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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 159

Alessandro me deixou em casa e foi para a dele. Suspirei baixinho enquanto fechava a porta, com aquela paz leve que ele sempre deixava quando ia embora. Entrei devagar com Gabriel no colo, já desabado de sono, e o coloquei na cama com carinho.

Tínhamos jantado em um restaurante e eu não iria acordar ele para banhar. Hoje, ele escaparia. Meu pai também já tinha se recolhido.

Tomei outro banho e voltei para sala, vendo Rafael sentado no sofá com os olhos presos na tela do notebook, mas o olhar… distante. Algo estava errado. Franzi o cenho e me aproximei devagar.

— Tá tudo bem? — perguntei, sentando ao lado dele.

Ele demorou alguns segundos pra me responder, os dedos parados sobre o teclado, e então soltou um suspiro pesado.

— O sócio da filial da Alemanha… tá desviando dinheiro da empresa.

— O quê?! — me endireitei no sofá, sem acreditar. — Rafael, como assim?

— Eu comecei a desconfiar há uns dias, desde que o financeiro me mandou uns relatórios estranhos. — Ele passou a mão no rosto, visivelmente cansado. — Hoje eu fui até o sistema, olhei umas transações antigas, comparei com o fluxo de estoque e... é isso. Ele tá desviando. E nem tenta esconder direito. Deve achar que ninguém aqui do Brasil vai perceber.

— E o que você vai fazer? — perguntei, já com o coração apertado.

— Vou deixar uma equipe responsável aqui pela nova instalação na cidade. Já até separei os nomes. E… — ele fechou o notebook devagar — ...vou voltar pra Alemanha. Preciso descobrir o que, diabos, esse cara tá querendo. E por quê fazer isso tão na cara dura.

— Quer que eu fale com o Alessandro? Ou com o Diogo? Eles podem ajudar com advogados, investigação...

— Não, Lari — ele negou com a cabeça. — Dessa vez, é comigo. Eu vou dar um jeito nisso, mas se eu precisar, eu sei com quem contar.

Fiquei em silêncio por um momento e depois apoiei minha cabeça no ombro dele, abraçando de lado.

— Então quer dizer que você vai ficar um tempo fora?

— É — ele respondeu com um pesar na voz. — Mais do que eu queria. Não posso chegar lá acusando sem provas. Tenho que agir certo. Reunir tudo. Se não, quem sai perdendo sou eu.

— Você vai conseguir, eu sei que vai. — Olhei pra ele com carinho. — Mas se precisar de mim, qualquer coisa, me avisa. Tô aqui, sempre.

— Obrigado, Lari. — Ele sorriu de lado, cansado, mas sincero.

— Já comprou a passagem?

— Comprei sim. Vou amanhã à tarde. Queria, pelo menos, passar a manhã com vocês.

Assenti, tentando disfarçar o aperto no peito.

— Vai fazer falta aqui.

— Você também vai — ele disse, me puxando pro lado pra um abraço mais apertado.

Ficamos ali, em silêncio, por alguns minutos. Só o som baixo da TV de fundo e o ruído abafado da rua do lado de fora.

Às vezes, as pessoas entram na nossa vida com tanta força que, mesmo quando elas saem por um tempo… o espaço que elas deixam parece grande demais.

E eu sabia que Rafael ia fazer falta.

Mas também sabia que ele era forte e ele ia resolver isso.

Porque se tem uma coisa que o Rafael nunca fez… foi desistir fácil.

***

Eu estava pronta. Ou pelo menos, o mais pronta que meu coração aguentava estar. O vestido se ajustava perfeitamente ao corpo, leve, delicado… como um sopro de uma nova vida. Mas o que realmente apertava era o coração.

As mãos suavam, minha barriga parecia ter mil borboletas agitadas. E mesmo sendo uma renovação de votos, parecia, ou melhor, era meu primeiro casamento de verdade.

Olhei para o celular de novo. Rafael tinha mandado uma mensagem mais cedo, dizendo que estava bem. Já faz duas semanas que ele tinha voltado pra Alemanha. Ele contou por telefone que tinha descoberto algo a mais, que parecia ter outra pessoa envolvida naquele roubo, mas que ainda não sabia quem.

Me preocupei, claro. Ele estava sozinho, e por mais que eu confiasse nele, ainda era Rafael… e ele também merecia alguém por perto.

— Ei — Cathe se aproximou, ajeitando um cacho solto do meu cabelo. — Hoje não. Hoje é seu dia. Rafael sabe se virar e você merece viver esse momento com o coração leve, tá?

Assenti, guardando o celular com um sorriso meio tímido.

— Eu tô nervosa — confessei, rindo sem graça. — Mais do que da primeira vez. É estranho, né?

— Não é. Porque agora é de verdade e você tá indo de coração inteiro. — Ela sorriu. — E ele também.

Respirei fundo e me olhei no espelho pela última vez. Dei um passo para trás quando a porta se abriu e vi meu pai parado ali, me esperando.

