Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 70

Não respondi de imediato. Virei a segunda dose e me servi mais uma vez.

Diogo se aproximou e tirou a garrafa da minha mão.

— Vai com calma, cara.

— Me devolve essa merda. — falei entre os dentes, irritado.

— Não. — ele segurou firme a garrafa. — Me fala o que tá acontecendo. Você sempre foi contra traição, contra esse tipo de atitude. Então por que tá fazendo isso com a Chiara?

Olhei pra ele, a raiva fervendo, a vergonha apertando o peito, a confusão me sufocando.

— Me diz uma coisa... — minha voz saiu mais baixa, rouca. — Com quem diabos a Larissa tá?

Diogo estreitou os olhos.

— Que?

— É isso que eu quero saber. — continuei. — Com quem ela tá, Diogo? É com você? Com aquele tal de Guilherme? Ou é com o Rafael?

Ele ficou em silêncio.

E então sorriu. Aquele maldito sorrisinho de canto, como se soubesse de algo que eu não sabia. Como se eu estivesse se afogando e ele fosse o único com colete salva-vidas.

— Responde, porra! — gritei.

O sorriso só aumentou, o que me deixou ainda mais fora de mim.

Meu punho cerrava por instinto. Se ele me dissesse que tava com ela, que dormiu com ela, que ela escolheu ele...

Eu não sabia o que seria capaz de fazer.

Diogo ficou me encarando depois do meu grito. Aquele maldito sorriso ainda estampado no rosto dele.

— Eu não sei com quem ela tá, Alessandro. Mas comigo não é. — ele finalmente disse, indo até o bar e se servindo de uma dose como se tudo estivesse tranquilo.

Fiquei olhando pra ele, ainda com o sangue fervendo.

Ele virou a bebida de uma vez, e então me encarou de novo com aquele olhar que eu sempre odiei: como se soubesse mais do que eu.

— Mas me diz... por que isso tá te irritando tanto? — ele perguntou, com a voz baixa, sem pressa. — Foi você quem escolheu isso, lembra? Foi você quem mandou ela embora, quem colocou ela na rua grávida. Foi você quem destruiu a empresa do pai dela, quem deixou ela sem um centavo. Tá arrependido agora?

O jeito como ele falou aquilo, como se cuspisse cada palavra com um sorriso torto, me fez perder a cabeça. Tinha veneno ali. Muita coisa entalada.

Arranquei a garrafa da mão dele e enchi meu copo até a borda.

— Não é arrependimento, caralho. Eu só... — respirei fundo, sentindo o cheiro do álcool me subir até a testa. — Eu fiquei confuso, só isso.

— Confuso, né? — ele riu sem humor, sentando na cadeira dele atrás da mesa. — Engraçado. Se você realmente não se importasse, essa confusão nem existia. Afinal de contas, Larissa te traiu, não foi? Você não lembra disso?

O sarcasmo dele bateu forte, como um tapa.

Me levantei, ainda segurando o copo, e caminhei até a parede de vidro. A vista da cidade lá embaixo parecia pequena. Carros, gente, tudo insignificante. Respirei fundo, tomando um gole mais lento dessa vez.

— Eu lembro. Claro que lembro. — falei baixo, o tom mais cansado do que eu queria admitir. — Só que parece que... sei lá. As coisas não foram resolvidas do jeito que deviam.

— O que mais você queria resolver, Alessandro? — Diogo perguntou, a voz mais firme agora. — Você acabou com a vida dela.

Virei pra ele, devagar. Me aproximei, com o copo na mão, os olhos cravados nos dele.

— Foi você quem ajudou ela esse tempo todo, não foi?

Ele deu de ombros, sem qualquer sinal de culpa.

— Fui.

— Por quê? — minha voz saiu mais rouca. — Você não é meu amigo?

— Sou. Mas também sou amigo da Larissa. E eu nunca ia abandonar uma mulher grávida, ainda mais do jeito que ela ficou. Você acha que foi fácil vê-la naquele estado?

A palavra grávida bateu na minha cabeça como uma marreta. O peito apertou. Suspirei, tentando controlar aquela merda toda dentro de mim.

