Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 174

— Não... ela ainda mora com ele.

Tentei manter a expressão neutra, mas aquilo acendeu alguma coisa dentro de mim. Era como se as palavras dela tivessem vindo em ordem, seguindo um roteiro. Eu não sabia o que era, mas algo estava fora do lugar.

— E vocês se falam bastante? — arrisquei, com a voz casual.

— Sim, claro. Ela é uma menina incrível, tem só oito anos, mas é super esperta.

O jeito como ela falou foi rápido, como quem quer encerrar o assunto. Caleb, alheio ao que eu estava enxergando, passou o braço pelas costas da cadeira dela.

— Eu ainda não conheci a Bia, mas a Fernanda fala dela o tempo todo. Ama demais essa menininha.

Fernanda virou o rosto pra ele e sorriu. Dessa vez, o sorriso foi mais sincero, talvez pelo toque dele.Eu fiquei quieto mais uma vez. Ainda não sabia o que era, mas tinha algo que ela não queria que víssemos.

Mas cedo ou tarde… eu descobriria. Iria descobrir qualquer segredo para proteger o meu irmão e só descansaria depois de ter a certeza que ela o ama de verdade e não apenas pela herança gorda que Caleb herdou do nosso pai.

Depois do jantar, Caleb e Fernanda foram até o jardim. Ele disse que queria mostrar pra ela as orquídeas que nossa mãe vinha cultivando há anos. Achei um bom pretexto pra ficarem a sós, mas não deixei de reparar como Fernanda estava tensa durante a refeição inteira. Disfarçava bem, ou achava que disfarçava.

Fui para a sala e me servi um pouco de Rum, encarando um porta retrato da nossa família por um momento. Minha mãe entrou logo depois, com aquele olhar tranquilo de quem enxerga mais do que fala.

— Eles foram lá pro jardim — ela comentou, se aproximando devagar.

— Eu vi — respondi, bebendo um pouco da bebida.

Ela se sentou na poltrona mais próxima e me observou por uns segundos.

— Gostei dela, sabe? Fernanda é educada, fala com respeito, parece ser uma boa menina. Acho que gosta mesmo do Caleb.

Me virei pra ela, cruzando os braços.

— É?

— É. E você, o que achou?

Soltei um suspiro e forcei um meio sorriso.

— Ela parece ser uma boa pessoa, sim… Mas eu ainda vou dar uma olhada na vida dela.

Minha mãe franziu o cenho, inclinando um pouco a cabeça.

— Isso é mesmo necessário, Diogo?

— É. — respondi sem hesitar. — Eu não vou deixar o Caleb ter mais um momento difícil na vida dele, mãe.

Ela se recostou no encosto da poltrona, como se aquele comentário a fizesse revisitar uma memória difícil, então passou os dedos pelo braço da poltrona e ficou em silêncio por um instante. Depois estendeu a mão pra mim e eu me aproximei, a segurando.

— Eu entendo você, filho. Sei que tudo que faz é pra proteger ele e que vai até o fim, se for preciso, pra manter o Caleb bem. Se acha que precisa investigar, faça. Mas tenta não se fechar tanto também, tá?

— Eu não tô me fechando, mãe. Só estou… atento.

Ela sorriu com ternura.

— Você é sempre atento, até demais. Mas, às vezes, o coração da gente precisa de um pouco de fé também.

Balancei a cabeça, meio rindo, meio cansado.

— Fé eu até tenho. Só não confio rápido.

Ela apertou minha mão mais uma vez antes de se levantar.

— Vai com calma, Diogo. Se ela for quem você teme, você vai descobrir. Mas se não for… então deixa o Caleb ser feliz.

Assenti, em silêncio.

***

Cheguei à cobertura já tarde. O dia tinha sido longo, mas a cabeça continuava girando nas entrelinhas daquele jantar. Eu precisava de um tempo, silêncio… e talvez uma segunda opinião.

Larguei as chaves no aparador e fui direto pra varanda. Sentei na espreguiçadeira com uma garrafa de água na mão e, antes de pensar demais, disquei o número do Alessandro.

Ele atendeu no segundo toque.

— Fala, irmão! — a voz veio acompanhada de uma risada abafada — Espera aí...

Do outro lado, ouvi uma vozinha empolgada gritar.

— Paaaai! Olha isso aqui! Vem ver, pai! Paiii!

— Já vou, Gabriel! Espera um pouco! — ele respondeu, com aquele tom paciente de quem já se acostumou com gritos pela casa.

Ri, balançando a cabeça.

— Parece que alguém tá animado aí, hein?

— Você não faz ideia — ele respondeu com um suspiro divertido. — Amanhã tem acampamento com a turminha da escola e o Gabriel tá a mil por hora. Já separou lanterna, bota, chapéu, achou um cantil e quer levar um canivete. A Larissa tá pra arrancar os cabelos.

Soltei uma gargalhada sincera.

— Ah, vai ser bom pra ele. Esse tipo de aventura faz bem e a Larissa sabe disso, só não consegue desligar o modo mãe.

— Exatamente isso — ele riu também.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, antes de suspirar. Não era o tipo de ligação que eu fazia só pra dar risada.

— Você ainda tem o contato do detetive que contratou pra investigar a Chiara?

Do outro lado da linha, ele ficou quieto por um instante.

— Tenho sim. O Cauã voltou a trabalhar, por quê? — a voz dele veio mais atenta agora.

