Alice
05-09 - Segunda
Acordei com o seu cheiro e calor no meu corpo. Senti seu braço pesado em volta da minha cintura e sua perna jogada sobre a minha, como se quisesse me manter ali, presa. Sua respiração estava calma, soprando de leve em meu pescoço e por um momento… por um maldito segundo, desejei ficar.
Mas eu não podia fazer isso. O sexo foi intenso, alucinante, maravilhoso, do tipo que a gente lembra por anos, mas é só isso. Só sexo. Isso que eu disse a ele e é nisso que eu tenho que acreditar.
Me mexi devagar tirando o braço dele com cuidado, e parei quando o ouvi resmungar algo incoerente no sono. Aproveitei que ele virou pro outro lado e me levantei, sentindo um arrepio percorrer a pele nua ao deixar os lençóis.
Caminhei até a janela enorme do quarto e encarei a cidade acordando. O céu tingido de azul-alaranjado, os prédios ainda com poucas luzes acesas... tudo calmo demais pra combinar com a bagunça dentro de mim.
Peguei meu celular e, sem pensar, virei a câmera pra cama.
Ele estava ali, dormindo de lado, o lençol cobrindo só até o quadril, deixando à mostra os músculos definidos das costas, a curva do ombro e o pescoço forte. Um verdadeiro pecado em forma de homem.
Cliquei e tirei uma foto.
Talvez só pra provar pra mim mesma depois que isso aconteceu de verdade.
— Porra, Diogo... — sussurrei baixinho, sorrindo sozinha. — Você é bom demais pra minha sanidade.
Peguei minhas roupas jogadas no chão e fui vestindo uma peça de cada vez, ainda tentando ignorar a vontade ridícula de me deitar de novo ao lado dele. De prolongar mais um pouquinho aquele momento.
Mas não. Acordar assim, com um homem maravilhoso como ele ao meu lado, parecia uma armadilha perigosa.
E eu não podia me deixar cair, não agora.
Minha vida já estava cheia de problemas, boletos e uma bomba-relógio no meu corpo chamada diabetes. A última coisa que eu precisava era de sentimentos.
Terminei de me arrumar, amarrei o cabelo num coque desajeitado e dei uma última olhada pra ele dormindo. Era uma pena ir embora sem mais uma rodada... mas a noite tinha sido perfeita, e eu preferia encerrar no auge.
Fechei a porta devagar, descendo pelo elevador em silêncio. Peguei o celular e pedi um Uber, me jogando no banco de trás quando o carro chegou.
Era o fim de um capítulo, sem arrependimentos ou pelo menos, era o que eu estava tentando convencer meu coração.
***
Abri o portão devagar e entrei, jogando a bolsa no sofá assim que passei pela sala .A casa estava silenciosa quando cheguei, nenhum sinal de que Julio tinha dormido em casa também. Provavelmente terminou a noite nos braços de algum boy maravilhoso, como ele mesmo diria.
Meus pés doíam, minha cabeça estava leve demais e... bom, havia uma ardência entre minhas pernas que deixava bem claro que a noite foi intensa. Diogo sabia o que fazia, isso eu não podia negar.
Tomei um banho rápido, a água morna escorrendo pelo corpo como se pudesse lavar a lembrança da pele dele da minha. Mas, é claro, não lavou.
Me joguei na cama ainda com os cabelos úmidos, puxei a coberta até o queixo e fechei os olhos. Tinha tempo até as 11:30, daria pra dormir mais um pouco e não parecer uma zumbi ambulante no restaurante.
Despertei com o barulho irritante do celular às nove da manhã. Resmunguei, estiquei o braço e desliguei o alarme com um tapa.
Me espreguicei devagar, sentindo os músculos doloridos e, claro, a memória vívida da noite anterior invadindo minha mente feito um furacão. Me virei de barriga pra cima, encarando o teto com um sorrisinho idiota no rosto.
— Droga... — murmurei pra mim mesma. — Foca, Alice. Sem viagens.
Levantei, prendi o cabelo num coque bagunçado e fui direto pra cozinha. Coloquei a água no fogo, preparei um café forte e, enquanto ele passava, esquentei um pedaço de lasanha que o Julio tinha feito ontem. Graças aos céus por ter ele, além de ser um bom amigo, cozinhava bem melhor que eu.
Comi rápido, lavei a louça e voltei pro quarto. Vesti o uniforme preto do restaurante, ajeitei o cabelo com uma presilha e mandei uma mensagem pro Julio.
“Cheguei em casa, estou viva, e indo trabalhar. Depois a gente se fala.”
Guardei o celular na bolsa, conferi se tinha a insulina e os remédios e saí. O sol já começava a castigar, mas pelo menos o céu estava limpo.
Cheguei na parada de ônibus, sentei no banco de cimento meio rachado e fiquei ouvindo a playlist do celular enquanto o ônibus não vinha. Quando ele finalmente apareceu, me ajeitei lá no fundão e deixei a cidade passar pela janela até chegar no restaurante.
Assim que entrei pela porta lateral da cozinha, lá estava o Antônio, ajeitando os talheres nas mesas com a cara séria de sempre.
— Olha quem resolveu aparecer — ele falou sem nem me olhar, mas com um tom debochado.
— Bom dia pra você também, Antônio. Dormiu bem ou tá só amargo mesmo?
Ele bufou e me lançou um olhar por cima dos óculos.
— Dormi bem, obrigada. Só tô me perguntando o que a fez se atrasar dessa vez.
— Nada demais. Só vivi uma noite intensa, acordei com dor nos músculos e fome de lasanha. — Pisquei pra ele e o vi fazer aquela cara de "não quero saber, mas tô curioso".
— Sei... espero que essa sua "noite intensa" não atrapalhe o atendimento hoje.
— Fica tranquilo. Tô pronta pra servir pratos e sorrisos.
— Ótimo, porque tá vindo um grupo de quinze pessoas do centro comercial. Se prepara que o dia vai ser corrido.
Suspirei, amarrei o avental na cintura e respirei fundo.
— Pode deixar, a Alice guerreira tá ativa.
E fui pegar a bandeja, me preparando mentalmente pra aguentar o tranco do dia. Porque por mais que a lembrança da noite passada ainda estivesse fresquinha, a vida real não esperava ninguém.
A mesa grande estava uma zona com risadas altas, vozes competindo entre si, gente balançando taças de vinho como se estivessem num desfile. Era o famoso grupo do centro comercial, e pelo visto, o dinheiro subia direto pra cabeça da maioria ali.
Ajeitei o avental, peguei o bloco de pedidos e fui com meu melhor sorriso.
— Boa tarde, pessoal. Tudo bem por aqui? Já sabem o que vão querer ou preferem olhar o cardápio primeiro?
— Eu já sei o que quero — disse um dos caras, escorando no encosto da cadeira com aquele sorrisinho de quem acha que tem charme. Era alto, cabelo penteado com gel demais e um blazer branco que gritava "quero aparecer". — Mas não tá no cardápio.
Revirei os olhos mentalmente. Lá vamos nós.
— Que pena — respondi, ainda sorrindo. — Só posso servir o que tem no menu da casa. E te garanto que já é apimentado o suficiente.
A mesa explodiu em risadinhas e "ui" abafados. O cara riu, forçado.
— Gosto de mulher com resposta na ponta da língua. Sabe… se você quiser sair daqui depois do expediente, posso te mostrar o que é um restaurante de verdade. Tenho um lugar reservado hoje à noite, só com gente do nosso nível.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...