Meu peito subia e descia em fúria. Eu o encarei estendido no chão, gemendo, o sangue escorrendo pelo mármore branco.
— Vocês dois vão me ouvir agora. — minha voz saiu grave, controlada, mas carregada de ameaça.
Renato gemia no chão, tentando estancar o sangue que escorria pelo nariz. Lurdes tremia de pé, pálida, encostada na parede como se quisesse desaparecer dentro dela.
Me aproximei dela, vendo-a tentar recuar ainda mais.
— Sabe o que mais me dá nojo? — minha voz saiu grave, vibrando com o peso da raiva. — É olhar em volta dessa casa e ver cada maldito detalhe de luxo que vocês compraram com o dinheiro que eu mandei… acreditando que estavam cuidando do meu filho.
Ela tentou falar algo, mas levantei a mão, cortando. — Cala a boca! — o grito saiu tão forte que até Renato parou de gemer. — Vocês vivem cercados de joias, roupas de grife, relógios caros… enquanto o menino que deveria ser tratado como filho de vocês apodrecia num colégio de quinta categoria. — Cuspi as palavras, sentindo a garganta queimar. — Lucas não tinha comida decente, cama decente, não tinha nada!
Dei alguns passos pela sala, tentando não explodir mais do que já tinha feito. Minhas mãos fechavam e abriam em punhos.
— Eu vi os filhos de vocês agora há pouco. Bonitos, saudáveis, bem alimentados… sem nunca conhecer o que é passar frio, nem ouvir um não pra uma mochila nova ou precisar dormir com fome. — Respirei fundo. — E Lucas? O que ele tinha, Lurdes? O que ele tinha além da maldita indiferença de vocês?
Ela chorava, as lágrimas correndo pelo rosto. — Eu… eu não queria…
— Não queria?! — avancei um passo, a fazendo recuar. — Você teve todas as escolhas do mundo! Te dei dinheiro suficiente pra criar três, quatro crianças sem nunca trabalhar na vida! E ainda assim, o que fez? Jogou o meu filho num buraco imundo, tratou como sobra, como fardo! Você desprezou o único motivo de estar tendo essa vida que gosta!
Minha voz falhou por um segundo, mas não de fraqueza, era de dor, arrependimento.
— Sabe o que é pensar nele todas as noites? — bati no peito. — Mas eu imaginava que ele estava sendo bem cuidado. Eu só pedi essa merda para vocês, que cuidassem bem do meu filho! Mas não, ele passou esse tempo todo sozinho, ninguém o protegia, e nem o abraçava quando ele chorava.
Meu corpo inteiro tremia. A vontade de acabar com eles ali, naquele momento, era como fogo queimando sob minha pele. Mas respirei fundo, forçando a mente a se manter fria. Não podia dar esse gosto a eles.
Apontei para Renato, caído.
— Se fosse homem de verdade, já tinha feito o mínimo. Mas não, preferiu encher a barriga e se vestir bem enquanto um garoto era tratado como lixo.
Voltei o olhar para Lurdes, fixo, sem piscar. — Vocês são desgraçados. E vão pagar, palavra por palavra, centavo por centavo. Não existe luxo suficiente nessa vida que compense o inferno que eu vou trazer pra cima de vocês.
O silêncio que se seguiu foi pesado, quebrado apenas pelo choro abafado dela e pelos gemidos baixos de Renato no chão.
Eu respirei fundo, tentando controlar o sangue que fervia nas veias. — A diferença entre eu e vocês… é que eu não bato em mulher. Mas não pense que isso te protege. — dei um meio sorriso frio. — Porque a justiça que eu vou trazer… não tem gênero e não tem piedade.
Cada detalhe daquela casa gritava mentira, conforto roubado às custas da dor do meu filho.
— Sabe o que é mais incrível? — comecei devagar, caminhando lentamente pela sala, deixando que cada palavra caísse como pedra sobre eles. — É que vocês viviam convencidos de que eu nunca iria descobrir. Que uma foto sorridente a cada dois meses seria suficiente pra me enganar.
Lurdes engoliu em seco e Renato não ousava levantar o rosto. Eu podia ver cada micro reação deles, cada movimento desesperado tentando parecer natural. Mas era tarde demais. Eu já estava dentro da mente deles, e a sensação de poder me deu um frio na espinha.
— Eu sei de tudo. — disse, finalmente. — Sei sobre a escola caindo aos pedaços. Sei sobre a comida ruim, os castigos, os professores que batiam. Sei que vocês enviaram fotos falsas, planejadas, sorridentes, como se ele estivesse vivendo num paraíso. — A cada palavra, senti o coração acelerar, a raiva borbulhando por dentro. — Sei que desviaram o dinheiro que deveria garantir a educação, o conforto e a saúde dele. Cada centavo que eu mandei foi usado pra criar uma fantasia enquanto meu filho apodrecia.
Lurdes engoliu em seco, e Renato tremeu, levantando o rosto com os olhos arregalados. Eu podia ver o medo crescendo, e isso era só o começo.
— Vocês vivem num castelo de mentiras — continuei, a voz agora firme, carregada de fúria contida — enquanto meu filho sofria. — E eu… eu estou aqui para corrigir isso. E não pensem que vão escapar. Não há dinheiro, nem lábios falsos, nem mentiras que me mantenham cego. Eu sei tudo.
O ar na sala parecia denso, quase sufocante. Cada respiração deles era pesada, tensa. Eu dei um passo para trás, deixando que o impacto das minhas palavras os esmagasse.
— Então, contem-me… como se sentem sabendo que foram descobertos? — perguntei, cada sílaba deliberada, cada pausa calculada. — Porque a partir de agora, a única coisa que vai definir o futuro de vocês é o que eu decidir.
Eles ficaram em silêncio, as mãos tremendo, incapazes de reagir.
— Agora, vamos esclarecer algumas coisas. — minha voz baixa, mas firme, cortou o ar como uma lâmina. — Quero que cada mentira, cada centavo desviado, cada desculpa esfarrapada saia da boca de vocês. E quero que seja completa.
Lurdes engoliu em seco, o colar de pérolas batendo levemente contra a pele dela. Renato suava frio, as mãos tremendo. Eu dei um passo em direção à mesa, apoiando ambas as mãos sobre ela, inclinando o corpo levemente pra frente e mantendo o contato visual. O celular estava posicionado, gravando tudo.
— Primeiro, a escola. Quero o nome correto. — Olhei para Renato. — Não tente inventar nada. Quero saber onde meu filho realmente está, e o que vocês fizeram com ele.
Renato respirou fundo, tentando recuperar algum controle, mas a voz saiu trêmula:
— É… é o Colégio Santa Clara… ele… ele estuda lá…
— Interessante — disse, calmamente, quase como se elogiando a coragem dele de falar. — E as condições? Alimentos, higiene, professores… como estavam tratando meu filho?
Lurdes engoliu em seco, os olhos arregalados.
— Ele… ele recebia comida… normal… — começou a gaguejar. — Roupas… ele tinha… roupas…
— Mentira! — interrompi, a raiva irrompendo, mas ainda controlada. — Eu sei que ele passava fome, frio e medo! Que os professores batiam, que ele era castigado! Cada centavo que mandei, cada cuidado que pensei que estava garantindo, foi usado para o conforto de vocês!
Renato e Lurdes trocaram um olhar, desesperados.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...