é uma exceção.
— Entendo... — ela suspirou, balançando a cabeça. — Só mais uma coisa... você pode parar de tomar aqueles remédios?

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