Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 270

Passei um tempo encaixando tudo, tentando não derrubar nada, enquanto ela organizava roupas e sapatos. Cada vez que eu olhava, ela já estava com outra pilha de coisas na mão. Era impressionante como cabia tanta coisa num espaço tão pequeno.

Depois de um tempo, Julio apareceu na porta com Leandro, os dois trazendo uma bandeja de sanduíches e suco.

— Intervalo pra comida — Julio anunciou. — A grávida aqui precisa se alimentar.

Alice riu e aceitou de bom grado. Comemos ali mesmo, sentados no chão, rindo das histórias que Julio contava. Quando terminamos de lanchar, ele ainda fez questão de servir um almoço simples, mas cheio de sabor. Era coisa de família aquele clima.

Mais tarde, quando chegou a hora de ir, senti o ar ficar mais pesado. Alice foi até Julio e o abraçou com força e as lágrimas já escorrendo.

— Eu te amo, Julio. Você sempre vai ser o meu irmão. Se cuida direitinho e não esquece de pagar a conta de luz, hein.

Julio afastou o cabelo molhado de lágrimas do rosto dela, com um cuidado que me comoveu.

— Pode ficar tranquila. Você ainda não se livrou de mim, eu vou te visitar sempre e quero você aqui também, pra falar mal do Leandro… e do Diogo. — Ele piscou pra mim.

Não consegui segurar a risada.

— Já tô vendo que vou apanhar nessas visitas.

Leandro revirou os olhos, mas também estava sorrindo.

— Até parece novidade — ele murmurou.

Alice e Julio se abraçaram de novo, demoradamente. Ela fungou, tentando conter o choro.

— Você vai ser o melhor padrinho do bebê — ela disse, com a voz trêmula.

Julio sorriu largo, com os olhos brilhando.

— Eu vou mesmo e irei mimar essa criança até não poder mais.

Alice riu, abraçando-o mais uma vez antes de se afastar devagar. Ela caminhou na minha direção, enquanto eu fechava o porta-malas com a última mala. Tudo já estava carregado.

Entrei no carro e, antes de ligar a chave, segurei a mão dela.

— Tá tudo bem? — perguntei, olhando direto nos seus olhos.

Ela respirou fundo, limpando as lágrimas com a outra mão.

— Tá sim. — Forçou um pequeno sorriso. — Mesmo sabendo que ele vai estar sempre por perto, ainda dói um pouco… mas eu não me arrependo. Agora eu vou construir uma família com você. E o Julio vai ser um tio maravilhoso pro nosso bebê.

Meu peito aqueceu com aquelas palavras. Me inclinei e a beijei com carinho.

— O Julio já tá liberado na cobertura. Ele pode ir quando quiser.

Alice sorriu de verdade dessa vez, com os olhos brilhando.

— Obrigada, amor.

Liguei o carro, ainda segurando a mão dela por um instante antes de partir. Enquanto deixávamos a casa para trás, senti uma mistura estranha de despedida e começo. Era o fim de um capítulo, mas o início da nossa família.

***

Eu mal consegui dormir. Passei a noite virando de um lado pro outro com a cabeça cheia. Quando percebi, já eram seis da manhã. O sol mal tinha dado as caras e eu já estava lá fora, na beira da piscina, sentindo o vento fresco no rosto. O céu ainda meio alaranjado, a cidade silenciosa. Lucas chegaria às nove… mas cada minuto parecia uma eternidade.

Eu tentava me acalmar, respirar fundo, mas o coração batia acelerado. A conversa de hoje podia mudar tudo.

De repente, senti braços delicados envolverem minha cintura por trás. Alice e suas mãos pequenas se encaixaram nas minhas e, só de sentir o toque dela, um pouco da tensão pareceu se dissolver.

— Você não dormiu, né? — ela perguntou com a voz suave, ainda rouca de sono.

Suspirei, apertando levemente as mãos dela.

— Não consegui, estou muito nervoso e ansioso. Parece que o tempo não anda.

Ela deslizou para o meu lado, se escorando na proteção de vidro.

— Amor, respira. O Lucas é uma criança, ele pode até não entender no início, mas vai olhar de um jeito diferente depois. Você só precisa ter calma, contar tudo, não esconder nada… e depois esperar. Ele vai precisar de tempo pra assimilar.

