Cap. 90 Borboletas na barriga.
Dia seguinte. Como esperado… ele não se lembrava.
Saí do quarto já arrumada e o encontrei próximo à escada. Ele estava como de costume — perfeitamente alinhado. Seu perfume se espalhava pelo corredor com um frescor limpo e sofisticado. Os fios de cabelo estavam penteados para trás, e ele parecia mais descansado. Havia algo sereno em sua postura.
Me aproximei com cautela enquanto ele ajeitava distraidamente a abotoadura do blazer, que lhe encaixava como uma luva. Na verdade, suas roupas sempre pareciam ter sido feitas sob medida, realçando ainda mais sua presença impecável.
Nem percebi o quanto estava distraída, olhando demais, até que ele arqueou uma sobrancelha e me encarou.
— Algo errado? — ele perguntou, com o olhar fixo em mim.
— Com certeza… — murmurei involuntariamente e, logo depois, sorri sem graça quando percebi sua expressão confusa. — Está tudo bem. Bom dia, senhor Andrews. — respondi, abaixando a cabeça com certa vergonha.
— Ok… bom dia. — Sua voz saiu calma como um suspiro, e ele desviou o olhar. — Hoje eu estou indo para a empresa. Vou te esperar no carro. — avisou, já descendo a escada.
Fiquei ali, congelada no mesmo lugar. Só voltei à realidade quando levei um susto.
— Deveria limpar o queixo, senhorita Aurora. Está sujando todo o piso. — Jacy brincou surgindo atrás de mim, me fazendo quase pular.
— O quê? — levei a mão ao queixo, confusa, e então entendi a ironia quando ela riu.
— Andrews é realmente um homem cheio de qualidades… e é seu marido. — Ela piscou, com aquele sorriso de quem estava sugerindo mais do que dizia. Céus…
Espera. Ele está me esperando no carro? Ele vai me levar para o trabalho?
Quase tive uma vertigem. Respirei fundo, tentando me recompor, e desci a escada com passos cuidadosos. Quando saí, ele estava lá. Encostado no carro, olhando o relógio como se fosse uma cena tirada de um comercial. Esse homem…
Quando foi que ele se tornou um inferno constante nos meus pensamentos?
Cambaleei um pouco ao andar, quase tropeçando de novo, mas me equilibrei a tempo, sorrindo fracamente de forma envergonhada.
— Você nunca perde essa mania? Está sempre cambaleando por aí? — ele comentou, com um leve tom de deboche, enquanto abria a porta para mim.
Não estava acostumada com esse tipo de gentileza vinda dele. Aquela cortesia casual me desmontava de forma inexplicável.
— O que está fazendo? Donovan não vai dirigir pra você hoje?
— Não. Eu sempre dirijo quando vou trabalhar. E você vai comigo.
— Não precisa… — comecei a dizer, tentando resistir, mas minha voz falhou.
/Obrigada. — ele respondeu, encerrando a ligação.
Eu me perguntei por quanto tempo ele já estava na linha sem que eu percebesse.
O dia foi… estranho.
Não o vi nem quando o expediente acabou. Achei que seria um dia turbulento, mas foi o contrário — calmo, quase leve. E, para minha surpresa, parecia que ninguém sabia da nossa relação. Soube até que tinham inventado uma nova história de fundo para mim. As pessoas estavam me tratando bem, perguntando se eu estava confortável, felizes pela saída do antigo líder da equipe.
Ouvi que ele já havia assediado outras funcionárias, mas como era muito próximo do diretor, ninguém conseguia se impor. Só agora, com a saída dele, houve um suspiro coletivo. Não tinham nada contra mim. Nada. E isso… foi um alívio imenso.
Voltei para a mansão com um dos motoristas da casa. Andrews ainda estava na empresa. Não sei o que ele estava fazendo… mas, por alguma razão, passei a tarde inteira ansiosa para vê-lo.
Esperei.
Mas a noite se estendeu… e eu acabei adormecendo sem vê-lo.
A casa estava mergulhada em silêncio quando acordei com um som suave... passos. Por um segundo, achei que fosse só coisa da minha cabeça. Mas não era. Tinha algo ali — algo real, que me puxava para fora da cama.
Levantei devagar, ainda meio sonolenta, e caminhei pelo corredor escuro. Quando virei a esquina, meu coração parou por um instante. Ele estava lá de pé a beira da escada.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.