—Kayra, a neve baixou. Estou indo embora.
Digo, caminhando com passos firmes em direção à casa, tentando não demonstrar a torrente de emoções que me consome.
—Agora? Mas você disse que ia ficar.
Entramos na sala, onde Okan está sentado ao lado do pai. Eles conversam em turco, as palavras fluindo entre eles como um laço ancestral que me exclui por completo.
—Sim, como viu, o gelo se foi. Não há perigo algum de eu ir. — Digo para ela, a voz soando resoluta, ainda que dentro de mim tudo esteja em frangalhos.
Okan interrompe a conversa, levantando os olhos em minha direção. Seu olhar desliza por meu rosto, avaliando-o com uma expressão indecifrável.
—Você não ficará até amanhã? — pergunta ele.
—Não. — Respondo, a garganta apertada. Tento soar indiferente, mas minha voz trai um pouco da mágoa que transborda em mim. — Ah, e parabéns pelo seu noivado. Kayra me contou. Disse que Sila é uma pessoa maravilhosa e será uma ótima esposa.
Seus olhos brilham com um entendimento que confirma minhas suspeitas. Ele sabe que agora eu sei de tudo.
—Obrigado. — Ele responde, seco, como quem carrega um peso maior do que gostaria de admitir.
Viro-me para Kayra, determinada a cortar qualquer chance de prolongar a conversa.
—Chegando em casa eu te ligo.
Ela me olha com tristeza nos olhos, talvez sentindo algo que não ouso dizer em voz alta.
—Tudo bem, mas ainda acho que deveria ficar até amanhã.
—Não, preciso realmente ir.
—Ok, ok... não insistirei mais.
Forço um sorriso para aliviar a tensão.
—Continuaremos nos falando, trocando mensagens. Agora vou pegar minha bagagem.
—Tudo bem.
Sinto o olhar do pai de Okan sobre mim. Ele permanece em silêncio, mas sua presença é um peso invisível. É como se ele me enxergasse como um perigo, alguém que pode desviar o filho de seus princípios e tradições.
Saio da sala com passos rápidos, o coração acelerado. Quando chego ao quarto, pego a escova de cabelo e começo a escová-los com força, descontando minha raiva.
Deus! Eu e Kayra falamos sobre tantas coisas nesses dias, e em nenhum momento ela mencionou o noivado de Okan! Que absurdo!
A indignação queima em meu peito, e uma lágrima teimosa escapa, escorrendo por meu rosto. Eu a limpo com raiva, como se quisesse apagar a própria dor. A porta se abre de repente, e meu corpo se enrijece, pronta para enfrentar quem quer que seja. Seguro a escova de cabelo como se fosse uma arma, esperando ver Okan entrar.
Mas é Kayra quem aparece, e solto o ar em alívio.
—Posso te ajudar? — pergunta ela, com uma calma que me irrita.
—Não tem nada para ajudar. Eu nem tinha desfeito minha mala. Tem pouca coisa para guardar. — Digo, colocando a escova de lado e guardando o carregador do celular no bolso lateral da mala. Então, olho para ela, tentando controlar o tom. — Então Okan está noivo? Que coisa! Todos esses dias falamos sobre tanta coisa e nenhum momento você comentou isso comigo.
Kayra dá de ombros, como se não fosse grande coisa.
—É que a natureza do noivado dele é difícil de vocês, com outros costumes, entenderem. Ele a conheceu há poucos dias. Para nós, esse tipo de coisa é muito comum. Okan está realizando o sonho de meu pai, ficando noivo de uma mulher de nossas origens.
As palavras dela me atingem como um golpe. Minha mente tenta processar o que ela disse. Há poucos dias? Dois dias atrás? Okan conheceu Sila há apenas dois dias?
Por um instante, quase o desculpo. Quase.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Romance Proibido
Não consigo liberar para leitura, mesmo tendo saldo disponível....
Fiz a compra e não desbloqueia para ler , falta de respeito com o leitor!!!...