O galpão abandonado cheirava a mofo e óleo de máquina, uma mistura nauseante que fazia meu estômago revirar ainda mais do que já estava. Matteo finalmente havia parado de chorar, exausto pelo stress da situação, mas eu podia sentir como ele estava tenso deitado em seu carrinho ao meu lado, como se mesmo sendo tão pequeno conseguisse perceber que algo estava terrivelmente errado.
Lorenzo caminhava de um lado para o outro próximo à entrada, verificando ocasionalmente seu relógio e olhando pela pequena janela suja que dava vista para a estrada de terra. Sua aparência estava muito diferente do homem elegante e sempre bem-vestido que eu conhecia. O cabelo desgrenhado, a barba por fazer, as roupas amarrotadas - era como se as últimas semanas de vida de foragido tivessem cobrado seu preço.
— Você deve estar com fome — disse de repente, se virando para mim e indicando uma sacola de papel que estava sobre uma mesa improvisada feita de caixotes. — Trouxe uns sanduíches.
Olhei para ele com incredulidade.
— Não vou comer nada que você me ofereceu — respondi friamente. — Não vou ingerir nada potencialmente envenenado.
Lorenzo parou de andar e me olhou com uma expressão que parecia genuinamente ofendida.
— Envenenado? — repetiu, como se a ideia fosse absurda. — Zoey, eu não sou um assassino. Nunca fui. Tudo isso... — gesticulou vagamente ao redor do galpão — só estou nessas circunstâncias por causa da sua amiguinha.
— Minha amiguinha? — perguntei, embora já soubesse a quem ele estava se referindo.
— Elise — disse o nome com evidente irritação. — Aquela mulher é uma cabeça quente. Age sem pensar nas consequências. Se ela tivesse seguido o plano original, nada disso teria acontecido.
Apesar do medo que sentia, minha curiosidade foi despertada. Talvez se eu conseguisse fazer Lorenzo falar, pudesse descobrir informações que ajudariam Christian e a polícia a entender toda a extensão da conspiração.
— Que plano original? — perguntei, tentando manter minha voz casual, como se estivéssemos tendo uma conversa normal.
Lorenzo me olhou por um momento, avaliando se deveria ou não responder. Então deu de ombros, como se já não importasse mais.
— O plano era muito mais simples — disse, voltando a caminhar. — A ideia era te afastar de Christian, fazer ele acreditar que você era uma traidora que entregou o projeto dele para a concorrência. Fazer vocês se separarem naturalmente.
— E depois?
— Depois ele se casaria com Francesca, como sempre esteve planejado — Lorenzo respondeu como se fosse óbvio. — As famílias Bellucci e Montero se uniriam. Francesca assumiria um papel importante na empresa, e a vinícola Montero se tornaria um braço da Bellucci.
Comecei a entender a lógica distorcida por trás de tudo.
— E você controlaria esse braço através da Francesca — concluí.
— Exatamente — Lorenzo sorriu, mas era um sorriso amargo. — Francesca concordou em me dar acesso total às operações da Montero. Eu poderia continuar com meus... negócios paralelos através deles. Transferências discretas, contas offshore, algumas importações e exportações que não apareceriam nos livros oficiais da Bellucci.
— Desvios de dinheiro — disse diretamente.
— Chamava de diversificação de investimentos — Lorenzo corrigiu com sarcasmo. — Durante anos funcionou perfeitamente. Pequenos valores aqui e ali, algumas operações criativas com Antônio, nada que chamasse atenção. Dava para viver confortavelmente.
— Mas Christian assumiu o controle total da empresa — provoquei.
A expressão de Lorenzo escureceu imediatamente.
— Ah, sim. O queridinho do meu pai finalmente assumiu seu trono — disse com amargura venenosa. — E uma das primeiras coisas que fez foi demitir Antônio do conselho europeu, cortar minhas fontes de renda, implementar auditorias que tornaram impossível continuar com as operações.
— Então vocês decidiram se livrar de mim para que ele se casasse com Francesca.
— Era a solução perfeita — Lorenzo confirmou. — Francesca ainda tinha sentimentos por Christian, estava disposta a fazer qualquer coisa para tê-lo de volta. E através dela, eu teria acesso não apenas à fortuna Montero, mas também a uma posição influente na própria Bellucci.
Senti uma raiva crescendo dentro de mim ao ouvir como minha vida, meu casamento, minha felicidade haviam sido tratados como peças descartáveis num jogo de xadrez financeiro.
— Mas algo deu errado — observei.
— Elise — Lorenzo praticamente cuspiu o nome. — Aquela mulher impulsiva arruinou tudo. O plano era sutil, gradual. Fazer você parecer uma traidora através de evidências plantadas, criar situações que levantassem suspeitas sobre suas motivações. Christian eventualmente perderia a confiança em você e o casamento se desfaria naturalmente.
— Como eu poderia me interessar por algo em que nunca fui considerado? — explodiu Lorenzo. — Você acha que eu não tentei? Você acha que foi fácil ser constantemente preterido em favor de uma criança?
Sua revolta estava ficando cada vez mais evidente, anos de ressentimento finalmente vindo à tona.
— Eu me casei com Isabella porque era isso que se esperava de mim — continuou, sua voz assumindo um tom quase confessional. — Uma mulher que nunca amei, um casamento arranjado para cumprir as expectativas familiares. Tive um filho porque era minha obrigação garantir a continuidade da linhagem Bellucci.
— E mesmo assim...
— Mesmo assim, nunca foi suficiente — terminou a frase por mim. — Não importava o que eu fizesse, nunca seria o favorito. Então parei de tentar. Se eles queriam me tratar como um estranho na minha própria família, pelo menos eu garantiria que ganhasse alguma coisa com isso.
— Roubando da empresa.
— Pegando o que era meu por direito — Lorenzo corrigiu firmemente.
Fiquei em silêncio por alguns momentos, processando tudo que havia ouvido. Era chocante perceber como nossa vida havia sido manipulada, como nosso amor havia sido visto como um obstáculo a ser removido.
— Você realmente acredita que estava certo? — perguntei finalmente.
Lorenzo me olhou como se a pergunta fosse absurda.
— Certo ou errado não importa mais — disse friamente. — O que importa é sobrevivência. E eu não pretendo passar o resto da minha vida numa prisão.
Olhou para o relógio no pulso e franziu o cenho.
— Christian tem menos de vinte minutos agora — disse, voltando a caminhar em direção à janela. — Espero que ele não esteja pensando em fazer nenhuma besteira.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário (Kayla Sango )
Cadê o restante do livro? Parou no capítulo 449....
Estava lendo sem pedir para comprar com moedas, e desde o capítulo 430 já não consigo mais. Fiquei bem chateada!...
A melhor foi a história da Zoey e Christian mesmo. Foi a mais emocionante....
Site tá uma porcaria cheio de propagandas que não tinha antes, atrapalhando a leitura....
21984019417...
Alguém mais está dando erro nos capitulos 426, 427 e 428?...
Cadê o capítulo 85 🥲...
Queria o final. Como faço?...
O meu travou no 406, mais as moedas estão sumindo...
O meu travou no 325...