(Larissa)
O tempo parecia ter parado depois que ouvi a conversa atrás da porta. Cada palavra entre Enzo e o capanga ecoava na minha cabeça como um trovão prestes a cair bem em cima de mim.
Emboscada. Alessandro. Galpão. Isca.
Meus olhos buscavam uma brecha, qualquer fresta de esperança. Tentei bater nas grades, gritei até minha garganta arranhar, implorei... mas ninguém apareceu. Só o som abafado da porta sendo destrancada me fez parar.
O coração disparou. Eles vinham me buscar.
A porta se abriu com um rangido lento. Dois capangas entraram, frios como pedra. Um deles me agarrou pelo braço.
— Anda — disse, como se eu fosse um saco de lixo.
— Não... não — murmurei, tentando resistir. — Por favor, não faz isso...
Eles me ignoraram. Um puxou com força, me desequilibrando e caí de joelhos, batendo o ombro na parede, mas eles não se importaram e me levantaram à força.
Me arrastaram pelos corredores escuros até uma outra sala. O cheiro era diferente ali, de umidade, mofo e algo podre, talvez até uma pessoa morta. Uma luz branca e dura iluminava o centro do cômodo, onde havia uma cadeira, um tripé com uma câmera velha e Enzo esperando, como se estivesse prestes a gravar um curta-metragem.
— A estrela chegou — ele disse, sorrindo como um psicopata. — Vamos, Larissa. Sentadinha.
Eu tremia. Cada passo até aquela cadeira doía. Eles me sentaram e senti meus olhos ardendo, a pele do rosto esticada de tanto chorar nas últimas horas.
— Você sabe o que tem que dizer, né? — Enzo cruzou os braços. — É simples: chama o seu amorzinho pra vir te salvar. Galpão da Estrada Velha. Um clássico.
— Você vai matar ele — eu sussurrei, com a voz falhando.
— Isso depende de você. Faça direito, e talvez ele viva mais um pouquinho. — Ele sorriu. — Ou não.
A câmera foi ligada. A luz fria bateu direto nos meus olhos e naquele momento, por fora, eu era só medo. Mas por dentro... por dentro eu me preparei.
— Grava — ordenou ele.
Engoli em seco. As lágrimas vinham antes mesmo de eu conseguir abrir a boca.
— Alessandro... sou eu. — falei, com a voz arranhando. — Por favor... eu tô com muito medo. Eles me trouxeram pra um lugar horrível. Você precisa vir, eu não sei mais o que fazer.
Parei por um segundo e olhei bem dentro da lente.
— É o galpão da Estrada Velha... aquele que você sempre dizia que parecia cenário de filme de terror. Lembra? — respirei fundo, segurando o choro. — Eu nunca gostei de filmes de terror, você sabe disso.
O sinal. Estava ali. Disfarçado, mas claro pra quem soubesse o que aquilo significava. E ele sabia, ele sabia que era mentira, que eu adorava filme de terror. Bem, pelo menos eu espero que nesses anos juntos, ele tenha percebido isso porque sempre brigava quando eu assistia e acordava a noite com medo.
— Vem sozinho, tá? Sem seguranças. Eles disseram que vão me machucar se você trouxer alguém. — As lágrimas escorriam sem parar. — Por favor... só vem.
— Corta — disse Enzo, satisfeito, como se tivesse acabado de produzir um clipe romântico.
Assim que a câmera desligou, eu desabei. Eu tinha medo de ele não perceber o sinal, dele ir para esse lugar e dá tudo errado. Por mais que ele tenha me feito sofrer, eu não queria que uma pessoa morresse por minha causa, ainda mais o pai do meu filho.
— Boa garota — Enzo disse, agachado ao meu lado. A voz dele parecia de veneno. — Agora vamos ver se ele te ama mesmo, né?
Eu não respondi. Nem conseguia respirar direito. Alessandro não me amava, mas sei que agora que ele sabe sobre Gabriel, ele tentaria ao máximo me manter viva.
***
Enzo me arrastou de volta para a cela depois da gravação.
Meus joelhos quase não sustentavam o peso do meu corpo. A garganta doía, os lábios estavam rachados e minha cabeça parecia prestes a explodir. O cheiro do corredor de metal, sangue e suor, grudava na minha pele como uma segunda camada de miséria.
— Vai lá descansar, estrela — disse Enzo, debochado, antes de empurrar a porta da cela e me lançar pra dentro.
Tropecei e caí de joelhos no chão frio.
— Tem uma... pasta — Matheus continuou, com esforço. — No fundo falso do armário, no outro cômodo... tem extrato, senha, localização da conta. É a única prova contra ela. Enzo não sabe.
— E tem saída, alguma forma de sair daqui? Você já veio aqui antes?
Ele fechou os olhos por um instante, respirando com dificuldade.
— Sim… vim algumas vezes com Enzo anos atrás. Tem... tem um alçapão... no galpão de cima... atrás do painel de madeira com símbolo queimado... uma fênix. Ele leva pra uma tubulação antiga e sai perto da estrada.
— Obrigada, Matheus. Obrigada — sussurrei, segurando a mão dele.
— Me desculpa... — ele murmurou. — Eu fui um idiota por acreditar nela e acabei fazendo coisas muito más.
A mão dele afrouxou.
— Matheus?
Ele não respondeu. Estava inconsciente de novo.
Me afastei, tremendo, olhando ao redor como se as paredes pudessem me ouvir.
Chiara tinha enganado todo mundo.
Enzo estava mais perigoso do que nunca.
Eu encostei na parede fria da cela, abraçando meus joelhos. Agora eu sabia. Sabia tudo.
E se eu não fizesse nada... Alessandro ia morrer por minha culpa.
Não. Eu ia sair daqui. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...