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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 257

Meus dedos ainda tremiam ao segurar a arma escondida atrás do corpo. A corda solta, mas firme na minha mão, dava a impressão de que eu continuava presa. O coração parecia querer atravessar meu peito de tanta força que batia. Respirei fundo, tentando não demonstrar nada, tentando segurar a raiva e o medo no mesmo lugar. Eu tinha pensado em algo, talvez não desse nada, fosse algo que Enrique já superou, mas eu precisava pelo menos desestabilizar eles.

A porta rangeu, e meu corpo inteiro gelou. Yuri entrou primeiro, com aquele jeito arrogante e cheio de si, e logo atrás dele veio Enrique. O seu rosto estava mais pálido que antes, com suor escorrendo pela testa, e mesmo assim ele sorria, um sorriso que mais parecia raiva disfarçada de calma. A nova mancha escura de sangue no peito só provava que o tiro de Diogo tinha deixado marcas. Ele não devia nem estar de pé, mas estava. Porque o ódio, eu descobri, mantém pessoas vivas.

Ele puxou uma cadeira e se sentou na minha frente, apoiando o peso com um gemido quase imperceptível. Então sorriu mais largo.

— Agora você vai ligar para o seu namoradinho… — a voz dele saiu baixa, ameaçadora, mas com um fiapo de cansaço. — Vai dizer a ele onde exatamente está. Eu sei que ele vem correndo atrás de você. E quando vier… eu acabo com aquele desgraçado.

Um arrepio percorreu minha espinha, mas não demonstrei. Só respirei fundo e virei os olhos para Yuri, como se estivesse rindo por dentro. Depois voltei meu olhar para Enrique.

— Antes de toda essa merda acontecer… — falei devagar, engolindo a saliva para controlar o tom — antes de todo mundo aqui morrer, acho que você devia saber de uma coisa. Uma coisa que te machucou muito no passado.

Ele franziu a testa, com os olhos desconfiados.

— Do que você tá falando? Para de enrolar, Alice.

Neguei com a cabeça, fingindo pesar, como se me doesse falar e suspirei.

— Você lembra, Enrique? Daquela vez que seu pai te deu uma surra na frente da escola inteira? Tirou tudo de você, te deixou trancado em casa, isolado… porque acusou você de roubo?

Eu vi. Vi a raiva nascer nos olhos dele, misturada com algo mais profundo, dor. O maxilar dele travou.

— E o que isso tem a ver? — rosnou, quase cuspindo as palavras.

Foi aí que eu sorri. Lentamente, olhando de relance para Yuri antes de voltar os olhos em Enrique.

— Aquilo não foi você e sim, ele. Foi o Yuri quem roubou.

O efeito foi imediato. Enrique levantou da cadeira num rompante, o rosto se contorcendo de choque e girou o corpo para Yuri, com a respiração pesada, como se o ar queimasse nos pulmões.

— É verdade? — a voz dele quebrou, carregada de fúria. — Foi você?!

Yuri empalideceu, gaguejando, negando com a cabeça.

— Ela tá mentindo! Tá blefando, Enrique! É tudo mentira dela, não acredita!

Mas eu não parei. Abaixei um pouco a cabeça, como se lembrasse de algo distante, e murmurei:

— Você se lembra, Enrique? Um dia antes do roubo… Yuri foi na sua casa, disse que ia levar de volta aquele brinquedo que você tinha esquecido na nossa casa… — ergui os olhos, fixando os dele com firmeza. — Mentira. Ele só ouviu seu pai falando onde o dinheiro estava guardado e foi lá pegar.

O silêncio que caiu parecia um trovão prestes a explodir. Enrique parou por um instante, respirando pesado, as mãos trêmulas, até dar um passo em direção a Yuri, os olhos vermelhos de raiva.

Eu sentia meu coração martelar dentro do peito quando vi Yuri se mover. Por um instante, pensei que ele fosse desmaiar de nervoso, mas não… o desgraçado puxou uma arma que escondia na cintura.

— Fica quieta, Alice! — ele gritou, sua mão tremendo tanto que parecia que a qualquer segundo a arma ia cair.

Meu sangue gelou e eu mal conseguia respirar. Senti minhas pernas travarem, o medo me prendendo ao chão.

Enrique, no entanto, parecia calmo. Como se nada fosse capaz de abalá-lo. Ele soltou uma risada curta, quase debochada, e em seguida puxou uma arma também, apontando direto para Yuri.

O pânico me atravessou. Um segundo e estávamos todos na mira.

De repente, Yuri virou a arma pra mim, os olhos esbugalhados, a voz saindo num grito histérico:

— Isso é culpa sua! — ele cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Culpa sua, Alice! Da porra da tua doença, dos remédios caros, de a gente nunca ter dinheiro pra nada! Você devia ter morrido quando nasceu!

Senti uma dor tão profunda que minhas mãos gelaram. Eu só conseguia encará-lo com o coração se despedaçando, sem conseguir responder.

— Cala a boca, idiota! — Enrique berrou, furioso, mirando firme em Yuri.

Meu irmão tremeu mais ainda, parecia prestes a chorar, e voltou a apontar a arma para Enrique.

— Eu não quero confusão contigo, Enrique… — ele balbuciou, a voz quebrada. — Eu só quero o dinheiro do acordo… os vinte milhões… e eu sumo, eu juro!

