O jantar foi tranquilo, quase terapêutico. Teresa falava sobre as flores do jardim, Lúcio reclamava que ninguém deixava ele colocar mais azeite na comida por causa do colesterol, e por alguns minutos, a vida parecia simples de novo.
Depois que terminamos, Lúcio se levantou com um brilho no olhar.
— E aí, garota. Que tal um xadrez? Faz tempo que não tenho uma adversária decente.
— Não garanto muita coisa — ri, me levantando — mas topo.
Fomos até a sala de estar. A mesinha já tinha um tabuleiro clássico de madeira pronto. Ele tirou as peças da caixa com o mesmo cuidado de quem lida com uma relíquia.
— Essa aqui foi presente do meu pai. Ganhei quando tinha uns doze anos. — Ele ajeitou as peças. — Vamos ver se você ainda lembra como se j**a.
Joguei. E joguei bem. Até ganhei uma partida — mas Lúcio jura que deixou.
Entre uma jogada e outra, conversamos de tudo. Filmes antigos, receitas, viagens. Nenhuma menção a Alessandro. Nenhuma pergunta sobre trabalho, sobre empresa, sobre tudo aquilo que estava me sufocando.
Enquanto isso, lá no quarto, meu celular vibrava sem parar. Estava carregando no criado-mudo, longe de mim. Alessandro devia estar ligando. De novo e de novo. Mas naquele momento, eu não queria saber. Não queria escutar a voz dele, não queria mais uma discussão. Só queria respirar.
***
O sol da manhã mal tinha se espalhado por completo quando vesti um moletom leve e desci as escadas devagar. A mansão estava silenciosa, só o som dos passarinhos no jardim quebrava o silêncio. Quando cheguei à porta dos fundos, encontrei Teresa já me esperando, com uma xícara de chá nas mãos.
— Dormiu um pouco melhor? — ela perguntou com aquele sorriso gentil.
— Um pouco, sim… — respondi, me sentando no degrau e fechando os olhos por um instante para sentir o vento fresco no rosto.
— Vamos dar uma caminhada? O jardim tá bonito, plantaram lavanda perto da cerca. — Teresa esticou a mão, e eu aceitei com um sorriso cansado.
Caminhamos em silêncio por alguns minutos. O som dos nossos passos na grama, o perfume das flores, o canto dos pássaros… tudo parecia tão longe do caos que minha vida tinha virado.
Chegamos até um banco de madeira antigo, debaixo da árvore de folhas largas que ficava perto da estufa de vidro. Sentamos ali, e eu respirei fundo, tentando encontrar alguma estabilidade dentro de mim.
Teresa foi quem quebrou o silêncio.
— Eu já sei, Larissa.
Olhei pra ela, confusa.
— Sabe… o quê?
— Sobre o divórcio — ela falou com calma, mas com pesar nos olhos.
Fiquei parada por um momento, sem saber como responder. Meu peito apertou.
— Como a senhora…?
— Ah, minha filha… — ela soltou um longo suspiro e ajeitou a echarpe nos ombros. — O Alessandro pode ser empresário, inteligente e cheio de pose… mas continua sendo um burro quando se trata de sentimentos. Ele chegou aqui outro dia e ficou enrolando, dizendo que ia fazer uma viagem importante, tentando disfarçar… mas eu sei quando tem algo errado. E com aquela Chiara voltando feito um fantasma mal-intencionado… não é difícil juntar as peças.
Abaixei o olhar, sentindo um nó na garganta. Teresa segurou minha mão com carinho.
— Nunca gostei daquela Chiara. Nunca. Tem pessoas que a gente sente no ar, sabe? Aquela menina não tem boa energia… tá na cara que é puro interesse, mas o Alessandro é cego por ela. Sempre foi.
— Eu não sei o que ele vê nela… — murmurei, mais pra mim mesma do que pra ela.
—Ele acha que é amor. Mas aquilo ali é vaidade. Ela é bonita, elegante, sabe seduzir, mas amor… amor não é isso. — Teresa apertou minha mão. — E você, minha querida… você é tudo o que ele precisava, mas ele é estúpido demais pra ver.
