Os últimos dias haviam sido uma forma única de tortura. Minha rotina matinal se resumia a um ritual patético: pegar o celular, digitar uma mensagem para Anne, apagar, reescrever, apagar novamente, até finalmente conseguir algo que não soasse desesperado demais. "Bom dia" parecia seguro. Perguntar como ela estava era arriscado - poderia parecer que estava cobrando uma resposta. Às vezes comentava sobre algo banal do meu dia, na esperança de que soasse natural.
Era um equilíbrio impossível entre me fazer presente e não invadir o espaço que ela claramente precisava. Cada palavra era pesada e repesada antes de ser enviada, cada mensagem uma tentativa cuidadosa de mostrar que não havia desistido sem parecer que estava implorando.
Mas a pior parte é o que acontece depois de enviar cada mensagem. Meu coração dispara toda vez que o celular anuncia uma nova notificação, uma parte ridiculamente esperançosa de mim pensando que pode ser Anne respondendo. Que talvez desta vez ela tenha decidido conversar, que talvez esteja pronta para me ouvir.
Nunca era.
Eram sempre e-mails de trabalho, notificações de aplicativos, mensagens de outras pessoas que não conseguiram ocupar meu pensamento por mais de dois segundos. A decepção se tornou uma companheira constante, um peso no peito que se instalou a cada falso alarme.
Tentei me distrair de todas as formas possíveis. Voltei para a academia com uma intensidade que não demonstrava há meses, corri pelas ruas de Londres até meus pulmões queimarem, li livros que não consegui realmente absorver. Mas nada funcionou completamente. Anne esteve sempre ali, na periferia de cada pensamento, em cada silêncio entre as palavras de conversas com outras pessoas.
A culpa foi constante e corrosiva. Fiquei repassando mil cenários diferentes em que eu poderia ter contado a verdade, momentos perfeitos que deixei passar por covardia ou má timing. Aquela noite na ponte em Bath, quando quase confessei tudo. Os momentos íntimos que compartilhamos quando eu poderia ter sido honesto. Cada oportunidade perdida me assombrou.
Até que recebi uma ligação de Bianca que me deixou ainda mais miserável, se é que isso era possível.
— Nate, você é um idiota — disse sem preâmbulos assim que atendi.
— Oi, Bianca. Bom dia para você também.
— Não me venha com sarcasmo. Anne me ligou completamente devastada, e eu tive que sentar e ouvir minha amiga me acusar de traição porque você não teve coragem de contar a verdade para ela antes que descobrisse sozinha.
A culpa se intensificou, se tornando quase física.
— Eu ia contar...
— Quando? — ela me interrompeu. — Quando exatamente você ia contar, Nate? Porque pelo que entendi, vocês passaram dias juntos em Bath, tiveram inúmeras oportunidades, e você simplesmente... não contou.
— Eu não queria estragar...
— Estragar o quê? O relacionamento baseado numa mentira fundamental?
Suas palavras cortaram mais fundo do que qualquer coisa Anne poderia ter me dito.
— Ela me odeia? — perguntei, odiando como minha voz soou vulnerável.
— Ela não te odeia — Bianca suspirou, seu tom suavizando ligeiramente. — Mas está confusa e magoada, e honestamente? Você merece. Deveria ter contado desde o começo, ou pelo menos quando percebeu que estava se apaixonando por ela de verdade.
— Eu sei — admiti miseravelmente. — Sei que estraguei tudo.
— Ainda não estragou tudo — disse após uma pausa. — Mas precisa consertar isso. De verdade, desta vez. Sem mais mentiras, sem mais omissões.
Concordei, embora não soubesse exatamente como fazer isso quando Anne nem sequer estava falando comigo.
— Os executivos usuais, alguns clientes importantes...
— Marco Bellucci vai estar?
Ah. Então foi isso.
— Provavelmente não — respondi, tentando manter um tom neutro. — Por que a curiosidade específica?
— Nenhuma razão em particular — disse rapidamente.
Quando o dia 30 de dezembro finalmente chegou, senti uma mistura de ansiedade e alívio. Amanhã, pelo menos, veria Anne novamente. Ela não cancelou sua presença na festa - verifiquei discretamente com a equipe de eventos, que confirmou que ela ainda estava na lista de confirmados.
Isso me deu uma pequena esperança. Se ela realmente não quisesse nada comigo, se estivesse completamente fechada para qualquer possibilidade de reconciliação, certamente evitaria um evento onde saberia que eu estaria. O fato de que ainda planejava comparecer sugeriu que talvez, apenas talvez, ela estivesse disposta a uma conversa.
Seria terreno neutro - um ambiente onde ambos precisaríamos manter certa compostura, cercados por colegas e clientes. Talvez isso fosse exatamente o que precisávamos: um lugar onde pudéssemos nos ver, avaliar onde estávamos, talvez encontrar uma forma de começar a reconstruir o que quebrei com minha covardia.
Passei a noite deitado na cama, olhando para o teto, ensaiando mil versões diferentes do que poderia dizer para ela. Como explicar meses de silêncio sobre algo tão fundamental. Como fazê-la entender que nunca foi sobre enganá-la, mas sobre medo de perdê-la.
Como convencê-la de que, apesar de tudo, o que tínhamos foi real. Que cada momento entre nós, cada conversa, cada toque, cada risada - tudo isso foi genuíno, mesmo construído sobre uma base que agora parecia tão frágil.
Amanhã. Amanhã eu teria minha chance de tentar consertar o que quebrei.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário (Kayla Sango )
Bom dia. Poderiam liberar 10 capítulos diários. É complicado ler assim, tipo conta gotas. Por isso muitos desistem dos livros e partem pra outros. Pensa nisso com carinho autora....
Poxa q triste, ficou chata demais a história, nas partes da Maitê eu nem gasto mais moedas, reviro os olhos sem perceber…. Li os dois primeiros livros duas vezes, mas essa Maitê dá ânsia...
Que descaso! Comprei as moedas está dizendo que o capítulo 508 está disponível, da erro qdo eu tento liberar e ainda computa as moedas....
Maitê foi um erro na vida de Marco...
Não faz sentido o que aconteceu com o Marco! Essa é a história dele, como assim?...
Cansativo demais. Só 2 capítulos por dia. Revoltante. Coloca logo um valor e entrega o livro completo. Só vou ler até minhas moedas acabarem. Qdo terminar não vou mais comprar. Desanimadora essa situação....
Está ficando cansativo demais, só está sendo liberado 1 ou 2 capítulos por dia (hoje só o capítulo 483)...afff... Ninguém merece.......
2 capítulos por dia, as vezes 1, é ridículo!!! Isso é claramente uma forma de arrecadar as moedas!! Quem sabe, calculem um valor para a história, e seus capítulos … cobrem e liberem!!! Quem quer ler vai pagar, essa forma de liberação só desestimula quem está lendo!!! Está pessimo, além , de opiniões pessoais sobre a obra!...
Estou gostando muito das estórias ….a única coisa é que cobra as moedas e não libera o capítulo …. Já perdi umas 30 moedas com essa situação !...
Que história mais vida louca... AMEI!!!...