— Me passa o contato dele?

— Claro. Mas tá tudo bem?

Hesitei. Podia simplesmente dizer que era precaução e encerrar o assunto… Mas era o Alessandro. Ele sempre soube quando eu estava escondendo alguma coisa e, pra ser sincero, eu precisava falar.

— O Caleb me apresentou a namorada hoje. O nome dela é Fernanda.

— E aí? O que achou?

— Ela parece ser uma boa pessoa. Educada, gentil. A minha mãe adorou a menina, mas… — respirei fundo — ela estava nervosa, mais do que deveria.

— Ah, Diogo… vai ver era só o momento. Conhecer a família do namorado, jantar formal, esse tipo de coisa mexe com a cabeça.

Eu sempre gostei de ver as coisas acontecendo fora do escritório. Era ali, no chão, que a gente via o impacto real daquilo que projetamos.

O cenário era bem simples, mas funcional. Um trator da nova linha estacionado de forma estratégica, painéis solares ao fundo, uma estrutura metálica protótipo para irrigação automatizada, e alguns produtores locais que toparam participar como figurantes. Tudo alinhado com o visual agro-tech que a gente queria mostrar.

— Diogo, esse aqui é o Júlio — disse uma das produtoras do ensaio, me apresentando a um cara de barba bem feita, camiseta preta, calça jeans escura. Ele tinha uma câmera pendurada no pescoço por um cordão.

Quando ele virou o rosto pra mim, eu congelei por um segundo. Aquele era o mesmo fotógrafo que tinha feito as fotos da Alice semanas atrás. Tinha uma foto dele falando um pouco sobre o trabalho voluntário.

Na época, não dei muita importância… mas agora, vendo o sujeito ali, tão à vontade no nosso ambiente, alguma coisa me incomodou.

— Prazer, cara — ele disse, estendendo a mão.

— O prazer é meu. Já vi alguns trabalhos seus — respondi, tentando manter a voz neutra.

— Ah, é? Tomara que tenha gostado.

Ele deu uma risadinha e logo se afastou, voltando a ajustar a câmera. A naturalidade com que ele circulava entre os técnicos e os modelos me chamou atenção. Ele era bom. Isso era inegável.

Pedia uma pose, mudava o ângulo, gritava algo divertido e todo mundo ria. Parecia conhecer aquele tipo de ambiente mais do que eu esperava.

Por um tempo, tentei focar na apresentação da nova linha. Assinei alguns papéis, falei com o pessoal da comunicação, dei uma olhada na planilha com o cronograma de postagens e, de repente, ouvi o Júlio atrás de mim, rindo sozinho.

Ele estava com o celular no ouvido, afastado da equipe, encostado num dos fardos de feno.

— Calma, calma… eu tô indo aí depois, já te falei. Não surta, mulher — ele disse, rindo de novo. — Tá, tá bom. Eu vou passar aí sim, prometo. Não, sem desculpa. Chego na hora e não, Alice, você não vai ficar esperando que nem uma tonta novamente. Tá, tchau.

Na hora, meu corpo travou.

Por instinto, virei levemente o rosto, tentando escutar melhor. Mas ele logo encerrou a conversa e seguiu para finalizar o seu trabalho. Fiquei o observando, mas porque sentia que isso me incomodava tanto?

— Vira um pouco mais pro lado do sol, isso! Agora encosta a mão na lateral da peça… perfeito! Isso vai ficar perfeito! — ele dizia, empolgado.

Enquanto fotografava, eu continuei observando. A lente dele não tremia, o olhar era firme e detalhista, mas o que me incomodava não era o talento dele. Era o fato de ele ter algo com ela, já ter tido ou estar tentando ter.

E por algum motivo idiota, isso não devia me importar. Mas importava.

Passei o resto da manhã com esse pensamento preso feito farpa de madeira de cerca no dedo. Não sangra, mas incomoda o tempo todo. E, mais do que isso, me irrita o fato de eu nem saber direito por quê.

***

Não sei bem por que parei ali, juro.

Eu estava dirigindo de volta pra empresa, tentando manter o foco em mil coisas ao mesmo tempo, o relatório financeiro, planejamento da segunda fase da campanha, e o bendito ensaio quando vi o restaurante onde a Alice trabalhava. E algo dentro de mim me fez frear.

Estacionei o carro quase sem pensar e fiquei por alguns segundos, com as mãos no volante, olhando pela janela como um maluco. O que eu estava fazendo, afinal?

Não fazia ideia de como me comportar perto dela. Não depois daquela noite, nem depois do jeito como ela sumiu antes de eu acordar. Mas eu só queria vê-la um pouco. Só isso e, bom, eu tinha o brinco. Era a desculpa perfeita, não era?

Entrei no restaurante como se estivesse entrando num território desconhecido. Dei uma olhada geral e me sentei em uma das mesas do canto, perto da janela. Era uma de suas mesas…

Demorou um pouco, talvez uns dois minutos e então ela apareceu. Ela falava algo para Antônio, sua expressão de desgosto era clara e então ele sorriu de algo que ela disse e ela riu também.

Ele acenou com a cabeça para onde eu estava e ela se virou, me olhando e pareceu congelar por uns segundos, seu sorriso dando uma leve vacilada antes de voltar ao normal.

Alice veio na minha direção, ajeitando o avental com um gesto automático.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra