A promessa veio fácil, natural.
— Não vou, logo eu marco. Prometo.
Me despedi com outro abraço em Eduardo, mais cuidadoso, e beijos nos meus pais. Saí do apartamento com o coração muito mais leve do que entrei. O quentinho no peito era a reconciliação, a sensação de ter minha família de volta.
Mas, ao entrar no carro sozinha, no silêncio da noite, outro calor, completamente diferente, percorreu meu corpo.
Um frio gostoso na barriga, a lembrança das mãos do Rafael na minha pele, do sabor dele, da urgência daquilo tudo.
A culpa tentou sussurrar, mas foi abafada por um desejo profundo e perigoso. Eu não sabia o que era aquilo, nem o que ia acontecer amanhã. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti viva, assustada, e totalmente, completamente, sem volta.
***
A sala da psicóloga era um lugar calmo, cheio de brinquedos de madeira, livros coloridos e almofadas macias no chão.
Um mundo pensado para suavizar as tempestades infantis. Mas hoje, o ar dentro dela parecia carregado.
Eu estava sentada num puff, minhas mãos suando enquanto observava a Dra. Nayane se ajoelhar no nível da minha filha.
Alana, com seus seis anos frágeis, estava sentada numa cadeira pequena, abraçando um coelho de pelúcia desgastado.
Seus olhos, tão parecidos com os meus, estavam enormes e cautelosos. Ela ainda estava um pouco receosa, daquela semana terrível em que o meu anúncio de que "o papai iria morar em outro lugar" a tinha feito desmontar, fisicamente e emocionalmente.
A Dra. Nayane falou com uma voz que era um mel, suave e clara.
— Alana, você lembra que a mamãe conversou com você sobre algumas mudanças, né? Sobre o papai e a mamãe não morarem mais juntos na mesma casa?
Alana fez um aceno quase imperceptível com a cabeça, apertando o coelho contra o peito.
— É, viu? Às vezes, os adultos, mesmo se gostando muito da pessoa, como a mamãe e o papai gostam de você, descobrem que é melhor, para todo mundo ficar bem e feliz, morar em casas separadas.
Alana baixou o olhar.
— A mamãe vai ficar triste? — a pergunta saiu num sussurro, um fio de voz que me partiu o coração ao meio.
— A mamãe pode ficar um pouco saudosa, porque toda mudança dá uma saudade, sabe? Mas ela também vai ficar feliz, porque vai te ver feliz e assim, pode cuidar melhor de você e dela mesma. E o papai também. O mais importante é que você não vai perder ninguém. Você vai ter duas casas cheias de amor pra ir.
Os olhos da minha filha se encheram de lágrimas brilhantes que transbordaram e rolaram pelas bochechas em silêncio. Ela não soltou um soluço. Foi um choro quieto e devastador.
— Eu não quero que o papai fique sozinho — ela chorou, e então seu olhar veio até mim, uma mistura de amor e um medo profundo que eu nunca deveria ter visto naquela carinha.
Foi quando eu quebrei e não consegui ficar parada. Levantei e me ajoelhei no chão ao lado dela, abrindo os braços.
— Oh, meu amor…
Ela se jogou no meu colo, enterrando o rosto no meu pescoço, o pequeno corpo todo tremendo.
Senti as suas lágrimas quentes na minha pele, e as minhas próprias escorreram, silenciosas, no cabelo dela.
Segurei-a com toda a força que tinha, como se pudesse absorver toda a dor e a confusão daquela alma pequenina.
— Eu te amo, minha vida. Eu te amo mais que tudo. E seu pai não vai ficar sozinho, porque ele tem você. E você vai ter a mamãe e o papai, do mesmo jeito. Só que em casas diferentes, onde todo mundo fica mais calminho e feliz. — As palavras saíam entre beijos no topo da sua cabeça, tentando transmitir uma certeza que eu mesma estava buscando.
A Dra. Nayane observou, com um olhar profissional mas compassivo.
Depois de um longo minuto, enquanto o choro de Alana diminuía para uns soluços cansados, ela falou, direcionando-se a mim, mas com Alana ainda ouvindo.
— Ela tem um medo muito grande, Lorena. Medo de te ver triste, de te ver sofrer. Ela sente que precisa proteger você. E, no mundo dela, se os pais se separam, é porque alguém está sofrendo muito. Mas ela está começando a entender o mais importante: que ela não vai perder o pai. O amor por ela não muda.
Alana, ainda grudada em mim, fez um pequeno movimento de cabeça, um aceno de aceitação relutante. Não era felicidade.
Era a resignação dolorosa de uma criança que, com a ajuda delicada daquela mulher, começava a entender que o mundo não ia acabar, mesmo que ele fosse mudar.
— Tudo bem, mamãe — ela murmurou, a voz abafada no meu pescoço. — Eu vou ter duas casas.
A frase, dita com tanta coragem, foi a coisa mais linda e mais devastadora que eu já ouvi.
***
Mais tarde, depois de Alana ter ido para uma pequena salinha anexa com uma estagiária para brincar um pouco, a Dra. Nayane me encarou, seu semblante agora sério e direto.
— Lorena, o processo de entendimento dela vai ser longo. Mas o pior, a crise aguda que a adoeceu, passou. Ela está aceitando a nova realidade. Agora, o próximo passo crucial é sua ação.
Ela fez uma pausa, garantindo que eu estava ouvindo.
— Você precisa seguir com o divórcio. De forma clara, legal e definitiva. A ambivalência, o "vai não vai", a tensão de um casamento falido que não termina… isso é um veneno para a estabilidade emocional da Alana.
— O dano que ela sofreu é reversível. Mas se esse estado de limbo continuar, o dano pode se cristalizar e virar um trauma. Para ela, e para você. Dê a ela, e a si mesma, o presente da verdade e da paz. Mesmo que a paz, no começo, doa.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...