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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 250

Cap.88

(Diogo)

Parei o carro a alguns metros da casa. O motor ainda roncava baixo, mas dentro de mim parecia haver um trovão. Apertei o volante com força, respirando fundo, tentando segurar a raiva que queimava em cada músculo do meu corpo.

Desci devagar, seguido pelos três homens de confiança que escolhi trazer. Não precisava de mais do que isso. Olhei em volta, analisando o cenário.

A casa era grande. Fachada pintada de branco, vidro fumê nas janelas, jardim bem cuidado, portão eletrônico. Um carro importado parado na garagem, brilhando como se tivesse saído da concessionária ontem.

O contraste era um soco no estômago, eles viviam no luxo, cercados de conforto, enquanto meu filho, o meu filho, estava magro, com roupas rasgadas, passando fome e sendo humilhado naquele colégio imundo.

Senti o maxilar travar e meus punhos coçavam para quebrar alguma coisa.

— Se posicionem. — falei baixo, sem tirar os olhos da casa.

Um deles se aproximou.

— Quer que a gente cubra possíveis rotas de fuga?

Assenti. — Isso, um pelos fundos, outro na lateral. Fiquem atentos e ninguém entra, ninguém sai.

Eles se afastaram em silêncio, cada um tomando sua posição. O terceiro permaneceu mais perto de mim, pronto para reagir ao menor sinal.

Fiquei ali, observando a fachada da casa mais alguns segundos, tentando controlar a respiração. Mas cada detalhe que eu via me dava a certeza de que Lurdes e Renato estavam desfrutando do dinheiro que eu mandava para o bem-estar do meu filho.

O sangue me subiu à cabeça. Não era apenas raiva. Era indignação, dor e culpa.

— Eles vão pagar. — murmurei para mim mesmo, a voz quase um rosnado.

Eu já estava quase no portão quando ouvi o motor de um carro se aproximando. Parei, instintivamente me escondendo um pouco na sombra de uma árvore. O portão eletrônico começou a se abrir, devagar, e logo vi a frente do carro avançando para dentro da garagem.

Apressei o passo. Antes que Renato pudesse cruzar por completo, bati firme na janela dele.

Ele baixou o vidro com cara de quem ia reclamar, mas quando me viu… os olhos se arregalaram, e a cor sumiu do rosto dele.

— S-senhor Diogo… — gaguejou.

Abriu a porta com tanta pressa que quase tropeçou ao sair do carro. Ficou ali, parado, nervoso, a mão suando no trinco da porta.

— O que… o que o senhor está fazendo aqui?

Forcei um sorriso. O tipo de sorriso que eu sabia que gelava qualquer um.

— Só vim ver como o Lucas está indo.

O nome saiu da minha boca com firmeza. E eu vi, nitidamente, o baque nele.

Renato piscou, nervoso, a boca seca.

— L-Lu… Lucas? — repetiu, como se tivesse ouvido errado.

— É. — confirmei, cruzando os braços. — Sabe, de repente bateu uma culpa por eu ser tão ausente… o garoto ainda não precisa saber quem eu sou de verdade. Só quero ver como ele está.

O suor brotou na testa dele.

— A-ah, sim, claro… o coitado… ficou doente recentemente. — tentou disfarçar, a voz falhando. — Uma semana acamado, pobrezinho.

Minha raiva latejou, mas mantive a máscara.

— Entendo. — balancei a cabeça lentamente, olhando direto para ele. — Então ele está em casa? Posso vê-lo?

Renato engoliu em seco.

— N-não, não… ele está na escola agora.

— Ah. — arqueei a sobrancelha. — E como estão as notas dele? — perguntei, dando mais um passo à frente. — Qual mesmo o nome da escola onde ele estuda?

O silêncio que seguiu foi revelador. Renato olhou para os lados, tentando ganhar tempo, mas antes que ele abrisse a boca, a voz de Lurdes ecoou da entrada da casa:

— Renato? Quem é aí?

Ela apareceu no batente da porta e quando os seus olhos me encontraram… quase tropeçou para trás. Ficou pálida como papel.

— S-senhor Diogo… — gaguejou, o teatro mal começando. — O que… o que o senhor faz aqui?

