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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 172

Alice

05-09 - Segunda

Acordei com o seu cheiro e calor no meu corpo. Senti seu braço pesado em volta da minha cintura e sua perna jogada sobre a minha, como se quisesse me manter ali, presa. Sua respiração estava calma, soprando de leve em meu pescoço e por um momento… por um maldito segundo, desejei ficar.

Mas eu não podia fazer isso. O sexo foi intenso, alucinante, maravilhoso, do tipo que a gente lembra por anos, mas é só isso. Só sexo. Isso que eu disse a ele e é nisso que eu tenho que acreditar.

Me mexi devagar tirando o braço dele com cuidado, e parei quando o ouvi resmungar algo incoerente no sono. Aproveitei que ele virou pro outro lado e me levantei, sentindo um arrepio percorrer a pele nua ao deixar os lençóis.

Caminhei até a janela enorme do quarto e encarei a cidade acordando. O céu tingido de azul-alaranjado, os prédios ainda com poucas luzes acesas... tudo calmo demais pra combinar com a bagunça dentro de mim.

Peguei meu celular e, sem pensar, virei a câmera pra cama.

Ele estava ali, dormindo de lado, o lençol cobrindo só até o quadril, deixando à mostra os músculos definidos das costas, a curva do ombro e o pescoço forte. Um verdadeiro pecado em forma de homem.

Cliquei e tirei uma foto.

Talvez só pra provar pra mim mesma depois que isso aconteceu de verdade.

— Porra, Diogo... — sussurrei baixinho, sorrindo sozinha. — Você é bom demais pra minha sanidade.

Peguei minhas roupas jogadas no chão e fui vestindo uma peça de cada vez, ainda tentando ignorar a vontade ridícula de me deitar de novo ao lado dele. De prolongar mais um pouquinho aquele momento.

Mas não. Acordar assim, com um homem maravilhoso como ele ao meu lado, parecia uma armadilha perigosa.

E eu não podia me deixar cair, não agora.

Minha vida já estava cheia de problemas, boletos e uma bomba-relógio no meu corpo chamada diabetes. A última coisa que eu precisava era de sentimentos.

Terminei de me arrumar, amarrei o cabelo num coque desajeitado e dei uma última olhada pra ele dormindo. Era uma pena ir embora sem mais uma rodada... mas a noite tinha sido perfeita, e eu preferia encerrar no auge.

Fechei a porta devagar, descendo pelo elevador em silêncio. Peguei o celular e pedi um Uber, me jogando no banco de trás quando o carro chegou.

Era o fim de um capítulo, sem arrependimentos ou pelo menos, era o que eu estava tentando convencer meu coração.

***

Abri o portão devagar e entrei, jogando a bolsa no sofá assim que passei pela sala .A casa estava silenciosa quando cheguei, nenhum sinal de que Julio tinha dormido em casa também. Provavelmente terminou a noite nos braços de algum boy maravilhoso, como ele mesmo diria.

Meus pés doíam, minha cabeça estava leve demais e... bom, havia uma ardência entre minhas pernas que deixava bem claro que a noite foi intensa. Diogo sabia o que fazia, isso eu não podia negar.

Tomei um banho rápido, a água morna escorrendo pelo corpo como se pudesse lavar a lembrança da pele dele da minha. Mas, é claro, não lavou.

Me joguei na cama ainda com os cabelos úmidos, puxei a coberta até o queixo e fechei os olhos. Tinha tempo até as 11:30, daria pra dormir mais um pouco e não parecer uma zumbi ambulante no restaurante.

Despertei com o barulho irritante do celular às nove da manhã. Resmunguei, estiquei o braço e desliguei o alarme com um tapa.

Me espreguicei devagar, sentindo os músculos doloridos e, claro, a memória vívida da noite anterior invadindo minha mente feito um furacão. Me virei de barriga pra cima, encarando o teto com um sorrisinho idiota no rosto.

— Droga... — murmurei pra mim mesma. — Foca, Alice. Sem viagens.

Levantei, prendi o cabelo num coque bagunçado e fui direto pra cozinha. Coloquei a água no fogo, preparei um café forte e, enquanto ele passava, esquentei um pedaço de lasanha que o Julio tinha feito ontem. Graças aos céus por ter ele, além de ser um bom amigo, cozinhava bem melhor que eu.

Comi rápido, lavei a louça e voltei pro quarto. Vesti o uniforme preto do restaurante, ajeitei o cabelo com uma presilha e mandei uma mensagem pro Julio.

“Cheguei em casa, estou viva, e indo trabalhar. Depois a gente se fala.”

Guardei o celular na bolsa, conferi se tinha a insulina e os remédios e saí. O sol já começava a castigar, mas pelo menos o céu estava limpo.

Cheguei na parada de ônibus, sentei no banco de cimento meio rachado e fiquei ouvindo a playlist do celular enquanto o ônibus não vinha. Quando ele finalmente apareceu, me ajeitei lá no fundão e deixei a cidade passar pela janela até chegar no restaurante.

Assim que entrei pela porta lateral da cozinha, lá estava o Antônio, ajeitando os talheres nas mesas com a cara séria de sempre.

— Olha quem resolveu aparecer — ele falou sem nem me olhar, mas com um tom debochado.

— Bom dia pra você também, Antônio. Dormiu bem ou tá só amargo mesmo?

Ele bufou e me lançou um olhar por cima dos óculos.

— Dormi bem, obrigada. Só tô me perguntando o que a fez se atrasar dessa vez.

