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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 255

Minha garganta ardeu de tanto tempo sem falar, mas soltei as palavras entre dentes, com raiva.

— Você acha mesmo que “desculpa” resolve alguma coisa, Enrique? Me sequestrar… trazer pra esse buraco… você perdeu completamente o juízo.

Os olhos dele desviaram por um instante e aproveitei para olhar melhor. Mesmo de camisa, dava pra ver o volume de um curativo no peito e não era só isso. Ele falava e se movia com dificuldade, como se cada passo fosse um esforço.

— Não tinha outro jeito — murmurou. — As coisas fugiram do controle.

— Fugiram do controle porque você quis — rebati, encarando direto. — Não vem bancar a vítima agora.

Ele me olhou com um ódio tão frio que parecia cortar e sua voz saiu baixa, cheia de desprezo.

— Você é tão idiota, Alice. — disse ele. — Não achou que eu fosse perceber que você se juntou com o homem que matou a Mádila?

Meu corpo enrijeceu. Tudo que eu queria era não deixar as palavras dele entrarem na minha cabeça. Não ia dar espaço pra isso, mas ainda assim, ouvi cada sílaba como se ele as cuspisse na minha cara.

— Do que você tá falando? Eu não fiz nada escondido, não sou você!— tentei manter a voz firme.

Ele sorriu, escarnecedor.

— Você não tem vergonha, né? Sua consciência não pesa? Foi a Mádila que te amou quando ninguém mais fazia isso na sua infância. A única que se importou com você quando era criança, e agora tem a coragem de ficar com aquele desgraçado? Se deitar com o homem que matou a sua prima!

Desviei o olhar, não ia aceitar aquela culpa empurrada pra mim. Respirei fundo e falei, olhando direto para ele.

— Eu vi, Enrique. O Diogo tem tudo registrado. As agressões, chantagens, tudo o que a Mádila fez com ele. Ele tem provas.

O sorriso dele virou raiva. Num movimento rápido, Enrique agarrou meu queixo com força de forma brutal e senti a pele endurecer sob seus dedos, os olhos ficando vermelhos, como se fosse sair fogo deles. Ele puxou o ar com força, como se cada palavra custasse.

— Você é uma desgraçada, filha da puta. — rosnou. — Você merece morrer. Só não te mato porque a minha irmã… ela não ia querer.

Aquelas palavras caíram como uma lâmina. Eu senti a garganta queimar de raiva e, num impulso que veio do fundo do peito, cuspi no rosto dele. A saliva atingiu a sua pele e, por um segundo, houve somente o som do meu coração martelando.

Enrique não perdoou, sua mão se ergueu e deu me um tapa tão forte que tudo rodopiou, o calor do impacto e a dor explodiram no meu rosto. Ele se levantou num ímpeto e chutou um balde que estava em um canto. Ele respirava com dificuldade, pela raiva e dor.

— Você vai assistir o seu namorado morrer — anunciou, com voz dura.

— Não faz nada com o Diogo! — gritei, a resposta saindo de mim sem pensar.

Ele riu, um som triste e cruel, e de repente ficou sério.

— Cala a boca. — ordenou e se virou para o Yuri. — Leva ela pro quarto.

Yuri me agarrou pelo braço sem cerimônia e me arrastou por um corredor escuro até um quarto imundo. A porta bateu com força atrás de nós e eu fui jogada para dentro. O quarto fedia a fezes e senti meu estômago revirar. O sofá rasgado, o colchão sujo, tudo ali gritando abandono.

— Eu nunca pensei que você teria coragem de fazer isso comigo — eu disse, olhando pra ele, a voz cortada pela dor de ver meu irmão ali.

Yuri sorriu, um sorriso tão frio que me deu um calafrio.

— Sempre tentei me livrar de você — falou baixo, e a maldade em sua voz me fez recuar. — Nenhum acidente era por acaso. Chaves que sumiam, remédios que "desapareciam"...

Meus dedos agarraram a saia com força. Não lembrava de tudo com clareza, mas a acusação havia uma pontada de verdade terrível. Minha mão apertou mais e as unhas cravaram o tecido.

— Vamos ligar pro seu namoradinho — falou, jogando a ameaça como se fosse um troféu. — Você se comporta, entendeu? Enrique tem pena de machucar você, mas eu… eu não tenho essa pena.

Fiz que sim com a cabeça, por educação de refém. Estava conseguindo soltar a corda, não seria burra o suficiente de provocá-lo e ele acabar me tirando daquela posição.

— Enrique volta daqui a pouco e é melhor você não aprontar. — ele deu uma risada curta, mal disfarçada.

A raiva me subiu como uma chama. Olhei pra ele de canto, e disse com a pouca voz que me restava.

— Eu te odeio, Yuri.

Ele sorriu, como se aquela confissão fosse música.

— É recíproco — respondeu, com uma frieza que me cortou.

Ele se virou e saiu, o som das botas ecoando no corredor. A porta bateu e por um segundo fiquei imóvel, ouvindo os passos sumirem. Quando o silêncio voltou, acelerei o movimento. Esfreguei a corda com força, mais rápido, usando a borda da madeira como lâmina. O nó começou a ceder: um fio se soltou, depois outro. A dor nas mãos era tremenda, como quando se rala a pele, mas eu só pensava em um pequeno ponto de metal frio encostado na minha perna.

Precisei tirar a cabeça do pensamento do medo e focar na técnica, puxava a corda, raspava, girava o pulso e forçava com o ombro. Se eu me apressasse demais, faria barulho; se fosse lenta demais, correria o risco de ser pega.

O fio maior cedeu e um sopro de ar quente atravessou minha boca, contei mentalmente até três e puxei com tudo o que tinha. A corda rangeu e senti o nó afrouxar. Meu coração deu um pulo de alegria controlada. Eu estava livre, mas tinha que agir com inteligência… pelo o que vi, tinham pelo menos seis homens lá fora, sem falar de Enrique e Yuri, não tinha como simplesmente correr e sair atirando em qualquer um.

Fiquei onde estava, segurando as cordas, agora soltas, no meu pulso para o caso deles voltarem.

Pensa Alice… o que você deve fazer agora?

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