— O garoto... — comecei, sem coragem de encarar Diogo. — Ele me parecia familiar.

Diogo pigarreou, desconfortável.

— Gabriel tem muito da Larissa. Ele é inteligente, esperto, protetor. Um garoto de ouro.

Virei pra ele de novo.

— Você tem proximidade com ele?

— Sim. Bastante. — ele respondeu, sincero.

Passei a mão no rosto, sentindo um calor estranho atrás dos olhos. A bebida já me deixava meio tonto, mas não era só isso.

— Antes de eu mandá-la embora... — falei devagar, sem encará-lo — ...Larissa disse que o filho era meu.

Diogo ficou em silêncio. E quando respondeu, a voz veio mais fria:

— E por que você tá quebrando a cabeça com isso agora? Você não acreditou nela antes. Você colocou ela pra fora. Por que diabos tá trazendo tudo isso de volta agora?

Joguei o corpo pra trás, irritado, virando o resto do copo.

— Eu não sei, porra! — rosnei. — Eu só... é mais forte do que eu, entendeu?

Ele se levantou e arrancou o copo da minha mão de novo, me encarando sério.

— Agora você tá vendo quem é a Larissa. Talvez já soubesse desde o começo, mas deixou o orgulho te cegar. — ele suspirou. — Você devia ir pra casa.

O rádio do carro tocava uma música qualquer, mas eu nem ouvia. A cidade estava acesa, movimentada demais pra um sábado à noite, mas pra mim tudo parecia em câmera lenta. Estava a caminho do hotel, já tinha decidido não voltar pra casa. Chiara era a última pessoa que eu queria ver agora. Talvez a última com quem eu queria estar.

Mas então, quando parei no semáforo, vi algo que fez meu estômago revirar.

Um carro preto estacionou no outro lado da rua, em frente ao prédio de condomínios de luxo. E ali estavam eles.

Larissa e Rafael.

Ela desceu primeiro. Usava um vestido claro, simples, mas que parecia ter sido feito pra ela. O cabelo solto, os ombros relaxados. Ela ria. Ria com leveza. Depois Rafael deu a volta no carro e ela naturalmente enlaçou o braço no dele, como se aquele gesto já fosse hábito.

O riso, o toque, a cumplicidade... aquilo me atingiu com a força de um soco.

Eles moravam juntos? Ali? Naquele prédio?

Apertei o volante com força. Me inclinei um pouco no banco, observando de longe enquanto eles se dirigiam para a portaria do condomínio. O porteiro abriu a porta com um aceno simpático. Rafael passou a mão nas costas dela, em um gesto rápido, quase automático. E ela nem se incomodou.

Natural. Íntimo.

E eu ali. Escondido. Assistindo como um maldito intruso. Suspirei e fechei os olhos por um segundo. A minha cabeça parecia que ia explodir.

Por que eu precisava saber disso? Por que isso importava tanto? Por que ela ainda era uma obsessão presa dentro do meu peito?

Quando abri os olhos, os dois já estavam entrando no prédio. A porta de vidro se fechou atrás deles como um aviso.

Fim.

Bati com a mão no volante, irritado comigo mesmo. Eu não tinha o direito de sentir nada. Nada. Fui eu quem expulsou ela da minha vida porque ela me traiu!

Mas ainda assim... ver ela com ele, tão feliz, tão leve... doía.

Doía como o inferno.

Abaixei o vidro e respirei fundo, tentando acalmar o coração que martelava no peito como se quisesse escapar. A noite estava quente, o ar carregado. Mas dentro de mim, tudo era confusão.

Ela seguiu em frente.

Eu continuei ali, parado, no sinal verde que eu ignorei. A mão foi ao bolso e peguei o celular. Por um segundo pensei em ligar, ou mandar mensagem. Qualquer coisa.

Mas o que eu diria?

"Você tá feliz com ele?"

"Você ainda pensa em mim?"

"Gabriel é meu filho?"

Engoli em seco.

Nada faria sentido. Nem pra ela. Nem pra mim.

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