— Nada demais. Só vivi uma noite intensa, acordei com dor nos músculos e fome de lasanha. — Pisquei pra ele e o vi fazer aquela cara de "não quero saber, mas tô curioso".

— Sei... espero que essa sua "noite intensa" não atrapalhe o atendimento hoje.

— Fica tranquilo. Tô pronta pra servir pratos e sorrisos.

— Ótimo, porque tá vindo um grupo de quinze pessoas do centro comercial. Se prepara que o dia vai ser corrido.

Suspirei, amarrei o avental na cintura e respirei fundo.

— Pode deixar, a Alice guerreira tá ativa.

E fui pegar a bandeja, me preparando mentalmente pra aguentar o tranco do dia. Porque por mais que a lembrança da noite passada ainda estivesse fresquinha, a vida real não esperava ninguém.

A mesa grande estava uma zona com risadas altas, vozes competindo entre si, gente balançando taças de vinho como se estivessem num desfile. Era o famoso grupo do centro comercial, e pelo visto, o dinheiro subia direto pra cabeça da maioria ali.

Ajeitei o avental, peguei o bloco de pedidos e fui com meu melhor sorriso.

— Boa tarde, pessoal. Tudo bem por aqui? Já sabem o que vão querer ou preferem olhar o cardápio primeiro?

— Eu já sei o que quero — disse um dos caras, escorando no encosto da cadeira com aquele sorrisinho de quem acha que tem charme. Era alto, cabelo penteado com gel demais e um blazer branco que gritava "quero aparecer". — Mas não tá no cardápio.

Revirei os olhos mentalmente. Lá vamos nós.

— Que pena — respondi, ainda sorrindo. — Só posso servir o que tem no menu da casa. E te garanto que já é apimentado o suficiente.

A mesa explodiu em risadinhas e "ui" abafados. O cara riu, forçado.

— Gosto de mulher com resposta na ponta da língua. Sabe… se você quiser sair daqui depois do expediente, posso te mostrar o que é um restaurante de verdade. Tenho um lugar reservado hoje à noite, só com gente do nosso nível.

— O pai tá doente. Ele tá no hospital da cidade e médico falou que talvez precise ser transferido pra Belos Campos. A gente precisa de dinheiro.

A primeira reação que tive foi rir. Um riso seco, incrédulo e doído. Depois de nove anos sem um “como você está?”, sem um “a gente sente sua falta”, agora vinham com isso?

— Eu… eu não acredito que você tá me ligando depois de todo esse tempo pra pedir dinheiro, Yuri.

— A situação é grave! O pai pode morrer!

— E o que você quer que eu faça? Eu mal tô conseguindo comprar a minha insulina, o remédio tá em falta no posto e eu não tenho dinheiro sobrando. Não sou rica, trabalho num restaurante, lembra?

— Você sempre foi imprestável mesmo — ele cuspiu. — Vai deixar nosso pai morrer por causa dessa doença tua?

Senti o estômago embrulhar e o chão sumir sob meus pés.

— Como é que é?! — minha voz falhou.

— Isso que você ouviu. Desde sempre você foi o fardo da família com essa diabetes aí, fazendo drama, querendo chamar atenção. Agora vai deixar ele morrer, né? E ainda vai querer se fazer de vítima.

— Vítima? — minha voz saiu num sussurro, enquanto meus olhos já ardiam com lágrimas. — Eu? Eu que fui expulsa de casa grávida, doente, sozinha... que fui deixada na rua, como um cachorro, enquanto vocês viravam a cara. Cadê vocês quando eu fiquei internada? Quando perdi meu bebê? Ou quase morri de pneumonia e hipoglicemia no mesmo dia?

O silêncio dominou o outro lado por um momento.

— Você sabe, Yuri. Eu lembro muito bem do que o papai disse quando fui embora. Ele falou que eu não era mais filha dele e que não se surpreenderia se em dois meses recebesse a notícia da minha morte. Dois meses.

— Ele tava com raiva, não era de verdade…

— Ah, agora não era de verdade? Agora ele quer a filha “imprestável” de volta porque tá doente? Não. Não vou carregar essa culpa e não vou fingir que não fui esquecida. A culpa não é minha se ele tá assim e caso ele morrer, não vai ser por minha causa. Vai ser pelo orgulho que vocês sempre colocaram acima de tudo.

— Você vai se arrepender, Alice.

— Eu já me arrependi de muita coisa na vida, mas não de ter saído daquela casa.

E sem esperar mais nada, desliguei.

Fiquei ali parada encarando o celular, que tremia na minha mão, mesmo sem vibrar. Meu corpo todo tremia, na verdade.

Me encostei no armário de aço e deslizei até o chão, sentindo as lágrimas caindo com força antes mesmo que eu conseguisse respirar fundo.

Chorava com o peito rasgando, com a dor antiga de nove anos voltando como uma faca afiada.

Aquela dor que nunca me deixou de verdade, só ficou quieta, adormecida.

Comecei a hiperventilar, minhas mãos gelaram, o peito travou. Tentei inspirar pelo nariz, como me ensinaram uma vez na emergência, mas não conseguia.

Só repetia pra mim mesma: “Calma, Alice. Calma. Tá tudo bem. Você não tem culpa, eles te abandonaram quando você mais precisou”

A única coisa que eu conseguia sentir era o vazio de não ter ninguém. O peso de uma vida que eu lutei tanto pra reconstruir, mas que às vezes… parecia desabar com um simples toque no celular.

Porque eles vieram aparecer justo agora? O que eu faria?

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