Os olhos dele estavam marejados, mas com aquele brilho de orgulho que só ele conseguia ter. E só por tê-lo ali comigo hoje… já era tudo.

— Filha… você tá deslumbrante — ele disse, emocionado, estendendo o braço pra mim.

Enlacei o meu ao dele com um sorriso emocionado.

A música começou a tocar. E meus pés pareceram flutuar enquanto a gente caminhava.

Quando olhei para o altar, lá estava ele.

Alessandro.

O homem que, no começo, eu achei que jamais me amaria. E que hoje… era tudo. Era lar. Era meu futuro.

Dessa vez, ele não me olhava com frieza ou obrigação. Não havia nada de contrato entre nós. Apenas amor, puro e verdadeiro.

Os olhos dele estavam cheios d’água. Tentava limpar com um lencinho, mas era em vão quando outra lágrima escorria logo em seguida.

Senti meus olhos arderem também.

Gabriel estava ali, todo sério segurando a almofada com as alianças. A gravatinha torta e o sorriso sapeca no canto do rosto denunciavam sua felicidade. Meu menino.

Quando chegamos no altar, meu pai olhou pra Alessandro com firmeza e carinho.

— Cuida dela, dos dois. Eles são o bem mais precioso da minha vida.

Alessandro assentiu com os olhos ainda marejados.

— Eu vou cuidar, senhor. Pelo resto da vida.

Meu pai me beijou no rosto e se retirou. Ficamos nós dois e o mundo pareceu silenciar.

— Você tá linda — ele sussurrou, com um sorriso que me desmontou por dentro.

— E você… tá chorando de novo.

— Porque eu ainda não acredito que tenho você. Que ganhei tudo isso.

Viramos para o cerimonialista, que começou a falar palavras lindas sobre amor, recomeços, redenção. Eu mal ouvia. Meu coração batia tão alto que abafava tudo.

Veio a hora dos votos.

Alessandro começou, a voz falhando no começo.

— Lá embaixo da casa na árvore! Ele tava caído no chão, mãe. Tava tentando voar, eu acho, mas não consegue. A gente tem que cuidar dele!

A forma como ele falava, os olhinhos arregalados e cheios de preocupação, apertaram meu coração.

— Claro que vamos cuidar. — estendi as mãos, pegando o passarinho com cuidado. — Ele vai ficar bem, meu amor. A gente leva no veterinário, ok?

Ele assentiu, os olhos atentos ao bichinho. Foi quando ouvimos o barulho do carro entrando na garagem.

— PAPAI! — ele gritou, disparando em direção ao portão. — PAPAI, OLHA O QUE EU ACHEI!

Alessandro desceu do carro ainda ajeitando a manga da camisa e sorrindo quando viu Gabriel correndo em sua direção.

— O que você aprontou dessa vez, hein?

— Não aprontei! Salvei! — ele mostrou o passarinho com orgulho. — Ele tava machucado, a gente vai levar no médico de passarinho.

Eu me aproximei, com o passarinho nas mãos.

— Vamos sim, já estava indo ao veterinário — mostrei o bichinho pra Alessandro. — Ele achou debaixo da casa na árvore.

Ele se curvou levemente, olhando o filhote.

— Pequeno guerreiro, hein?

— Igual eu, né? — Gabriel sorriu todo convencido, e nós dois rimos.

— Como foi com sua mãe? — perguntei, observando o jeito como o olhar dele ficou um pouco mais baixo.

Ele suspirou e veio até mim, passando a mão de leve pela minha cintura antes de deixar um beijo demorado na minha testa.

— Igual sempre. Disse que não queria me ver. Falei com a enfermeira, pelo menos tá comendo, tomando banho sozinha. Saiu do quarto essa semana… pra ir até a varanda.

Assenti, tentando segurar o aperto que senti no peito. Eu sabia que aquilo doía nele, mesmo que ele tentasse não demonstrar tanto.

— Ela vai melhorar. — falei baixo, acariciando o braço dele. — Um passo de cada vez.

— Tomara — ele murmurou. — Mas enfim… vai lá com nosso pequeno herói. Quando voltar, quero meu prêmio.

— Prêmio?

— Suas almôndegas. Você prometeu.

Soltei uma risadinha.

— Tá bom. Só se prometer tomar um banho e descansar enquanto a gente vai.

— Prometido. Mas só se você me der mais um beijo.

Beijei ele rapidinho, antes de ouvir Gabriel chamar da porta:

— MÃE! Ele precisa de ajuda! Ele pode morrer!

— Já tô indo, meu amor!

Coloquei o passarinho delicadamente dentro da caixa de sapatos, com um paninho macio embaixo. Gabriel ficou o tempo todo colado, olhando o bichinho com um cuidado tão doce que me deu vontade de chorar.

Enquanto saíamos e ele segurava minha mão, indo todo animado pro carro, uma certeza tomou conta de mim. Nossa família estava crescendo. E dessa vez… eu não tinha medo.

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