Virei o rosto pra ela, sentindo o peito apertar.

— E se ele não der nenhuma chance? Se ele… me rejeitar?

Alice levantou a mão e encostou na minha bochecha, fazendo um carinho que me fez fechar os olhos por um segundo.

— Isso vai acontecer, Diogo. — O olhar dela era firme, cheio de certeza. — O Lucas é um bom menino. Ele pode ficar confuso no começo, mas vai ouvir seu coração. Fica tranquilo… vai dar certo.

Suspirei de novo, sentindo o medo ainda lá, mas um pouco mais distante graças a ela. Ficamos um tempo em silêncio, só olhando a piscina refletindo aquele céu de amanhecer.

Alice então sorriu de canto.

— Quer saber? Eu vou tomar banho de piscina.

Franzi o cenho, virando pra ela.

— Agora? A água deve estar gelada. Eu posso ligar o aquecedor.

Ela fez uma careta engraçada.

— Não precisa, frescura.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela soltou o cinto do robe e deixou o tecido escorregar pelos ombros, caindo aos seus pés. Fiquei sem ar quando percebi que ela estava completamente nua por baixo.

Por um segundo, só consegui olhar com surpresa e um desejo batendo forte.

Alice abriu um sorriso caloroso e acelerou o passo, eu fui logo atrás.

— E aí, como foi a viagem? — Ela perguntou, já se abaixando para abraçar Bia.

— Foi incrível! — a menina falou quase gritando. — A gente foi na Disney, no parque aquático, nas praias…

— E eu comprei uma camiseta do Star Wars! — Lucas completou empolgado, falando tão rápido que mal respirava. — E a gente andou na montanha-russa TRÊS vezes! E teve um sorvete gigante que…

Ele falava sem parar com os olhos brilhando. Eu só conseguia olhar, absorvendo cada palavra, cada gesto. Meu filho, um pedaço de mim. O coração queimava ao imaginar que ele poderia ter tido muito mais momentos assim todos esses anos e eu não estive lá.

Quando ele finalmente olhou para mim, meu peito quase falhou uma batida. Lucas caminhou até onde eu estava e estendeu a mão com um sorriso aberto.

— Oi, Diogo.

Apertei a mão dele com firmeza, tentando disfarçar o turbilhão de emoções.

— Oi, campeão. Então… foi bom mesmo?

— Foi demais! — Ele começou a contar, descrevendo cada brinquedo, passeio e detalhes da viagem com uma empolgação contagiante.

Ouvia cada palavra como se fosse um presente. Era impossível não pensar no quanto eu tinha perdido.

Alice trocou um olhar comigo e um leve sorriso encorajador. Fernanda, que estava mais atrás, suspirou. Ela já estava por dentro de tudo sobre o tio, a chantagem, toda aquela sujeira e o que aconteceu com ele.

Me aproximei dela, mantendo a voz baixa.

— Fernanda, escuta… você pode vender a casa lá e comprar outra aqui em Belos Campos. Eu posso ajudar com isso.

Ela arregalou os olhos, claramente surpresa.

— Diogo… você não precisa…

— Preciso sim. — Balancei a cabeça, firme. — O colégio também vai se mudar pra cá. Vai ficar mais perto pra sua irmã. Vocês não vão mais precisar daquele lugar.

Os olhos dela brilharam, cheios de lágrimas.

— Eu… obrigada. Nem sei o que dizer.

— Não precisa dizer nada — respondi, oferecendo um meio sorriso. — Só aceita.

Ela assentiu, ainda emocionada.

— E no seu tempo livre, você pode trabalhar comigo no colégio. Pelo visto, eu serei a nova diretora de lá. — Alice disse sorrindo e Fernanda olhou surpresa.

Seguimos todos em direção ao carro e enquanto caminhava ao lado de Lucas, sentia a ansiedade crescer mais. Ele falava animado com Bia, mas eu mal conseguia prestar atenção agora. A conversa que vinha pela frente estava cada vez mais próxima. E, por mais que eu tentasse me preparar, nada parecia suficiente para o que eu precisava dizer ao meu filho.