O silêncio que se seguiu tinha uma qualidade especial, como se estivéssemos suspensos naquele momento sob as estrelas, sem passado nem futuro. Apenas nós dois e aquela vulnerabilidade compartilhada. De todas as coisas que Christian já havia me mostrado – a villa, os vinhedos, as adegas centenárias – este lugar, este momento, parecia o mais íntimo.
— Você vem aqui com frequência? — perguntei finalmente, quebrando o silêncio.
— Sempre que posso. — Ele ainda olhava para o céu, mas senti que sua mente havia vagado para outro lugar. — Menos do que gostaria. Os negócios consomem muito tempo.
— A vinícola.
— Sim. — Um suspiro. — A pressão nunca diminui. Meu vô acredita que estou pronto para assumir completamente, mas Lorenzo e Isabella têm outras ideias. O conselho está dividido.
— Por causa do projeto orgânico? — perguntei, lembrando do que Bianca havia mencionado.
Christian virou a cabeça rapidamente, seu olhar subitamente atento.
— Como você sabe disso?
Havia uma ponta de suspeita em sua voz que não passou despercebida.
— Bianca mencionou. — Senti a necessidade de explicar rapidamente. — Durante nossas aulas. Ela mostrou aquele livro de registros antigo na adega.
— O Livro dos Vinhedos. — Sua expressão relaxou um pouco, mas não completamente. — Bianca fala demais.
— Ela só estava tentando me ajudar a entender melhor os negócios da família.
Seus olhos se estreitaram quase imperceptivelmente.
— Existem coisas que precisam permanecer dentro da empresa, Zoey. — Sua voz era suave, mas havia uma firmeza subjacente. — O projeto orgânico é... delicado. Especialmente considerando sua experiência anterior.
— Minha experiência anterior?
— Na Vale do Sol. — Ele pronunciou o nome como se fosse algo levemente desagradável. — Uma concorrente direta.
Senti um frio no estômago.
— Christian, eu trabalhava em RP. Não tenho nenhum interesse em...
— Desculpe — ele me interrompeu, passando a mão pelo rosto. — Estou sendo paranoico. É só que... esse projeto significa muito para mim. É minha visão para o futuro da Bellucci. E já fui... traído... antes.
Francesca. Sempre Francesca. A sombra dela parecia se estender sobre nós mesmo a quilômetros de distância.
— Entendo. — Tentei manter minha voz neutra, embora a insinuação tivesse doído. — Mas agora que já sei... poderia pelo menos me contar mais? Estou mesmo interessada.
Ele hesitou, então assentiu lentamente.
— É um projeto de reconversão. Queremos transformar pelo menos um terço dos vinhedos para produção completamente orgânica nos próximos cinco anos. — Seus olhos se iluminaram enquanto falava, a paixão evidente. — Sem pesticidas, sem herbicidas, fermentação com leveduras selvagens. Vinho como era feito séculos atrás.
— Isso soa... revolucionário.
— E arriscado. — Ele se sentou, pegando a garrafa para servir mais vinho. — A margem de lucro inicial é menor. Há mais perdas nas primeiras safras. Lorenzo acha que é um devaneio romântico meu.
— E você? — perguntei, aceitando a taça que ele me oferecia. — O que acha?
— Acho que é o futuro. — Ele olhou para o líquido rubi em sua taça. — Mas mais do que isso, acho que é o certo a fazer. Pelo planeta, pela terra que tem sustentado nossa família por gerações.
Era fascinante vê-lo assim, totalmente imerso em sua paixão
— O que te inspirou? — perguntei.
Seu olhar se perdeu na distância.
— Quase perdi os vinhedos do norte há alguns anos. Uma praga se espalhou, matando centenas de videiras. Foi devastador. — Ele me olhou, e havia uma intensidade quase feroz em seu olhar. — Percebi que estávamos deixando um legado envenenado. Solo contaminado, ecossistemas destruídos. Não era o futuro que queria construir.
— E por isso criou o vinhedo de Zoey com esse método? — perguntei, lembrando das uvas que ele me mostrara.