Enrique começou a rir. Não era uma risada normal, era baixa, lenta, maldosa… tanto que os pelos da minha nuca se arrepiaram.

— Dinheiro? — ele repetiu, caminhando devagar na direção de Yuri, como um predador. — Que porra de dinheiro, moleque?

— Você… você prometeu! — Yuri gaguejou, a respiração dele falhando. — Vinte milhões! Disse que ia tirar do Diogo, que ia me pagar!

Enrique ergueu a cabeça com o sorriso frio estampado no rosto e continuou andando. Yuri se encostou contra a parede, acuado, quase sem espaço pra respirar.

— Você é tão burro que chega a dar pena. — Enrique falou num tom baixo, gelado. — Só foi útil pra trazer tua irmã pra cá e atrair o desgraçado do Diogo. Agora… eu não preciso mais de você.

Meu corpo tremia sem controle, entre o medo, a raiva e a dor.

A cada tiro lá fora meu peito saltava como se fosse explodir. Não dava pra ficar ali parada. As paredes rangiam, as tábuas estouravam de cada bala que passava. Eu não sabia se a minha arma ainda tinha munição e não confiava, então arrastei o corpo pelo chão, raspando os joelhos, até alcançar Yuri. Peguei a arma com as mãos trêmulas sentindo o metal quente pelo sangue dele.

Uma lágrima insistente escorreu pelo meu rosto e me inclinei, fechando seus olhos por um segundo e sussurrei, engolindo o choro:

— Seu idiota… — murmurei. — Sempre foi um idiota. Mas eu não queria que você morresse.

A raiva por Enrique queimava como ácido. Levantei a cabeça, sentindo a arma pesada na palma, e me movi em direção à porta do quarto. Escorreguei pela fresta, espiando. O corredor estava um caos com ao menos dois corpos no chão, imóveis. Havia sinais de luta, manchas de sangue, um pedaço de madeira quebrado. O cheiro de pólvora e de ferro era sufocante.

Aproximei-me, passo por passo, tentando não fazer barulho, mas foi o suficiente para que um dos homens caídos agarrasse minha perna. O susto foi tão grande que dei um chute automático no rosto dele. O baque ecoou por todo o cômodo e ele gemeu, largado a minha perna. Não sei se o chute havia o matado e por favor, espero que não, só sei que ele se afastou, sem forças.

Me coloquei encostada numa parede, o corpo todo doendo e respirando com dificuldade. Ouvi passos apressados. Segurei a arma com força, tentando controlar a mão que tremia como vara de vela. Não podia ser Enrique. Respirei fundo, pedindo a Deus por sorte.

O homem alto que eu já conhecia, aquele o brutamontes do braço ferido, passou correndo, e por um segundo não me viu. Quando virou, parou, os olhos dele varreram o corredor e então baixaram até mim. Um sorriso cruel se formou no seu rosto.

— Olha só o que temos aqui — ele rosnou, a voz grossa enchendo o espaço. — A vadia teve coragem de sair. Vai morrer por isso.

Ele ergueu a arma e apontou e meu coração foi pro chão. Tudo aconteceu num instante quando eu me lembrei das palavras do Diogo sobre não hesitar quando a vida tá em jogo, lembrei do calor do bebê dentro de mim, lembrei do Yuri caído. A responsabilidade me queimou.

Fiz o que tinha que fazer. Mirei, mais pelo instinto do que por técnica, e apertei o gatilho. O som me explodiu nos ouvidos e um estouro tão perto que parecia que a cabeça ia rachar. O homem cambaleou para trás, agarrando o abdômen, mas atirou de volta no mesmo segundo. Vi a bala riscar a madeira ao meu lado, passando a centímetros da minha cabeça. O vento daquele projétil me cortou a orelha.

— Sua… — ele rugiu, e a cena se transformou em uma coreografia de morte e reflexo.

Me abaixei instintivamente atrás da parede, o coração batendo feroz. As pernas tremiam, meu rosto estava molhado de suor e lágrimas. Respirei fundo, contando até três, e então me recompus. Não tinha tempo para pavor.

Olhei pelo canto, vi o brutamontes tropeçar, o tiro que eu dei havia acertado o abdômen. Ele caiu por cima do homem que eu havia chutado antes, gemendo, xingando. O sangue começou a se espalhar, e a visão dele se tornou um borrão de dor.

Aproveitei o momento e corri. Não pensei direito, não pensei em nada além de ir embora daquele lugar. A madeira rangia sob meus pés, e cada respingo de som, um gemido, um estalo de tábuas, um grito distante que parecia uma sentença. Passei por entre corpos e sob móveis quebrados, puxando a arma comigo, sentindo o frio do metal que me lembrava que aquilo ali era real demais.

— Alice! — ouvi alguém gritar, uma voz que me arrancou pra fora do nublado. Não era a voz de Enrique; era outra, mais profunda, um vulto de esperança. — Fica aí!

Mas eu não pude ficar. Continuei correndo, com o coração na boca, o hímen do medo apertando a garganta, sabendo que cada segundo podia ser o último. Cada passo era adrenalina pura, um misto de culpa, raiva e vontade de viver.

Eu precisava achar o Diogo. Precisava sair dali viva. E precisava, acima de tudo, proteger o que crescia dentro de mim.

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