As palavras dela bateram com força, e eu desabei. As lágrimas vieram novamente, silenciosas no começo, depois quentes demais pra serem contidas. Teresa me puxou pro seu lado e me envolveu num abraço apertado.
— Eu não vou mais insistir pra vocês manterem esse casamento. — ela sussurrou, acariciando meu cabelo. — Não dá pra te ver assim, desse jeito… sofrendo, quebrada. Você merece muito mais, minha filha. Muito mais.
— Obrigada… obrigada por me entender — falei entre soluços.
Ela se afastou só um pouco pra me olhar nos olhos.
— Só me promete uma coisa?
Assenti, ainda chorando.
— Não conta pro Lúcio ainda. Deixa ele saber só quando os papéis estiverem assinados. Ele é mais teimoso que eu, vai ficar tentando reverter tudo. E você já tá cansada demais.
— Tá bom… eu prometo — falei, enxugando o rosto.
— E mais uma coisa… — ela sorriu, os olhos marejados também. — Não se afasta da gente, Larissa. Você sempre vai ser a nossa netinha, mesmo que não seja mais a esposa do Alessandro. Esse lugar aqui também é seu.
Não consegui falar nada. Só assenti com a cabeça e deixei outra lágrima escorrer. Teresa me puxou de novo pro abraço e ficamos ali, em silêncio.
O final de semana com Teresa e Lúcio me fez mais bem do que eu imaginava. Era como se, pela primeira vez em semanas, eu tivesse conseguido respirar fundo sem sentir que o mundo estava desabando sobre mim. Dormi, comi direito, joguei xadrez, ouvi histórias antigas… e chorei também, claro. Chorei muito. Mas ali, acolhida, ninguém me julgava por isso.
Na segunda-feira, acordei cedo. Despedi-me dos dois com um beijo, prometendo visitá-los mais vezes. Teresa me abraçou forte, sussurrando no meu ouvido.
— Seja forte. E lembra que você tem onde voltar. Sempre.
— Você tem certeza disso?
— Tenho. Já pensei bastante e não tem volta.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se tentasse respeitar meu espaço. Depois, assentiu devagar.
— Tudo bem. Eu não vou insistir. Você é excelente no que faz, Larissa e vai fazer falta. Mas se é uma decisão pensada, eu aceito. Só peço que cumpra o aviso prévio.
— Claro, sem problemas. — sorri com educação. — Eu mesma faço a transição tranquila com quem for assumir.
— Obrigado. — ele sorriu, mais triste. — Desejo que você seja feliz nesse novo caminho.
— Obrigada, de verdade. Por tudo.
Saí da sala dele com o coração mais leve.
No corredor, ao passar pela sala de Rafael, parei sem querer. A porta estava entreaberta… e o espaço vazio. A cadeira dele, a caneca de café, os papéis que sempre ficavam espalhados… nada estava ali. Doeu.
Ele já devia estar no aeroporto, talvez até no avião, indo para a Alemanha.
Por minha causa.
Suspirei, encostando o ombro na parede por um instante.
— Me perdoa, Rafa… eu vou te explicar. Prometo.
Depois de um tempo, respirei fundo e fui para a minha sala. Sentei na cadeira e olhei em volta, sentindo o espaço como estranho, como se não fosse mais meu. Abri meu notebook e comecei a organizar tudo para deixar o lugar em ordem. Eu queria sair com dignidade.
Alessandro ainda não tinha chegado. E eu sabia por quê.
Ele devia estar viajando com a Chiara.
Engoli em seco. Ainda doi pensar nisso, mesmo depois de tudo. Eu ainda o amava. Ainda sentia falta dele, me pegava lembrando de cada detalhe, de cada sorriso, de cada abraço no meio da madrugada.
Mas esse sentimento… ele ia morrer. Um dia ia. E quando isso acontecesse, eu finalmente seria livre.
Só mais duas semanas.
Depois, ele saberia sobre o bebê.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...