— Não... ela ainda mora com ele.
Tentei manter a expressão neutra, mas aquilo acendeu alguma coisa dentro de mim. Era como se as palavras dela tivessem vindo em ordem, seguindo um roteiro. Eu não sabia o que era, mas algo estava fora do lugar.
— E vocês se falam bastante? — arrisquei, com a voz casual.
— Sim, claro. Ela é uma menina incrível, tem só oito anos, mas é super esperta.
O jeito como ela falou foi rápido, como quem quer encerrar o assunto. Caleb, alheio ao que eu estava enxergando, passou o braço pelas costas da cadeira dela.
— Eu ainda não conheci a Bia, mas a Fernanda fala dela o tempo todo. Ama demais essa menininha.
Fernanda virou o rosto pra ele e sorriu. Dessa vez, o sorriso foi mais sincero, talvez pelo toque dele.Eu fiquei quieto mais uma vez. Ainda não sabia o que era, mas tinha algo que ela não queria que víssemos.
Mas cedo ou tarde… eu descobriria. Iria descobrir qualquer segredo para proteger o meu irmão e só descansaria depois de ter a certeza que ela o ama de verdade e não apenas pela herança gorda que Caleb herdou do nosso pai.
Depois do jantar, Caleb e Fernanda foram até o jardim. Ele disse que queria mostrar pra ela as orquídeas que nossa mãe vinha cultivando há anos. Achei um bom pretexto pra ficarem a sós, mas não deixei de reparar como Fernanda estava tensa durante a refeição inteira. Disfarçava bem, ou achava que disfarçava.
Fui para a sala e me servi um pouco de Rum, encarando um porta retrato da nossa família por um momento. Minha mãe entrou logo depois, com aquele olhar tranquilo de quem enxerga mais do que fala.
— Eles foram lá pro jardim — ela comentou, se aproximando devagar.
— Eu vi — respondi, bebendo um pouco da bebida.
Ela se sentou na poltrona mais próxima e me observou por uns segundos.
— Gostei dela, sabe? Fernanda é educada, fala com respeito, parece ser uma boa menina. Acho que gosta mesmo do Caleb.
Me virei pra ela, cruzando os braços.
— É?
— É. E você, o que achou?
Soltei um suspiro e forcei um meio sorriso.
— Ela parece ser uma boa pessoa, sim… Mas eu ainda vou dar uma olhada na vida dela.
Minha mãe franziu o cenho, inclinando um pouco a cabeça.
— Isso é mesmo necessário, Diogo?
— É. — respondi sem hesitar. — Eu não vou deixar o Caleb ter mais um momento difícil na vida dele, mãe.
Ela se recostou no encosto da poltrona, como se aquele comentário a fizesse revisitar uma memória difícil, então passou os dedos pelo braço da poltrona e ficou em silêncio por um instante. Depois estendeu a mão pra mim e eu me aproximei, a segurando.
— Eu entendo você, filho. Sei que tudo que faz é pra proteger ele e que vai até o fim, se for preciso, pra manter o Caleb bem. Se acha que precisa investigar, faça. Mas tenta não se fechar tanto também, tá?
— Eu não tô me fechando, mãe. Só estou… atento.
Ela sorriu com ternura.
— Você é sempre atento, até demais. Mas, às vezes, o coração da gente precisa de um pouco de fé também.
Balancei a cabeça, meio rindo, meio cansado.
— Fé eu até tenho. Só não confio rápido.
Ela apertou minha mão mais uma vez antes de se levantar.
— Vai com calma, Diogo. Se ela for quem você teme, você vai descobrir. Mas se não for… então deixa o Caleb ser feliz.
Assenti, em silêncio.
***
Cheguei à cobertura já tarde. O dia tinha sido longo, mas a cabeça continuava girando nas entrelinhas daquele jantar. Eu precisava de um tempo, silêncio… e talvez uma segunda opinião.
Larguei as chaves no aparador e fui direto pra varanda. Sentei na espreguiçadeira com uma garrafa de água na mão e, antes de pensar demais, disquei o número do Alessandro.
Ele atendeu no segundo toque.
— Fala, irmão! — a voz veio acompanhada de uma risada abafada — Espera aí...
Do outro lado, ouvi uma vozinha empolgada gritar.
— Paaaai! Olha isso aqui! Vem ver, pai! Paiii!
— Já vou, Gabriel! Espera um pouco! — ele respondeu, com aquele tom paciente de quem já se acostumou com gritos pela casa.
Ri, balançando a cabeça.
— Parece que alguém tá animado aí, hein?
— Você não faz ideia — ele respondeu com um suspiro divertido. — Amanhã tem acampamento com a turminha da escola e o Gabriel tá a mil por hora. Já separou lanterna, bota, chapéu, achou um cantil e quer levar um canivete. A Larissa tá pra arrancar os cabelos.
Soltei uma gargalhada sincera.
— Ah, vai ser bom pra ele. Esse tipo de aventura faz bem e a Larissa sabe disso, só não consegue desligar o modo mãe.
— Exatamente isso — ele riu também.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, antes de suspirar. Não era o tipo de ligação que eu fazia só pra dar risada.
— Você ainda tem o contato do detetive que contratou pra investigar a Chiara?
Do outro lado da linha, ele ficou quieto por um instante.
— Tenho sim. O Cauã voltou a trabalhar, por quê? — a voz dele veio mais atenta agora.
— Me passa o contato dele?
— Claro. Mas tá tudo bem?
Hesitei. Podia simplesmente dizer que era precaução e encerrar o assunto… Mas era o Alessandro. Ele sempre soube quando eu estava escondendo alguma coisa e, pra ser sincero, eu precisava falar.
— O Caleb me apresentou a namorada hoje. O nome dela é Fernanda.
— E aí? O que achou?
— Ela parece ser uma boa pessoa. Educada, gentil. A minha mãe adorou a menina, mas… — respirei fundo — ela estava nervosa, mais do que deveria.
— Ah, Diogo… vai ver era só o momento. Conhecer a família do namorado, jantar formal, esse tipo de coisa mexe com a cabeça.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...