Christian sorriu, pela primeira vez desde que começamos essa conversa.
— E nós? Você tem planos para... depois?
Havia muito peso naquele "depois". O final do nosso acordo. O fim dos seis meses.
Christian ficou em silêncio por tanto tempo que pensei que não responderia.
— Nunca pensei muito além da vinícola — disse ele finalmente. — Sempre foi minha prioridade. Meu propósito. Construir algo para o futuro, mesmo que...
— Mesmo que...? — incentivei quando ele parou.
— Mesmo que não haja ninguém para herdar.
Senti como se algo frio tivesse se alojado em meu peito.
— Você não quer... filhos? — A pergunta saiu quase em um sussurro.
Christian desviou o olhar, fixando-o em um ponto distante nos vinhedos abaixo.
— Aprendi cedo que negócios e famílias raramente se misturam bem. Lorenzo e Isabella são o exemplo perfeito. — Sua voz tinha uma qualidade distante. — Não quero criar uma criança apenas para cumprir alguma expectativa dinástica. Para passar adiante um nome ou uma empresa. Como fui criado.
— Mas nem todos os pais são como os seus — argumentei suavemente. — Algumas famílias são... diferentes.
— Talvez. — Ele deu de ombros, um gesto que parecia desmentir a casualidade com que tentava tratar o assunto. — Mas o mundo dos negócios é implacável, Zoey. Vejo o que faz com relacionamentos, com famílias. Vejo o que fez com os meus pais. Não tenho certeza se quero arriscar passar isso adiante.
As palavras dele me atingiram com uma finalidade que me deixou momentaneamente sem ar. Não era uma rejeição direta à ideia de filhos, mas deixava claro que não eram parte do futuro que ele imaginava.
E por alguma razão, isso doeu mais do que deveria. Afinal, nosso casamento tinha data para terminar. Qualquer pensamento sobre filhos seria absurdo.
— Está ficando tarde — disse Christian, olhando para o relógio. — Deveríamos voltar. Temos alguns dias agitados pela frente antes de retornarmos ao Brasil.
Enquanto arrumávamos as coisas e desmontávamos o telescópio, senti uma estranha melancolia se abater sobre mim. A noite havia começado como um conto de fadas, mas terminava com a dura lembrança de que realidade e fantasia raramente se alinham.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário (Kayla Sango )
Bom dia. Poderiam liberar 10 capítulos diários. É complicado ler assim, tipo conta gotas. Por isso muitos desistem dos livros e partem pra outros. Pensa nisso com carinho autora....
Poxa q triste, ficou chata demais a história, nas partes da Maitê eu nem gasto mais moedas, reviro os olhos sem perceber…. Li os dois primeiros livros duas vezes, mas essa Maitê dá ânsia...
Que descaso! Comprei as moedas está dizendo que o capítulo 508 está disponível, da erro qdo eu tento liberar e ainda computa as moedas....
Maitê foi um erro na vida de Marco...
Não faz sentido o que aconteceu com o Marco! Essa é a história dele, como assim?...
Cansativo demais. Só 2 capítulos por dia. Revoltante. Coloca logo um valor e entrega o livro completo. Só vou ler até minhas moedas acabarem. Qdo terminar não vou mais comprar. Desanimadora essa situação....
Está ficando cansativo demais, só está sendo liberado 1 ou 2 capítulos por dia (hoje só o capítulo 483)...afff... Ninguém merece.......
2 capítulos por dia, as vezes 1, é ridículo!!! Isso é claramente uma forma de arrecadar as moedas!! Quem sabe, calculem um valor para a história, e seus capítulos … cobrem e liberem!!! Quem quer ler vai pagar, essa forma de liberação só desestimula quem está lendo!!! Está pessimo, além , de opiniões pessoais sobre a obra!...
Estou gostando muito das estórias ….a única coisa é que cobra as moedas e não libera o capítulo …. Já perdi umas 30 moedas com essa situação !...
Que história mais vida louca... AMEI!!!...