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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 165

17-08 - Quarta-Feira

Alice

— Alice! — ouvi o berro familiar vindo da salinha dos fundos e meu estômago até revirou.

Respirei fundo, ajeitei o avental e caminhei até a porta com a certeza de que estava prestes a levar um sermão digno de novela mexicana. Quando empurrei a porta, lá estava ele: senhor Barbosa, de terno suado, testa franzida e um copo de café frio na mão.

— Pode me explicar, pelo amor de Deus, como você j**a spray de pimenta na cara daquele homem?!

Ergui as sobrancelhas, tentando não rir.

— Olha... tecnicamente, ele que entrou na frente — falei, dando de ombros. — E eu não tava mirando nele.

Ele fechou os olhos e passou a mão pelo rosto, respirando pesado. Depois, se virou e me encarou com aqueles olhos arregalados.

— Você sabe quem era aquele homem?!

— Claro, Diego Montenegro — disse com a maior calma do mundo.

— Diogo. Diogo Montenegro! — ele corrigiu quase engolindo o próprio bigode. — O Diogo Montenegro! Dono da Montenegro Holdings, aquela empresa de engenharia mecânica e investimentos que está em metade do planeta! Bilionário, Alice! Um cara que tem uma fortuna que pode comprar esse quarteirão inteiro sem nem fazer cócegas no bolso!

— E eu ofereci um cafezinho como pedido de desculpas, tá bom pra você? — respondi, cruzando os braços e tentando manter a compostura, porque por dentro eu tava desabando de vergonha.

O senhor Barbosa bufou alto e apontou pra mim como se fosse um pai decepcionado.

— Você ainda vai me fazer infartar nesse restaurante, garota.

— Mas você me adora — falei com uma piscadinha.

— Adoro nada. Vai trabalhar, vai. Se comporta, pelo amor de Deus.

Ri, saindo da sala enquanto ele resmungava alguma coisa sobre "cabeluda maluca". Fui direto ao vestiário e troquei a blusa, que ainda estava meio suada da confusão. Quando voltei pro salão, Diogo já não estava mais. Uma parte de mim até se sentiu aliviada e a outra… meio decepcionada, confesso.

Antônio se aproximou, sempre com aquele jeitinho de fofoqueiro do bem.

— Você realmente conseguiu a atenção do bilionário.

— Ai, Antônio… — revirei os olhos. — Eu não quero atenção de ninguém, muito menos de alguém que deve pagar imposto até por respirar. Você sabe como eu sou.

— Sei sim… mas aquele ali tem jeito de problema bom — ele disse, piscando. Ri, balançando a cabeça.

— Problema é problema, bom ou ruim. E esse aí é rico demais pro meu mundo.

Mas então meu olhar foi direto pro relógio na parede. Merda, a confusão toda tinha me feito esquecer completamente do horário da insulina. Já sentia meu corpo ficando mais leve, fraco… e aquele formigamento começando e tentei disfarçar o melhor que pude.

— Vou ali rapidinho no banheiro — avisei, pegando minha bolsa que sempre ficava perto do caixa.

Me tranquei no cubículo apertado e puxei minha bolsinha de remédios. Já estava acostumada com aquilo, mas mesmo assim, a mão ainda tremia um pouco. Coloquei a dose da insulina, injetei no braço e respirei fundo. Aquela ardência já era quase reconfortante pra mim.

Fechei os olhos por um instante.

“Vai ficar tudo bem, Alice. Um dia de cada vez.”

Esperei uns dois minutos até sentir meu corpo desacelerar. Depois disso, lavei o rosto, ajeitei o cabelo bagunçado no espelho e dei um sorrisinho pra mim mesma.

Agora sim, hora de voltar à loucura.

Saí do banheiro e encarei o balcão com cara de quem não tinha quase cegado um bilionário quinze minutos antes.

Só mais um dia normal na minha vida caótica.

***

Quando o relógio virou pra 20:00, eu já tava contando os segundos pra sair dali. Nem esperei o Antônio terminar de limpar o balcão quando o som mais esperado do dia veio logo depois: “BIBIBIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!”

— Alice, você precisa dar queixa. Isso tá passando de todos os limites, ele tá te perseguindo, isso é crime, caramba!

— Eu sei, Julio e eu vou fazer isso. Prometo, só não deu tempo hoje. Mas... — dei um gole na água e voltei pra sala, me jogando no sofá ao lado dele — teve mais uma coisinha.

— Ai meu Deus, lá vem. — ele riu nervoso. — Fala logo, mulher.

— Eu joguei spray de pimenta no Diogo Montenegro.

Julio me olhou em silêncio. Literalmente paralisado por três segundos.

— NO GOSTOSO DO DIOGO MONTENEGRO?! — ele gritou, se levantando num pulo.

— No próprio — falei com um sorriso meio culpado.

— O bilionário lindo, dono daquela empresa gigante, como é mesmo… Montenegro alguma coisa?

— Isso mesmo.

— Alice, você é doida, mulher! Qual é o seu problema? Ao invés de dar em cima do homem… você tenta cegar ele!

— Eu não estava tentando cegar ninguém! Ele entrou na frente no momento errado. Tava defendendo uma maluca… que era eu. — levantei as mãos num gesto de rendição, rindo.

— Não… sério, você precisa escrever um livro com a sua vida. “Como espantar um bilionário em três atos ou menos.” — ele gargalhou, voltando a organizar as coisas.

Me levantei, pegando minhas coisas e indo em direção ao quarto.

— Comigo é assim, meu filho. Tudo vira de cabeça pra baixo. — falei já no corredor. — Só espero que eu não apareça no jornal amanhã como "a doida do spray".

— Se aparecer, vou emoldurar a notícia — ele gritou do estúdio. — Vai ser minha nova obra-prima.

E eu entrei no meu quarto rindo, mas já sentindo o peso do dia no corpo. Meu mundo era um caos, sim, mas pelo menos era meu.

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