Renato, desesperado, tomou a frente.

— Ele só veio saber se o menino melhorou… que estava doente.

Aquela mentira nojenta quase me fez perder o controle.

Lurdes então forçou um sorriso, puro teatro barato, e assentiu.

— Sim, sim… ele melhorou, graças a Deus. Já foi até para a escola.

Ficaram os dois me encarando, tentando sustentar a encenação. Eu avancei mais um passo, e os dois quase se encolheram.

— Vocês não vão me convidar pra uma água? — perguntei, mantendo a voz calma, quase cordial.

Eles trocaram olhares nervosos. Até que Lurdes, engolindo seco, abriu espaço na porta.

— C-claro, senhor Diogo. Entre, por favor.

Passei por ela devagar, observando cada detalhe. A casa era ampla, cheirava a produto importado. Lurdes usava roupas de grife, unhas feitas, cabelo bem tratado. Renato… usava no pulso um relógio caríssimo. Eu conhecia aquela marca.

A cada detalhe, minha raiva crescia. Cada centavo que eu mandei para o bem-estar do meu filho estava ali, estampado naquele luxo ridículo.

Entrei e o ar-condicionado estava ligado no máximo, o cheiro de ambientador caro impregnava o lugar. O piso de mármore refletia a luz dos lustres, e cada móvel parecia escolhido em catálogo de revista.

Engoli seco, não pela beleza do lugar, mas pela revolta. O contraste com aquele colégio imundo onde eu vi meu filho pela última vez era grotesco.

— A casa de vocês é… impressionante. — comentei, o tom neutro, mas cada palavra cortava. — Bom gosto… e caro.

Renato forçou uma risada nervosa. — Ah… é… a gente… tem feito uns investimentos…

Forçando um sorriso, me abaixei ligeiramente.

— Sou um amigo da família. — estendi a mão, e o mais velho a apertou, desconfiado, mas sem medo. O menor parou de chorar quando Lurdes, aflita, tirou a farpa do dedo dele.

Olhei fixamente para ela. — Pensei que eles estivessem na escola, como você acabou de me dizer.

Ela gaguejou, perdida, mas antes que pudesse inventar, o mais velho respondeu com naturalidade.

— Estamos de férias. Estávamos num acampamento muito legal.

Minha sobrancelha arqueou sozinha.

— Entendi. — virei os olhos para Lurdes, que já parecia prestes a desmaiar. — Então achei que estudassem com o Lucas…

O menor balançou a cabeça.

— Não, ele não estuda com a gente.

O mais velho fez uma careta e completou sem filtro.

— A escola dele é ruim e fede.

As palavras dele foram como lâminas enfiadas na minha carne. Olhei para Renato e Lurdes, que estavam congelados, a máscara de teatro se esfarelando.

Me forcei a manter a voz calma.

— E qual é a diferença, exatamente? — perguntei, interessado.

O menino mais velho começou a falar, orgulhoso.

— A nossa escola é boa, tem brinquedoteca, cinema, a gente come lanche bom todo dia. É cara. A do Lucas tá caindo aos pedaços. Eu já pedi pra mãe colocar ele na nossa escola, mas ela sempre fala que não pode, que não tem dinheiro.

Um arrepio percorreu minha espinha e eu sentia o sangue latejar nos meus ouvidos.

— Chega! — Lurdes interrompeu, com a voz trêmula. — Subam agora pro quarto!

— Mas, mãe… — protestaram.

— Agora! — gritou, quase em pânico.

Os dois resmungaram, mas obedeceram, subindo correndo as escadas. O som das passadas desapareceu, e a casa mergulhou num silêncio sufocante.

Lurdes tentou abrir a boca.

— Senhor Diogo, eu posso explicar…

Renato se aproximou, com as mãos erguidas, suando frio. — N-nós não queríamos…

Não deixei terminar. O próximo movimento foi instintivo quando cerrei o punho e acertei um soco certeiro no rosto dele. O impacto foi seco e o estalo dos ossos ecoou pelo ambiente. Renato caiu no chão de lado com o nariz sangrando imediatamente.

— Meu Deus! — Lurdes gritou, com as mãos indo à boca. — Não!

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