Meus dedos ainda tremiam ao segurar a arma escondida atrás do corpo. A corda solta, mas firme na minha mão, dava a impressão de que eu continuava presa. O coração parecia querer atravessar meu peito de tanta força que batia. Respirei fundo, tentando não demonstrar nada, tentando segurar a raiva e o medo no mesmo lugar. Eu tinha pensado em algo, talvez não desse nada, fosse algo que Enrique já superou, mas eu precisava pelo menos desestabilizar eles.
A porta rangeu, e meu corpo inteiro gelou. Yuri entrou primeiro, com aquele jeito arrogante e cheio de si, e logo atrás dele veio Enrique. O seu rosto estava mais pálido que antes, com suor escorrendo pela testa, e mesmo assim ele sorria, um sorriso que mais parecia raiva disfarçada de calma. A nova mancha escura de sangue no peito só provava que o tiro de Diogo tinha deixado marcas. Ele não devia nem estar de pé, mas estava. Porque o ódio, eu descobri, mantém pessoas vivas.
Ele puxou uma cadeira e se sentou na minha frente, apoiando o peso com um gemido quase imperceptível. Então sorriu mais largo.
— Agora você vai ligar para o seu namoradinho… — a voz dele saiu baixa, ameaçadora, mas com um fiapo de cansaço. — Vai dizer a ele onde exatamente está. Eu sei que ele vem correndo atrás de você. E quando vier… eu acabo com aquele desgraçado.
Um arrepio percorreu minha espinha, mas não demonstrei. Só respirei fundo e virei os olhos para Yuri, como se estivesse rindo por dentro. Depois voltei meu olhar para Enrique.
— Antes de toda essa merda acontecer… — falei devagar, engolindo a saliva para controlar o tom — antes de todo mundo aqui morrer, acho que você devia saber de uma coisa. Uma coisa que te machucou muito no passado.
Ele franziu a testa, com os olhos desconfiados.
— Do que você tá falando? Para de enrolar, Alice.
Neguei com a cabeça, fingindo pesar, como se me doesse falar e suspirei.
— Você lembra, Enrique? Daquela vez que seu pai te deu uma surra na frente da escola inteira? Tirou tudo de você, te deixou trancado em casa, isolado… porque acusou você de roubo?
Eu vi. Vi a raiva nascer nos olhos dele, misturada com algo mais profundo, dor. O maxilar dele travou.
— E o que isso tem a ver? — rosnou, quase cuspindo as palavras.
Foi aí que eu sorri. Lentamente, olhando de relance para Yuri antes de voltar os olhos em Enrique.
— Aquilo não foi você e sim, ele. Foi o Yuri quem roubou.
O efeito foi imediato. Enrique levantou da cadeira num rompante, o rosto se contorcendo de choque e girou o corpo para Yuri, com a respiração pesada, como se o ar queimasse nos pulmões.
— É verdade? — a voz dele quebrou, carregada de fúria. — Foi você?!
Yuri empalideceu, gaguejando, negando com a cabeça.
— Ela tá mentindo! Tá blefando, Enrique! É tudo mentira dela, não acredita!
Mas eu não parei. Abaixei um pouco a cabeça, como se lembrasse de algo distante, e murmurei:
— Você se lembra, Enrique? Um dia antes do roubo… Yuri foi na sua casa, disse que ia levar de volta aquele brinquedo que você tinha esquecido na nossa casa… — ergui os olhos, fixando os dele com firmeza. — Mentira. Ele só ouviu seu pai falando onde o dinheiro estava guardado e foi lá pegar.
O silêncio que caiu parecia um trovão prestes a explodir. Enrique parou por um instante, respirando pesado, as mãos trêmulas, até dar um passo em direção a Yuri, os olhos vermelhos de raiva.
Eu sentia meu coração martelar dentro do peito quando vi Yuri se mover. Por um instante, pensei que ele fosse desmaiar de nervoso, mas não… o desgraçado puxou uma arma que escondia na cintura.
— Fica quieta, Alice! — ele gritou, sua mão tremendo tanto que parecia que a qualquer segundo a arma ia cair.
Meu sangue gelou e eu mal conseguia respirar. Senti minhas pernas travarem, o medo me prendendo ao chão.
Enrique, no entanto, parecia calmo. Como se nada fosse capaz de abalá-lo. Ele soltou uma risada curta, quase debochada, e em seguida puxou uma arma também, apontando direto para Yuri.
O pânico me atravessou. Um segundo e estávamos todos na mira.
De repente, Yuri virou a arma pra mim, os olhos esbugalhados, a voz saindo num grito histérico:
— Isso é culpa sua! — ele cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Culpa sua, Alice! Da porra da tua doença, dos remédios caros, de a gente nunca ter dinheiro pra nada! Você devia ter morrido quando nasceu!
Senti uma dor tão profunda que minhas mãos gelaram. Eu só conseguia encará-lo com o coração se despedaçando, sem conseguir responder.
— Cala a boca, idiota! — Enrique berrou, furioso, mirando firme em Yuri.
Meu irmão tremeu mais ainda, parecia prestes a chorar, e voltou a apontar a arma para Enrique.
— Eu não quero confusão contigo, Enrique… — ele balbuciou, a voz quebrada. — Eu só quero o dinheiro do acordo… os vinte milhões… e eu sumo, eu juro!
Enrique começou a rir. Não era uma risada normal, era baixa, lenta, maldosa… tanto que os pelos da minha nuca se arrepiaram.
— Dinheiro? — ele repetiu, caminhando devagar na direção de Yuri, como um predador. — Que porra de dinheiro, moleque?
— Você… você prometeu! — Yuri gaguejou, a respiração dele falhando. — Vinte milhões! Disse que ia tirar do Diogo, que ia me pagar!
Enrique ergueu a cabeça com o sorriso frio estampado no rosto e continuou andando. Yuri se encostou contra a parede, acuado, quase sem espaço pra respirar.
— Você é tão burro que chega a dar pena. — Enrique falou num tom baixo, gelado. — Só foi útil pra trazer tua irmã pra cá e atrair o desgraçado do Diogo. Agora… eu não preciso mais de você.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....