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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 178

Diogo

Estava na cobertura, próximo a janela que tomava toda a parede, encarando o mar de luzes lá embaixo. Era uma vista bonita, mas nada nesse momento conseguiria me manter calmo. Minha mente parecia um redemoinho, tentando buscar quem era esse Enrique Bastos.

Caminhei até o bar, servi um pouco de uísque e dei um gole sem pensar. O gosto queimava a garganta, mas não adiantava nada.

Ouvi o som do elevador se abrindo e me virei. Valter entrou, com o mesmo olhar atento de sempre. Ele podia ter envelhecido um pouco, mas ainda andava como se cada passo tivesse um propósito. Um soldado silencioso.

— Que bom que veio — falei, segurando o copo com força.

— Sempre que você me chama desse jeito, é porque coisa séria vem aí — ele respondeu, tirando o boné e colocando o celular no bolso. — O que aconteceu, Diogo?

Esperei alguns segundos, como se ainda estivesse reunindo coragem.

— Enrique Bastos, reconhece?

Valter parou no meio do movimento, franzindo a testa.

— Bastos? — repetiu, devagar. — Enrique Bastos… esse sobrenome…

— É o mesmo dela — completei, antes que ele precisasse dizer.

Ele se sentou devagar, como se o peso da lembrança tivesse puxado suas pernas.

— Me explica isso melhor.

Dei outro gole no uísque. O gelo tilintava no fundo do copo, quase me distraindo do nó no estômago.

— Há algumas semanas, comecei a receber mensagens anônimas. Ameaças veladas como “A verdade vai aparecer”, “você vai pagar pelo que fez”, esse tipo de coisa.

Valter assentiu, dando espaço para que eu continuasse.

— Pedi pro Jonas rastrear o número, porque achei que era trote, alguém querendo se aproveitar... — continuei. — Mas não. O número estava em nome de um cara chamado Enrique Bastos.

Valter se levantou, passou a mão no rosto e andou até a janela, como se o ar estivesse mais leve lá fora.

— Esse sobrenome… é demais pra ser coincidência. Pode ser parente.

— Eu sei. E esse cara tá querendo contar tudo pra todo mundo. Eu não sei o que ele sabe exatamente, mas se ele puxar o fio certo…

Valter se virou devagar com os olhos firmes em mim.

— Diogo… calma. Vamos resolver isso, quer que eu vá atrás dele?

— Quero que você vá até Nova Liberdade. O endereço que o Jonas achou tá lá. É uma cidade pequena, então talvez seja mais fácil descobrir alguma coisa.

— Entendido — ele assentiu, firme. — Vou ver quem é esse homem, o que ele quer e se ele tem mesmo alguma ligação com… com aquilo.

— Não esconde nada de mim, Valter. Qualquer coisa que descobrir, me fala na hora.

— Pode deixar — ele se aproximou e pousou a mão no meu ombro. — Mas escuta… tenta não se afundar nisso de novo. Você já ficou mal demais naquela época. Ninguém precisa te ver assim outra vez.

Engoli em seco e abaixei os olhos.

— Eu me culpo por tudo até hoje, você sabe disso. E se esse cara expõe o que aconteceu… eu não sei o que vai ser de mim, do Caleb, da minha mãe.

Valter apertou meu ombro.

— Ninguém vai descobrir, Diogo. Já se passaram tantos anos e a verdade… bem, tá enterrada. Como devia estar.

Levantei os olhos pra ele, sufocado.

— Mas esse Enrique desenterrou. De algum jeito, ele descobriu.

— Então ele procurou — respondeu Valter, com firmeza. — E se ele procurou, é porque tem motivos. Mas deixa comigo, eu vou dar um jeito.

Ele saiu alguns minutos depois, me deixando sozinho de novo com o silêncio.

Voltei pro bar, enchi o copo de novo. A noite lá fora seguia igual, mas dentro de mim, um pressentimento gelado já crescia. A mesma sensação que tive naquele dia.

.

***

O gosto do uísque ainda estava na minha boca quando a luz do sol bateu direto no meu rosto. Merda. Eu pisquei, minha cabeça estava pesada e o pescoço gritando de dor por ter dormido jogado no sofá da sala.

Levei a mão ao rosto, respirando fundo. A garrafa estava vazia na mesinha, e o celular caído no chão, ainda com a tela acesa, na foto dele.

Peguei o celular, passando a mão no rosto tentando afastar o sono e essa sensação estranha. Tantos anos se passaram, e agora tudo estava voltando.

Me sentei devagar, ainda sentindo o peso da noite anterior no peito. A conversa com Valter não tinha saído da minha mente. “Enrique Bastos.” O nome parecia ecoar na minha cabeça como uma ameaça viva.

Fui direto para o banho, tentando lavar a tensão junto com a ressaca, mas era inútil. Saí do chuveiro, vesti uma camisa clara, calça jeans escura, peguei a mochila de mão com o notebook e os documentos e a pequena mala e desci. Já era quase hora de ir para o aeroporto.

Enquanto dirigia para o aeroporto particular, minha mente fez o dever de me lembrar dela. Droga, ela me deu o número e pediu para eu ligar e simplesmente esqueci.

Alice deve estar me achando um completo idiota. O sinal fechou e peguei o celular, deslizando a lista de contato até o dela. Pimentinha. Um sorriso inevitável espancou os meus lábios. Lembrei da forma como ela me puxou naquele beco, do jeito como me beijou e dá risada ao ouvir a buzina da moto.

Aquilo me fez esquecer de qualquer coisa por uns bons minutos. Continuei dirigindo e ao chegar no aeroporto, peguei o celular novamente e abri a caixa de mensagem. Ainda é cedo, apenas 6:34 da manhã, mas eu precisava mandar uma mensagem agora ou ia acabar deixando passar de novo.

“Bom dia, Pimentinha.

Me desculpa por não ter mandado mensagem ontem. O dia foi... pesado e cabei indo dormir tarde (ou melhor, nem dormi direito).

Capítulo 016 - Diogo 1

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